O Regulamento Geral das Competições do MotoGP para 2016
incluiu uma série de controles para evitar, nesta temporada, os fatos ocorridos
no final de 2015. Existem regras rígidas condicionando o comportamento de
equipes e pilotos, penalizações por declarações à imprensa, ausência em
encontros promovidos pelos organizadores e/ou patrocinadores e outros
procedimentos que que possam prejudicar o campeonato.
A abertura da temporada foi no último domingo e os
resultados na pista não foram muito diferentes do ano anterior, a corrida foi
empolgante, três equipes com equipamentos diferentes no pódio prenunciam um
campeonato muito disputado.
Entretanto, o comportamento dos envolvidos na programação
que antecedeu o início da prova evidenciou que os acontecimentos do final do
ano passado ainda não foram digeridos, o mal estar entre os pilotos é evidente,
embora comentários mais incisivos tenham sido evitados.
As notícias tornadas públicas durante a semana também não
colaboraram. A Tech 3, satélite da Yamaha, comunicou aos seus dois pilotos,
Bradley Smith e Pol Spargaro, que o contrato não seria renovado no final do
ano. Segundo o gestor, o principal objetivo da equipe é descobrir e lapidar
jovens talentos para a Yamaha e ambos já não se enquadram neste perfil. Houve quem
interpretasse neste fato a busca pela fábrica japonesa para reposição dos
atuais pilotos em 2019. Em tempo, Bradley Smith já garantiu um lugar para o
biênio 2017/2018 a bordo de uma KTM, a tradicional fabricante austríaca que já
participa das categorias de acesso está desenvolvendo um projeto para a MotoGP.
Durante os treinos do GP de abertura da temporada foi
divulgada a notícia de que Valentino Rossi havia renovado contrato para
2017/2018. O fato em si não é revestido de muito simbolismo, até porque 19 dos
21 pilotos inscritos nesta temporada têm seus contratos encerrados no final do
ano. Lin Jarvis, manager da Yamaha, informou que Rossi e Lorenzo receberam
ofertas ao mesmo tempo, Rossi aceitou imediatamente e Lorenzo ainda não se
decidiu. Jarvis diz que ofereceu a Lorenzo o melhor contrato da sua vida e
visualiza as digitais da Ducati nesta indecisão. A evolução da Desmosedici
atual é um argumento atrativo e Lorenzo já havia sido sondado pela equipe
italiana em outras oportunidades. Os pilotos da Ducati são competitivos, porém
inadequados para as aspirações da empresa, agora controlada pelo Grupo Audi,
como mostrou a inexplicável queda de Andrea Ianone no Qatar.
Aspectos comerciais à parte, a renovação de Valentino
Rossi com a Yamaha proporcionou mais combustível para a fogueira de vaidades
entre os dois colegas de equipe. Valentino afirmou em entrevista à imprensa que
tem certeza que Lorenzo fica na Yamaha porque, segundo suas palavras, “Precisa
ter colhões para trocar de equipe”. A resposta veio no mesmo tom, “Para ele foi
fácil decidir, não tem nenhuma outra opção” referindo-se ao fato do
multicampeão não ser atualmente bem-vindo na Honda e Ducati.
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Rossi e Lorenzo na Press Conference deLosail, 2016 |
Mesmo depois da vitória, o comportamento de Lorenzo foi
alvo de críticas. Em duas oportunidades durante as comemorações, quando trouxe
sua moto para o parque fechado e quando foi chamado ao pódio, o atual campeão
apontou para algumas pessoas não capturadas pela transmissão de TV da Dorna e
fez o sinal característico de “Calem a boca”, com um gesto de fechar o zíper
sobre os lábios. Pode ter sido apenas uma manifestação de desabafo, muitos
interpretaram como pura provocação.
Depois de quase quatro meses, o fascínio pela velocidade
está de volta. O clima dos bastidores, entretanto, não arrefeceu. Valentino
Rossi está convencido que o título do ano passado de Jorge Lorenzo foi injusto
e continua acusando Marc Márquez de participar de um conluio espanhol, na
entrevista conjunta antes da prova no Qatar o desconforto entre ambos ficou
evidente. Nos testes e tomadas de tempo antes da prova no circuito de Losail,
qualquer observador em trânsito pelos boxes da Yamaha percebeu que Rossi e
Lorenzo já não falam a mesma língua. O companheirismo que existia na equipe
Yamaha cedeu lugar para uma convivência forçada. Neste clima, pesado nos
bastidores e sob o olhar atendo dos organizadores, começou a temporada 2016 do
MotoGP.
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