Em tese uma moto de
competição é um veículo simples, duas rodas montadas em um chassi, um motor e
um lugar para acomodar o piloto. Esta ideia de simplicidade tem muito pouco a
ver com o estágio atual da MotoGP, na busca da excelência e melhor desempenho,
os protótipos que disputam o atual mundial são máquinas incrivelmente
complexas, só o garfo dianteiro de uma moto, por exemplo, tem mais de 300
componentes.
Diversos engenheiros
e técnicos, que trabalham com o estado da arte em suas especialidades,
colaboram no projeto, construção e no ajuste mais eficiente do equipamento para
os diferentes circuitos. Além da Michelin, fornecedora exclusiva de pneus e do
pessoal da Magneti-Marelli que atua no suporte à eletrônica, todas as equipes
utilizam os sistemas de freios produzidos pela italiana Brembo. A sueca Ohlins
responde pelas suspensões dianteira e traseira das motos de 5 das 6 fabricantes
que disputam a MotoGP, a única exceção é a austríaca KTM que optou por um
desenvolvimento da WP, uma empresa do grupo.
A suspensão fornece
a ligação essencial entre as rodas e o chassi, sua função é manter o pneu em
contato com o piso e produzir o máximo de aderência independente das ondulações
da pista. A calibração do sistema de suspensão de um protótipo é um processo
complexo, depende das características do piso do circuito, pneus selecionados,
técnica de pilotagem do condutor e de componentes que funcionam entre si com
numerosas relações de interdependência e definem (influenciam) a distribuição
de massas e o centro de gravidade do equipamento. Importante lembrar que o
piloto utiliza seu próprio peso para deslocar o centro de gravidade do conjunto
equipamento/condutor durante as diversas etapas de uma prova.
Existem quatro
conceitos básicos relacionados com o ajuste da suspensão: molas, pré-carga,
compressão e extensão dos amortecedores, que devem atuar em equilíbrio para a
moto ter um comportamento competitivo e adequado às preferências do piloto.
As molas são os
componentes que suportam o peso suspenso da moto, a força necessária para ser
comprimida depende da sua rigidez. A escolha de uma mola especifica está
relacionada com o comportamento que o piloto espera do equipamento durante uma
prova. Molas são classificadas de acordo com a força necessária para a sua
compressão, medida em Newtons/milímetro. No ambiente da MotoGP as molas
utilizadas estão na faixa de 8 a 12 N/mm.
Molas mais rígidas
mantém melhor estabilidade nas frenagens e, por sua compressão mais lenta,
resultam em maior desgaste de pneus e em um comportamento mais crítico durante
as mudanças de direção e necessidade de inclinar o equipamento nas curvas. Em
contrapartida, molas mais suaves podem ter compressão plena, o equipamento fica
menos estável nas frenagens e mais fácil de controlar quando o protótipo está
inclinado. Via de regra, molas menos rígidas são preferidas em piso molhado.
O conceito de
Pré-carga está relacionado com a compressão exercida na mola quando a moto está
em repouso, a peça é comprimida ligeiramente para evitar que atinja sua
extensão total. Aumentar a pré-carga implica que o sistema exigirá mais força
para comprimir a mola e mais tempo para a suspensão se ajustar ao conjunto de
forças externas. Adequar a pré-carga permite modificar a altura do veículo,
alterando a variação possível do curso do amortecedor. Nos protótipos que
disputam a MotoGP a variação da extensão dos amortecedores pode variar em até
130 mm.
A pré-carga pode ser
configurada utilizando molas mais ou menos rígidas, um ajuste fino para obter
maior precisão pode ser realizado no ponto de fixação na parte superior dos
garfos.
Enquanto a moto roda
por um circuito a suspensão reage sempre que há uma alteração de relevo na
pista ou em mudanças de velocidade, comprimindo o garfo dianteiro quando os
freios são acionados, ou o amortecedor traseiro quando o motor despeja torque
na roda motriz. Quando a suspensão é comprimida, a mola atua para recuperar o
seu estado original e inicia o processo de extensão. Os ajustes determinam se a
extensão deve ser mais rápida ou mais lenta.
Os amortecedores
utilizam um fluido interno, controlado por um complexo sistema de válvulas que
definem a velocidade da compressão e extensão. O ajuste destas válvulas permite
que velocidades diferentes possam ser estabelecidas para os ciclos de
compressão e extensão.
A velocidade
adequada neste processo deve permitir que o pneu esteja em contato constante
com o piso, maximizando a aderência sem estressar muito a borracha. O trabalho
da suspensão é importante nos processos de aceleração, frenagem e no modo como
o piloto apoia o equipamento nos pneus em retas e curvas. Os ajustes adequados
de molas, pré-carga e o ciclo correto de compressão e extensão são essenciais
para o bom desempenho em competições.
Em uma entrevista
durante os testes que antecederam o GP da Alemanha, em Sachsenring, Marc
Márquez explicou que a maneira de não perder muita velocidade com a sua
Repsol-Honda nas curvas era utilizar ângulos de inclinação acentuados, porque o
pacote da moto, chassi e suspensão, dificulta a mudança de direção. O espanhol
disse que inclinar a moto não era um estilo de pilotagem ou uma preferência
pessoal, era também uma necessidade. Cal Crutchlow apoiou este comentário
afirmou que, infelizmente, a atual concepção da RC213V exige muita inclinação
para ser veloz em curvas, ele particularmente não consegue ter a eficiência e o
controle de Márquez e esta é a principal razão da maioria das suas quedas.
Antes de uma prova o
ajuste correto de um equipamento é orientado para transformar a potência do
motor em velocidade e depende essencialmente da suspensão e flexibilidade do
chassi para explorar ao máximo a aderência da pista. É absolutamente necessário
que a suspensão e a geometria trabalhem em harmonia para converter as diversas
força que atuam sobre o equipamento em movimento em tração.
Ainda não há um
consenso sobre o a importância da suspensão quando o protótipo está inclinado
durante uma curva. Sua importância (da suspensão) é mais evidente quando o
freio dianteiro é liberado ou o acelerador é acionado nas mudanças de direção
em condições de baixa inércia.
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