Desmosedici GP16 |
Ao longo dos 67 anos de disputas mundiais de motocicletas a Ducati nunca foi uma força expressiva. Historicamente, contabilizando todas as categorias, a fábrica de Bolonha conseguiu um único título mundial de construtores e apenas 38 vitórias, 23 obtidas entre 2007 e 2010 pelo australiano Casey Stoner.
A
Ducati foi fundada no início dos anos 20 e severamente afetada pela segunda
grande guerra, suas instalações em Bolonha, Itália, foram arrasadas por
bombardeios aliados e no esforço de recuperação a empresa entrou no mercado de
motocicletas com o lançamento em 1946 da “Cucciolo”, uma bicicleta motorizada.
A empresa italiana encontrou no esporte uma
maneira de mostrar a qualidade de seus produtos, participou e venceu nos anos seguintes
de diversas provas de velocidade e resistência em estradas como a corrida entre
Milão-Taranto (960 km) e Volta da Itália. No final de 1956 a linha de produção contava
com as motos Tourist 174, Special e Sport, modelos com motores de quatro tempos
capazes de performances consideráveis, respectivamente 110, 120 e 135 km/h. Em
1958 a Ducati produziu a 200cc "Elite", que introduziu o sistema desmodrômico
de acionamento de válvulas. Este projeto
evoluiu para um protótipo de 250cc que, pilotado por Mike Hailwood, fez algum sucesso
nas pistas no início dos anos 60.
O
surgimento das japonesas Yamaha e Suzuki com os motores de dois tempos de alto
desempenho afastaram a Ducati das provas no início dos anos 70. Durante muitos
anos os motores que dominaram a classe de 500cc foram de dois tempos, tecnologia
distante da utilizada nas motos industrializadas para comercialização pela
fábrica italiana, centrada em motores de 4 tempos. Em 2002 a FIM e a Dorna
promoveram uma mudança radical nos regulamentos técnicos do mundial de motovelocidade,
com privilégios para motores de 4 tempos e transformando a antiga classe 500cc
no mundial de MotoGP, criando um ambiente propício para o retorno da fábrica às
pistas. Entre 2002 e 2006 o regulamento contemplou motores 4 tempos limitados a 990cc, a partir de 2007 houve
uma redução para 800cc e desde 2012 o limite de cilindrada máxima foi fixado em
1000cc.
Em
tecnologia de motores, a palavra desmodrômica é utilizada para indicar
mecanismos que têm controles de acionamento diferentes em sentidos diversos. As
válvulas de um motor de quatro tempos abrem para permitir a entrada da mistura
ar/combustível no cilindro, fecham durante os tempos de compressão e explosão,
e abrem para o escape dos gases da combustão. Em um projeto convencional o
comando de abertura da válvula é realizado por um excêntrico e o fechamento por
uma mola de retorno. Um motor com válvulas desmodrômicas contempla dois
excêntricos e dois atuadores para abertura e fechamento, sem mola de retorno.
Historicamente
os projetos de motores da Ducati utilizam cilindros montados em ângulo de 90
graus (V-twins ou L-twins) com tecnologia desmodrômica para comando de válvulas.
A fábrica considerou inicialmente a possibilidade de desenvolver um motor
“Super-Twin” para explorar uma facilidade prevista no regulamento, que permitia
às máquinas de dois cilindros uma redução de peso considerável em relação às
motos de quatro, cinco ou seis cilindros, no entanto as análises da equipe de engenharia indicaram que um motor
de dois cilindros não seria capaz de produzir a quantidade necessária de
energia, mais de 230 hp, sem elevar consideravelmente o número de rpms
(rotações por minuto), criando problemas extras de dissipação de calor e
confiabilidade.
A
base do projeto do motor Ducati são quatro cilindros dispostos em V. Cada cilindro
é equipado com 4 válvulas (totalizando 16) com tecnologia desmodrômica. O nome “Desmosedici”
dos protótipos de competição é resultado de uma abreviação de “dezesseis
válvulas com controle desmodrômico” em italiano.
A
fábrica de Bolonha viveu seu melhor momento quando o regulamento geral de
competições reduziu a capacidade dos motores de 990cc para 800cc. A Ducati
conseguiu produzir motor que entrega 225hp em 19.000 rpms, que na pista resulta
em velocidades acima dos 330 km/h. Este
propulsor combinado com o talento de Casey Stoner garantiu o primeiro e até
agora único título mundial de MotoGP para a equipe italiana. Em 2007 o piloto australiano
venceu dez corridas e seu companheiro de equipe, Lóris Capirossi, uma. Nos anos
seguintes o número de vitórias foi escasseando até que, em uma manobra ousada, a
Ducati contratou para 2011 e 2012 o multicampeão Valentino Rossi apostando em
uma dupla “puro sangue”, piloto e máquina italianos. Apesar da inegável competência
Rossi, os resultados foram pífios e o melhor que a equipe conseguiu foram dois segundos
lugares nas duas temporadas.
A
Ducati, controlada desde 2012 pela Audi, é a fábrica que vai alinhar o maior
número de equipamentos no grid de largada da temporada de 2016 da MotoGP, oito
ao todo, com três especificações de motor, GP14.2 (Avintia Racing & Aspar),
GP15 (Octo Pramac Yakhnich) e GP16 para os pilotos oficiais de fábrica. A Honda
tem inscritos cinco pilotos, a Yamaha 4, Aprilia e Suzuki dois cada.
Em
tempo, Panigale, o nome do modelo das
motos que disputam a SuperBike, é o do bairro de Bolonha onde está localizada a
fábrica da Ducati.
Publicado no site www.autoracing.com.br em 09/03/2016
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