quinta-feira, 16 de julho de 2020

MotoGP – Grid & Paddock Girls






Fato histórico. Na primavera de 1942, em uma instalação improvisada sob as arquibancadas de um estádio universitário de Chicago, o físico Enrico Fermi e seus colaboradores do Projeto Manhattan montaram, durante meses, uma estrutura baseada em tijolos de grafite e cilindros de urânio. Esperavam o instante em que a emissão de nêutrons alcançaria o ponto crítico de iniciar uma reação em cadeia, provocando uma fissão nuclear, que Fermi atentamente monitorava e antecipava resultados com o auxílio de uma régua de cálculo. Em determinado momento, o professor Fermi ordenou a inserção de barras de cádmio para absorver os nêutrons liberados e interromper a reação. Um dos colaboradores perguntou ao físico porque não continuar a experiência mais um pouco, para ter uma melhor avaliação dos resultados. A resposta do cientista veio em forma de um conselho: “Nunca se deve desencadear forças sem saber como as controlar depois”.



Ano de 2017, em Jerez de La Frontera a abertura da temporada europeia da MotoGP foi caracterizada por um debate na semana anterior ao GP. O circuito está localizado na comunidade autônoma da Andaluzia, Espanha, onde políticos influentes na área intercederam junto aos organizadores, FIM & Dorna, para coibir exageros no modo de vestir das garotas que trabalham no paddock e no grid. Uma tentativa de incursão do politicamente correto no mundial de motociclismo.  A atitude dos representantes da comunidade de Jerez replicou na Catalunha, onde pessoas da administração local sugeriram que, além de maior decoro no modo de vestir das garotas, a competição devia evitar a distinção de gêneros e estimular a presença de grid-boys.



A presença de garotas no paddock supostamente começou nas 24 Horas de Le Mans em 1983, quando um fornecedor de protetor solar trouxe um grupo de modelos de biquíni para fins promocionais. Desde então, as garotas do grid foram presença regular nas competições de automobilismo. Trinta e cinco anos depois, movimentos feministas entendem que é uma exploração indevida das mulheres.



No início de 2018 a Liberty Media, entidade que controla a joia da coroa do automobilismo esportivo, o Mundial de Fórmula 1, baniu as grid girls das pistas. O resultado imediato foram centenas de postos de trabalho fechados pela proibição. Ao ceder às pressões, a Liberty Media decidiu impedir centenas de modelos e vendedoras de realizarem o seu trabalho. A MotoGP não foi contaminada por esta onda de politicamente correto e evitou, por enquanto, tomar posição nesta disputa.



O conceito ortodoxo que define o politicamente correto remete à neutralização de uma linguagem ou discurso, evitando o uso de narrativas estereotipadas ou que possam fazer referências para as diversas formas de discriminação existentes, como racismo, sexismo, xenofobia, homofobia, etc., e foi ampliado para abranger a proteção de minorias e indefesos.  Basicamente quer alterar os padrões culturais substituindo uma educação social e familiar por um objeto jurídico, uma ferramenta que utilize censura para evitar constrangimentos.



A verdade é uma só, nos dias atuais as pessoas mal informadas ficam ofendidas por praticamente qualquer coisa. Não faz o menor sentido. Estas lindas mulheres cumprem uma função inerente ao espetáculo, um GP sem elas perde grande parte do glamour. As reações não tardaram.



A modelo Rebecca Cooper, que já trabalhou como paddock girl na F1, opina que é ridículo que pessoas que dizem estarem lutando pelos direitos das mulheres ditem regras, limitando o que pode ou não ser feito, impedindo profissionais de fazer um trabalho que amam e tem orgulho. Grid girls são mulheres incríveis, que não são pagas só para ficarem bonitas. É um trabalho difícil e que requer autoconfiança e talento, características muito diferentes das encontradas em pessoas vulneráveis, são tarefas para mulheres inteligentes, fortes, com grandes sonhos de carreiras que transcendem ao grid de largada. Jornadas de trabalho que se estendem desde o primeiro ronco do motor de uma Moto3 até horas depois de encerrada programação de um GP, sempre lindas, elegantes, bem vestidas, confiantes e alegres, transmitindo a impressão que estão tendo os melhores momentos de suas vidas. Como representantes de um patrocinador ou divulgando um produto, transmitem confiabilidade, são atenciosas com as pessoas e emprestam a sua beleza para fotos de recordação. Os pilotos não podem estar preocupados com estes detalhes, estão muito ocupados com os preparativos para as corridas.



Existe toda uma indústria de apoio, agências especializadas em fornecer modelos promocionais especificamente para eventos esportivos, incluindo provas de motociclismo. Uma agência britânica sediada em Londres tem um catálogo de quase 600 meninas e atende competições em todo o Reino Unido. É necessário analisar como uma decisão da Liberty Media, que diz estar protegendo e apoiando os direitos das mulheres, resulta em prejudicar empresas que oferecem serviços e contribuem com a rentabilidade dos esportes, sem mencionar o impacto nas mulheres que perdem seus empregos. Não só as modelos, inclui funcionárias dos bastidores.



Milhões de garotas sonham com a profissão de modelo e amam o motociclismo esportivo. Ser uma garota do grid da MotoGP é uma das oportunidades de entrar em um esporte de alta tecnologia ainda dominado por homens, que seria inviável de outra forma.



Os exemplos a seguir relatam histórias reais de mulheres que criaram carreiras e relacionamentos de sucesso a partir da paixão pelo motociclismo, sempre começando pela nobre função de grid girls.



Milena Koerner



Milena Koerner aos 13 anos de idade esperava no portão do paddock por um descuido de um dos seguranças que permitisse o seu acesso. Aproveitou a oportunidade como grid girl para alavancar a sua carreira de sucesso no mundial de motociclismo. O que começou como um trabalho divertido e útil para pagar os seus estudos universitários, oportunizou ser a primeira mulher a assumir o cargo de Diretora de Operações da equipe MV Agusta Forward Racing (www.forward-racing.com) da Moto2.






Amy Dargan é outro exemplo de garota que utilizou a atividade de grid girl para custear seus estudos de jornalismo. Foi trabalhando na pista que conseguiu a sua primeira chance como repórter. Atualmente está na quinta temporada cobrindo MotoGP para Dorna e FoxSports, onde se sente em casa. Tem uma predileção especial por explorar a espontaneidade das transmissões ao vivo. Multifuncional, divide a apresentação de um programa especializado em motociclismo de TV. Sua história é semelhante a muitas garotas que conseguiram aliar sua paixão e obter alguma renda enquanto estudavam. Ninguém as obrigou, as oportunidades nas pistas apenas aumentaram seu leque de opções.



Esta é a opinião expressa pela ex esposa de Scott Redding e ex-grid girl Penny Sturgess, que questiona o que aconteceu com a liberdade de escolha, comentando que não fica confortável quando identifica movimentos para mulheres não terem as oportunidades que ela teve. A F1 já as baniu, por enquanto a MotoGP tem sido um refúgio seguro. Melissa James, que trabalhou no grid da F1 faz um emocionado depoimento pessoal: “Eu absolutamente amava o meu trabalho. Quem queria vestir uma roupa superconfortável poderia comprar um ingresso VIP e assistir o mesmo que eu, sem a proximidade com as máquinas e a alegria de participar do espetáculo”.



Laureen Vickers


Laureen Vickers é outra que esse destacou como uma das pessoas mais conhecidas no paddock. Depois de uma carreira de sucesso como modelo profissional, surgiu a oportunidade de combinar seu trabalho com a paixão por motocicletas. Ela foi eleita na Itália 'Playmate of the Year' em 2010, em 2012 casou com o piloto da MotoGP Randy de Puniet. Hoje divorciada, ainda sente muito orgulho de ter estado no grid



Em muitos casos, garotas do grid, namoradas ou esposas personificam a mesma pessoa, agregando praticidade para compartilhar a vida louca e ocupada de uma temporada. Por exemplo, o multicampeão Valentino Rossi e a grid girl Francesca Sofia Novello, ou Andrea Dovizioso e a Monster grid girl Alessandra Rossi. Eugene Laverty encontrou sua ex esposa Pippa Morsen quando ela era trabalhava no paddock, assim como Alvaro Bautista conheceu a modelo Grace Barroso nas pistas antes de casarem.




Outras vezes funciona da forma inversa, como com Casey Stoner e sua esposa Adrianna, que se tornou sua grid girl exclusiva depois que eles se conheceram em Phillip Island e decidiram formar uma família. A esposa de Cal Crurtchlow, Lucy Heron, depois de casada costumava o acompanhar o piloto britânico até segundos antes da largada, hábito que abandonou depois do nascimento da sua filha.




A MotoGP é uma competição que reúne a elite dos pilotos utilizando protótipos no estado da arte da tecnologia motorizada em duas rodas. O regulamento geral da competição contém uma série de restrições técnicas que promovem a equalização das condições de competitividade e não contempla diferenças de gênero, raça ou credo, embora a maioria dos pilotos possa ser classificada como WASP (acrônimo de White Anglo-Saxon Protestant - brancos com ascendência anglo-saxônica). Aceitar interferência externa, mesmo que seja somente em opinar sobre a maneira de vestir das garotas que trabalham no paddock ou no do grid, implica em um precedente perigoso.

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