quinta-feira, 2 de julho de 2020

F1 – Regulamentos & Méritos


Primeira largada da F1 – Monza 1950



As corridas de veículos automotores não começaram com a fundação do mundial em 1950.



Oficialmente o mundial começou no dia 13 de maio de 1950, em Silverstone, na Inglaterra, até então cada GP era uma disputa independente. Mesmo depois da fundação da F1 os hábitos não mudaram, em 1950, a temporada teve sete etapas oficiais, mas foram disputados mais de 18 GPs nos diversos países, quase sempre em circuitos de rua e sem contagem de pontos para o mundial.




Juan Manuel Fangio foi o grande nome da primeira década da Formula 1, participou de 51 provas, conquistou 24 vitórias, 23 voltas mais rápidas e cinco títulos mundiais em oito temporadas. Em uma época onde lealdade ainda era apenas mais uma palavra no dicionário, Fangio correu pela equipe Alfa Romeo (1950-1951), Maserati (1953-1954), Mercedes (1954-1955), Ferrari (1956) e de novo Maserati (1957-1958), foi campeão por todas elas, seus cinco títulos mundiais foi um recorde que durou 47 anos, até surgir Michael Schumacher.


Juan Manuel Fangio

Em 1956 os tempos e regulamentos eram outros. As equipes podiam inscrever dois pilotos no mesmo carro, caso houvesse interesse o chefe de equipe podia mostrar a placa (não havia rádio) para que o piloto que estivesse na corrida fazer uma parada nos boxes para ceder o carro ao companheiro. No GP de Itália (Monza) de 1956, a Ferrari inscreveu Juan Fangio e Peter Collins para os mesmos carros, ambos ainda estavam na disputa pelo mundial. Na 20ª volta, a coluna de direção da Ferrari DS50 de Fangio apresentou problemas, parecia o fim do sonho do tricampeonato para o argentino. Stirling Moss  com uma Maserati 250 liderava e Peter Collins, com uma Ferrari DS50, estava em segundo, colocação lhe que garantiria o mundial.  Na temporada a atribuição de pontos era a seguinte: 8 pontos para o vencedor, 6 para o segundo e 4, 3 e 2 respectivamente para terceiro, quarto e quinto. Havia ainda 1 ponto para o piloto com a melhor volta, apenas os melhores cinco resultados das oito etapas podiam ser computados para a soma total de pontos.



A antiga curva parabólica de Monza, um anel inclinado, era feito de concreto bem mais abrasivo que o asfalto, causando uma deterioração acentuada nos pneus. Peter Collins, britânico, sabia que com o segundo lugar teria o título garantido, foi para os boxes fazer uma troca. Quando o carro voltou à pista, o piloto era Fangio que, mesmo dividindo os 6 pontos do segundo posto, garantiu o seu tricampeonato. Até hoje se discute se foi ordem da equipe, imposição do argentino ou um 
gesto cortês do britânico, a verdade é que um título garantido de Collins trocou de mãos em uma parada nos boxes da Ferrari. A vitória no mundial foi do argentino, o mérito com certeza não.

Antiga Parabólica em Monza




Dick Vigarista é um personagem fictício criado pelos estúdios Hanna-Barbera para compor o elenco do desenho animado Corrida Maluca, sua principal característica é utilizar todos os subterfúgios possíveis para vencer. Michael Schumacher é inegavelmente uma lenda do esporte, mas continua sendo uma das figuras mais controversas pela tendência de se  envolver em incidentes polêmicos. Em 1994 foi muito criticado ao colidir com Damon Hill no último GP do ano, na Austrália, a exclusão de ambos da prova garantiu seu título na temporada. Um episódio semelhante ocorreu ao tentar evitar uma ultrapassagem de Jacques Villeneuve em 1997, no GP da Europa disputado no circuito de Jerez, o alemão manobrou de uma maneira acintosa para tirar o canadense da prova. Não funcionou, Villeneuve permaneceu na corrida e venceu o campeonato. Neste evento, entretanto, o comportamento de Schumacher impressionou a FIA, que o penalizou, por conduta antidesportiva, com a exclusão de todos os pontos obtidos na temporada, uma das penas mais rigorosas já aplicadas pela entidade para um piloto. Sobre o acontecido a mídia escrita alemã foi cáustica, o jornal Bild disse que Schumacher foi o culpado pelo acidente, “Apostou alto e perdeu tudo, o campeonato mundial e a sua reputação”, o Frankfurter Allgemeine o chamou de “kamikaze sem honra”, e concluiu “o mito está começando a desabar porque suas fundações estão com defeito”. Algumas atitudes de Schumacher nas pistas parecem ter sido inspiradas em Dick Vigarista. 





Michael Schumacher depois do acidente com Villenueve



Fora dos circuitos a carreira do alemão foi muito bem administrada, uma das pessoas que participou da negociação do seu contrato com uma equipe (Ferrari) ficou espantada com a riqueza de detalhes, o documento completo era composto de mais de 100 páginas e previa que o alemão teria prioridade em tudo, até no número de toalhas disponíveis nos boxes. As multas por descumprimento de cláusulas contratuais eram estapafúrdias. Vistas sob esta ótica, os sete mundiais de Schumacher talvez não tenham tanto valor. Detalhe macabro: Michael Schumacher assinou em seu período áureo diversos contratos vitalícios, a quem diga que esta é a única razão para que continue vivo.



As desclassificações de Nelson Piquet e Keke Rosberg no GP do Brasil de 1982 foram um dos muitos casos complicados porque não afrontavam frontalmente os regulamentos, eram trapaças legais, resultado de regras mal redigidas e, principalmente, mal traduzidas. As equipes que utilizavam motores aspirados tinham carros mais leves, para equalizar as oportunidades precisavam carregar um lastro. Brabham, Williams, Lotus e McLaren viram, no que poderia ser uma limitação, uma oportunidade. Projetaram sistemas de freios refrigerados à água, que exigiam reservatórios que poderiam servir de peso extra. Os carros largavam com os reservatórios cheios, mas parte da água evaporava durante a prova, parte as Brabham deixavam vazar na volta de apresentação ficando mais leve e abaixo do peso durante a corrida. Antes da pesagem pós-corrida, no entanto, o regulamento permitia às equipes reporem líquidos consumíveis, então tornavam a encher os reservatórios e atingiam o peso mínimo perdido na prova (basicamente óleo e combustível). No caso destas escuderias, elas enchiam estes pequenos tanques com água novamente e voltavam ao peso mínimo. Não havia nada no regulamento que obrigasse especificamente que a água devia transformada em vapor pelo calor, não simplesmente descartada. Piquet foi desclassificado e perdeu a vitória no GP Brasil de 1982.






Nelson Piquet no GP Brasil de 1982
A BAR em 2005 se viu envolta em uma discussão sobre a interpretação do regulamento em relação ao peso mínimo do carro. Após o GP de San Marino, os comissários da FIA identificaram que os carros da BAR, com os tanques de combustível drenados, pesavam 594,6 kg, abaixo dos 600 kg exigidos. A explicação da equipe era que seus modelos não funcionavam com menos de 6 kg de combustível, que eram depositados em um segundo tanque. Em um primeiro momento, a resposta foi aceita. Tempos depois a própria FIA decidiu apelar do julgamento de seus comissários, alegando que o reservatório extra era utilizado como uma espécie de lastro no momento da pesagem, e que o dispositivo abria uma forma da equipe correr com o carro abaixo do peso em algum momento da prova. A BAR ainda tentou apelar para tribunais superiores, porém o relatório final dos técnicos insistia que a única maneira de ter certeza que a equipe nunca teria o carro abaixo do peso mínimo durante as provas era drenando todo o combustível, o que deixava o equipamento fora da especificação. A Corte de Apelação aceitou a acusação e desclassificou os pilotos da BAR  do GP de San Marino.



Em 2010 os projetistas do MP4-25 criaram uma entrada de ar na parte frontal que fazia a ligação com a parte traseira do carro por meio de dutos. A ideia era proporcionar o menor arrasto aerodinâmico possível, além de ganhar velocidade por meio da passagem do ar. O interessante dessa solução era que o piloto acionava o recurso ao colocar a perna esquerda em um buraco dentro do cockpit, a ação redirecionava o fluxo de ar. Os concorrentes alegaram que uma manobra dentro do habitáculo exigia um certo grau de contorcionismo e colocava em risco a integridade do piloto. A FIA considerou os argumentos relevantes e, mesmo que não contrariasse nenhuma regra, proibiu o uso do recurso. Em tese, é simplesmente que uma variação do DRS, com o acionamento muito menos trabalhoso.



McLaren com o duto




Durante o GP de Abu Dhabi a Red Bull envolveu-se em uma discussão quando decidiu pela troca do aerofólio dianteiro de Sebastian Vettel por um recém recebido da fábrica. Só havia uma peça disponível, e a equipe optou por preterir o carro de Mark Webber. As imagens da troca revelaram uma flexibilidade maior que o normal no bico do RB8, intrigaram a concorrência que desconfiou sobre a real função da peça. O assunto foi relatado à FIA, que entendeu que o elemento estava dentro das regras e que “algum grau de flexibilidade é aceitável”. O que ficou para a posteridade nesta prova é que, embora a equipe tenha fornecido os últimos desenvolvimentos para Vettel, a corrida foi vencida por Mark Webber que, na volta da vitória, declarou alto e claro: “Nada mal p

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