quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Por Que MotoGP?



Os fins de semana são normalmente dedicados ao descanso no sentido mais amplo, não apenas repouso físico. Muitos dedicam estes momentos para curtir a terapia da gasolina, assistir provas de veículos motorizados. O cardápio é amplo, Nascar, Stockcar, Monopostos, Truck, Motos, Eletricos, etc.  A cereja do bolo tem sido a Fórmula 1, o ápice do esporte motorizado, que ultimamente tem a sua liderança na atenção dos telespectadores contestada pelo mundial de motovelocidade da FIM, a MotoGP.

A audiência da MotoGP cresce por inúmeras razões, algumas listadas abaixo:



Valentino Rossi

Não há um atleta em atividade com mais conquistas que o italiano Valentino Rossi. O piloto, que já conquistou nove títulos mundiais e 115 vitórias em GPs, é uma verdadeira divindade para os seguidores do esporte. O “Doutor” tem mais de duas décadas nas pistas e continua a competindo em condições de igualdade com a elite dos pilotos atuais, alguns com pouco mais da metade da sua idade. Uma maneira simples de qualificar Valentino Rossi é reconhecer que, além de ser um cara bom, ele é um bom cara, consegue conciliar sua carreira ainda vitoriosa de piloto de competições com uma presença notável fora das pistas, desenvolveu em paralelo com sua atividade esportiva uma bem-sucedida atuação empresarial. Sua característica de dedicar-se ao esporte e fazer disto uma diversão conquistou fãs em todo o planeta, o que pode ser comprovado em qualquer circuito pela presença de bandeiras amarelas com o número 46. Algumas de suas comemorações por vitórias extrapolam os limites da imaginação, ao conquistar o seu nono título mundial na prova da Malásia em 2009 vestiu uma camiseta com a estampa “Galinha velha ainda dá bom caldo” e comemorou com um frango vivo trajado como piloto e com capacete. Valentino no montou uma competente equipe de assessores para suporte às suas atividades dentro e fora das pistas, é um piloto que transcende aos limites do esporte.


Posicionamento do Corpo

Velocidade é importante, mas a técnica que o piloto utiliza maximizando o ângulo de inclinação da moto nas curvas faz a diferença. Ao assistir uma prova de MotoGP os competidores parecem desafiar a gravidade nas curvas com inclinações do veículo em mais de 65 graus da vertical, apenas para efeitos de comparação, tentar inclinar mais de 50 graus com uma moto comum é certeza de queda. Posicionar o corpo de modo a compensar o conjunto de forças que mantém o equilíbrio da moto nestas condições é uma tarefa importante e para proteger a patela e os cotovelos do piloto são utilizados protetores com uma polegada de espessura fixos em seus trajes de competição. Embora resistentes e feitos de plástico especial para resistir as altas temperaturas devido ao atrito, resultam seriamente avariados no final de cada prova.


Contato




O contato físico corporal entre pilotos não é desejável, porém possível. Em outras competições motorizadas, na pior das situações existe sempre parte da carroceria entre um piloto e outro, a MotoGP não tem nenhuma barreira física. Se um piloto pretende realizar uma ultrapassagem, provavelmente não tenha muito espaço disponível e as margens de erro são reduzidas consideravelmente. Para contextualizar, a área de apoio do pneu com a pista é aproximadamente o mesmo tamanho de um cartão de crédito e ultrapassagens são realizadas em alta velocidade, qualquer correção de rumo pode resultar em contato pessoal. Estas ocorrências podem ser acompanhadas na TV, incluindo o dedo médio apresentado por um piloto que se sente prejudicado por um rival mais desastrado.


45 Minutos de Solidão

Na MotoGP não há como culpar a equipe por decisões desastradas durante um GP. Depois que a largada é autorizada não há conversas de rádio, trocas de pneus, reabastecimento e, principalmente, estratégias de equipe. É corrida pura, ininterrupta e o desempenho do equipamento e habilidade do piloto são determinantes para o resultado. A únicas informações transmitidas pela equipe para os pilotos são pequenas mensagens no painel de instrumentos e um vislumbre momentâneo de placas na reta dos boxes. Mesmo que as equipes sinalizem, a decisão de seguir ou não conselhos depende exclusivamente do piloto.

No GP da Alemanha de 2016 em Valentino Rossi ignorou reiteradas chamadas da Yamaha para troca de moto nos boxes (corrida flag-to-flag) e entregou a vitória para o rival Marc Márquez, a decisão era prerrogativa exclusiva dele. Um veículo com equilíbrio frágil se deslocando em alta velocidade não é um lugar adequado para prestar atenção a um aviso no painel, Hector Barbera aprendeu isto este ano no GP da Alemanha, queimou a largada e foi penalizado com um ride-through, indicado via mensagem em seu painel de controle. O piloto não atentou para a mensagem e acabou recebendo uma bandeira preta.


Ultrapassagens

Este item deve ser qualificado, todas as provas automotivas apresentam variados tipos de ultrapassagens, é o que estimula a acompanhar competições (existem os espectadores que preferem os “lamentáveis acontecimentos”, não é o caso da maioria).  Em uma corrida, a troca de posições entre os primeiros colocados atrai mais que deixar para trás competidores retardatários. O índice de ultrapassagens entre líderes na MotoGP supera qualquer outra competição, à exceção talvez das realizadas em pistas ovais. O GP da Austrália em 2015 foi uma corrida emblemática, houve 52 ultrapassagens entre os quatro primeiros colocados (Márquez, Lorenzo, Iannone e Rossi). Outro exemplo, na Catalunha em 2009 Valentino Rossi e o companheiro de equipe e candidato ao título Jorge Lorenzo protagonizaram uma batalha épica, trocaram a liderança quatro vezes na última volta. Nas palavras da lenda da F1 Niki Lauda, " A MotoGP oferece o espetáculo mais incrível que pode ser visto nas pistas”.


Idade de Ouro

A MotoGP está em uma temporada espetacular em uma época onde a F1 perde espectadores. O mais reverenciado piloto em ação, Valentino Rossi, ainda mostra fôlego suficiente para competir com a nova geração de pilotos. O protagonismo de Yamaha e Honda está diluindo, a temporada passada registrou nove pilotos diferentes com vitórias. A aposta da Ducati em Jorge Lorenzo ainda não apresentou frutos e Vinales na Yamaha já mostrou serviço. Marc Márquez, o mais jovem campeão de todos os tempos está em ótima fase, assim como os pilotos das equipes satélite marcam presença constante nos pódios.



Rivalidades

As rivalidades no MotoGP são mais intensas que em qualquer outro esporte. Em 2015 Valentino Rossi e Jorge Lorenzo, ambos da equipe de fábrica da Yamaha, entraram na penúltima corrida da temporada em Sepang como candidatos ao título e separados por apenas onze pontos. Na conferência de imprensa que precede os GPs Rossi acusou o espanhol Marc Márquez de deliberadamente prejudica-lo na pista para favorecer o compatriota. A controvérsia migrou para a pista onde a disputa terminou mal. Até hoje o incidente é controverso, valeu a Rossi uma pesada punição e na última prova da temporada o campeonato foi decidido em favor de Lorenzo.

Este tipo de rivalidade não acontece na F1. O GP da Hungria em Hungaroring (2017) foi muito claro ao comprovar que as principais decisões são tomadas fora das pistas. A escuta do rádio entre carros e equipes mostrou várias ocasiões onde Kimi Raikonen, com um carro mais veloz, pedia autorização para ultrapassar o líder Sebastian Vettel. As últimas voltas da prova também mostraram a pantomina da troca de posições entre Hamilton e Bottas da Mercedes. O incrível foi muitos repórteres que cobriam o evento enalteceram estas atitudes como prova da lealdade dos pilotos com as equipes. A MotoGP não contempla este tipo de manipulação, competições não são jogos de cartas marcadas.



Esforço Físico

Imaginar que um piloto sentar na moto e acelerar é suficiente equivale pensar que Neymar espere a bola fazer todo o seu trabalho. Pilotar uma máquina da MotoGP exige grande esforço físico para suportar 1,2 g de desaceleração em freadas para contornar uma curva (a F1 tem valores semelhantes) enquanto simultaneamente administra inclinações de uma máquina de 153 kg que beiram aos 65 graus, tudo isto acomodado em uma posição agachada. Alguns ainda desenvolvem uma condição chamada “arm pump” onde seus músculos do antebraço são submetidos a esforços brutais em uma corrida e incham até quase dobrar de tamanho. A membrana que encapsula os músculos não expande e causa uma dor aguda ao realizar qualquer movimento.


Quedas


Por mais que se queira evitar, quedas em testes e provas são espetaculares. A temporada de 2016 contabilizou 267 quedas em eventos oficiais (FP1, FP2, FP3, FP4, Warm up, Q1, Q2 e GP). O campeão neste quesito foi Cal Crutchlow da LCR (27 quedas), seguido de Jack Miller da Marc VDS (26) e o campeão Mark Márquez da HRC (16). Por sorte a imensa maioria é do tipo “low side” quando uma das rodas perde aderência durante uma inclinação e a moto desliza para fora da pista. Quedas mais perigosas são as chamadas “high side” que acontecem quando a roda traseira perde momentaneamente a aderência, desliza e readquire a tração, catapultando o piloto. Quase não existem ocorrências de abalroamentos na pista, um piloto cair e levar outro junto são mais frequentes. Para um esporte onde o para-choque dianteiro é o capacete do piloto, acidentes com fraturas acontecem, incapacitantes são muito raros e óbitos quase inexistem.

Carlos Alberto

Nenhum comentário:

Postar um comentário