Os
fins de semana são normalmente dedicados ao descanso no sentido mais amplo, não
apenas repouso físico. Muitos dedicam estes momentos para curtir a terapia da
gasolina, assistir provas de veículos motorizados. O cardápio é amplo, Nascar,
Stockcar, Monopostos, Truck, Motos, Eletricos, etc. A cereja do bolo tem sido a Fórmula 1, o
ápice do esporte motorizado, que ultimamente tem a sua liderança na atenção dos
telespectadores contestada pelo mundial de motovelocidade da FIM, a MotoGP.
A
audiência da MotoGP cresce por inúmeras razões, algumas listadas abaixo:
Valentino Rossi
Não
há um atleta em atividade com mais conquistas que o italiano Valentino Rossi. O
piloto, que já conquistou nove títulos mundiais e 115 vitórias em GPs, é uma
verdadeira divindade para os seguidores do esporte. O “Doutor” tem mais de duas
décadas nas pistas e continua a competindo em condições de igualdade com a
elite dos pilotos atuais, alguns com pouco mais da metade da sua idade. Uma
maneira simples de qualificar Valentino Rossi é reconhecer que, além de ser um
cara bom, ele é um bom cara, consegue conciliar sua carreira ainda vitoriosa de
piloto de competições com uma presença notável fora das pistas, desenvolveu em
paralelo com sua atividade esportiva uma bem-sucedida atuação empresarial. Sua
característica de dedicar-se ao esporte e fazer disto uma diversão conquistou
fãs em todo o planeta, o que pode ser comprovado em qualquer circuito pela
presença de bandeiras amarelas com o número 46. Algumas de suas comemorações
por vitórias extrapolam os limites da imaginação, ao conquistar o seu nono
título mundial na prova da Malásia em 2009 vestiu uma camiseta com a estampa
“Galinha velha ainda dá bom caldo” e comemorou com um frango vivo trajado como
piloto e com capacete. Valentino no montou uma competente equipe de assessores
para suporte às suas atividades dentro e fora das pistas, é um piloto que
transcende aos limites do esporte.
Posicionamento do Corpo
Velocidade
é importante, mas a técnica que o piloto utiliza maximizando o ângulo de
inclinação da moto nas curvas faz a diferença. Ao assistir uma prova de MotoGP
os competidores parecem desafiar a gravidade nas curvas com inclinações do
veículo em mais de 65 graus da vertical, apenas para efeitos de comparação,
tentar inclinar mais de 50 graus com uma moto comum é certeza de queda.
Posicionar o corpo de modo a compensar o conjunto de forças que mantém o
equilíbrio da moto nestas condições é uma tarefa importante e para proteger a
patela e os cotovelos do piloto são utilizados protetores com uma polegada de
espessura fixos em seus trajes de competição. Embora resistentes e feitos de
plástico especial para resistir as altas temperaturas devido ao atrito,
resultam seriamente avariados no final de cada prova.
O contato físico corporal entre pilotos não é desejável, porém possível. Em
outras competições motorizadas, na pior das situações existe sempre parte da
carroceria entre um piloto e outro, a MotoGP não tem nenhuma barreira física.
Se um piloto pretende realizar uma ultrapassagem, provavelmente não tenha muito
espaço disponível e as margens de erro são reduzidas consideravelmente. Para
contextualizar, a área de apoio do pneu com a pista é aproximadamente o mesmo
tamanho de um cartão de crédito e ultrapassagens são realizadas em alta
velocidade, qualquer correção de rumo pode resultar em contato pessoal. Estas
ocorrências podem ser acompanhadas na TV, incluindo o dedo médio apresentado por um piloto que se sente prejudicado por um rival mais
desastrado.
45
Minutos de Solidão
Na
MotoGP não há como culpar a equipe por decisões desastradas durante um GP.
Depois que a largada é autorizada não há conversas de rádio, trocas de pneus,
reabastecimento e, principalmente, estratégias de equipe. É corrida pura,
ininterrupta e o desempenho do equipamento e habilidade do piloto são
determinantes para o resultado. A únicas informações transmitidas pela equipe
para os pilotos são pequenas mensagens no painel de instrumentos e um vislumbre
momentâneo de placas na reta dos boxes. Mesmo que as equipes sinalizem, a
decisão de seguir ou não conselhos depende exclusivamente do piloto.
No
GP da Alemanha de 2016 em Valentino Rossi ignorou reiteradas chamadas da Yamaha
para troca de moto nos boxes (corrida flag-to-flag) e entregou a vitória para o
rival Marc Márquez, a decisão era prerrogativa exclusiva dele. Um veículo com
equilíbrio frágil se deslocando em alta velocidade não é um lugar adequado para
prestar atenção a um aviso no painel, Hector Barbera aprendeu isto este ano no
GP da Alemanha, queimou a largada e foi penalizado com um ride-through,
indicado via mensagem em seu painel de controle. O piloto não atentou para a
mensagem e acabou recebendo uma bandeira preta.
Ultrapassagens
Este
item deve ser qualificado, todas as provas automotivas apresentam variados
tipos de ultrapassagens, é o que estimula a acompanhar competições (existem os
espectadores que preferem os “lamentáveis acontecimentos”, não é o caso da
maioria). Em uma corrida, a troca de posições
entre os primeiros colocados atrai mais que deixar para trás competidores
retardatários. O índice de ultrapassagens entre líderes na MotoGP supera
qualquer outra competição, à exceção talvez das realizadas em pistas ovais. O
GP da Austrália em 2015 foi uma corrida emblemática, houve 52 ultrapassagens
entre os quatro primeiros colocados (Márquez, Lorenzo, Iannone e Rossi). Outro
exemplo, na Catalunha em 2009 Valentino Rossi e o companheiro de equipe e
candidato ao título Jorge Lorenzo protagonizaram uma batalha épica, trocaram a
liderança quatro vezes na última volta. Nas palavras da lenda da F1 Niki Lauda, " A MotoGP oferece o espetáculo mais incrível que pode ser visto nas pistas”.
Idade
de Ouro
A
MotoGP está em uma temporada espetacular em uma época onde a F1 perde
espectadores. O mais reverenciado piloto em ação, Valentino Rossi, ainda mostra
fôlego suficiente para competir com a nova geração de pilotos. O protagonismo
de Yamaha e Honda está diluindo, a temporada passada registrou nove pilotos
diferentes com vitórias. A aposta da Ducati em Jorge Lorenzo ainda não
apresentou frutos e Vinales na Yamaha já mostrou serviço. Marc Márquez, o mais
jovem campeão de todos os tempos está em ótima fase, assim como os pilotos das
equipes satélite marcam presença constante nos pódios.
Rivalidades
As
rivalidades no MotoGP são mais intensas que em qualquer outro esporte. Em 2015
Valentino Rossi e Jorge Lorenzo, ambos da equipe de fábrica da Yamaha, entraram
na penúltima corrida da temporada em Sepang como candidatos ao título e
separados por apenas onze pontos. Na conferência de imprensa que precede os GPs
Rossi acusou o espanhol Marc Márquez de deliberadamente prejudica-lo na pista
para favorecer o compatriota. A controvérsia migrou para a pista onde a disputa
terminou mal. Até hoje o incidente é controverso, valeu a Rossi uma pesada
punição e na última prova da temporada o campeonato foi decidido em favor
de Lorenzo.
Este
tipo de rivalidade não acontece na F1. O GP da Hungria em Hungaroring (2017) foi muito
claro ao comprovar que as principais decisões são tomadas fora das pistas. A
escuta do rádio entre carros e equipes mostrou várias ocasiões onde Kimi
Raikonen, com um carro mais veloz, pedia autorização para ultrapassar
o líder Sebastian Vettel. As últimas voltas da prova também mostraram a
pantomina da troca de posições entre Hamilton e Bottas da Mercedes. O incrível
foi muitos repórteres que cobriam o evento enalteceram estas atitudes como
prova da lealdade dos pilotos com as equipes. A MotoGP não contempla este tipo
de manipulação, competições não são jogos de cartas marcadas.
Esforço
Físico
Imaginar
que um piloto sentar na moto e acelerar é suficiente equivale pensar que Neymar espere a bola fazer todo o seu trabalho. Pilotar uma máquina da MotoGP exige
grande esforço físico para suportar 1,2 g de desaceleração em freadas para
contornar uma curva (a F1 tem valores semelhantes) enquanto simultaneamente
administra inclinações de uma máquina de 153 kg que beiram aos 65 graus, tudo
isto acomodado em uma posição agachada. Alguns ainda desenvolvem uma condição
chamada “arm pump” onde seus músculos do antebraço são submetidos a esforços
brutais em uma corrida e incham até quase dobrar de tamanho. A membrana que
encapsula os músculos não expande e causa uma dor aguda ao realizar qualquer
movimento.
Quedas
Por
mais que se queira evitar, quedas em testes e provas são espetaculares. A
temporada de 2016 contabilizou 267 quedas em eventos oficiais (FP1, FP2, FP3,
FP4, Warm up, Q1, Q2 e GP). O campeão neste quesito foi Cal Crutchlow da LCR
(27 quedas), seguido de Jack Miller da Marc VDS (26) e o campeão Mark Márquez da HRC
(16). Por sorte a imensa maioria é do tipo “low side” quando uma das rodas
perde aderência durante uma inclinação e a moto desliza para fora da pista. Quedas
mais perigosas são as chamadas “high side” que acontecem quando a roda traseira
perde momentaneamente a aderência, desliza e readquire a tração, catapultando o
piloto. Quase não existem ocorrências de abalroamentos na pista, um piloto cair
e levar outro junto são mais frequentes. Para um esporte onde o para-choque
dianteiro é o capacete do piloto, acidentes com fraturas acontecem,
incapacitantes são muito raros e óbitos quase inexistem.
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