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O sinal de alarme surgiu em
Sepang em 2016, as arquibancadas do autódromo estavam parcialmente vazias
durante o GP de Fórmula 1, na prova da MotoGP as bilheterias indicaram lotação
total. Os números da audiência da TV confirmam, a F1 perdeu um terço de seus
telespectadores nos últimos anos, perto de 400 milhões, enquanto a MotoGP
indica que alcança 300 milhões de unidades residenciais, algo em torno de 1,2
bilhão de pessoas. Os números não são excludentes, a F1 com certeza ainda tem mais
público, a queda no número de telespectadores também se deve a provas longas,
custos crescentes das transmissões e fuga da TV aberta. Independente disso, há
um sentimento que F1 fica cada vez menos atrativa e a MotoGP cresce.
Algumas razões para este
comportamento do público são óbvias, a MotoGP permanece inalterada enquanto a
F1 está constantemente modificando regras. A tendência da F1 em oferecer risco
zero para os pilotos está afastando os fãs, modificando trechos desafiadores
como a Eau Rouge de Spa, Peraltada dos Hermanos Rodrigues e recentemente
seccionando a Reta Mistral em Paul Ricard cria espetáculos pasteurizados onde
os condutores não são mais gladiadores correndo riscos para atingir seus
objetivos. Na MotoGP o público visualiza o perigo na inclinação de uma tomada de uma curva e entende o que individualiza cada piloto.
Existem outras características
que diferenciam F1 e MotoGP:
MotoGP é mais atraente
Ter a primeira posição no
grid de largada não é importante na MotoGP. Enquanto na F1 em alguns
autódromos, Mônaco ou Hungaroring por exemplo, contornar a primeira curva na
largada é quase como garantir a vitória, na MotoGP esta posição inicial é
importante, mas não vital. Uma prova da F1 dura entre uma hora e meia e duas
horas, a MotoGP quando muito uns 45 minutos, as coisas na pista acontecem muito
mais rápido. O início de uma prova da MotoGP é sempre eletrizante, todos os
pilotos disputando cada centímetro da pista, com manobras agressivas aproveitando os erros dos competidores, esbarrões acontecem, mas a disputa
é travada de forma justa e limpa.
Houve uma prova em 2015, na
Austrália em Phillip Island, em que quatro pilotos disputaram a vitória o tempo
todo, disputaram mesmo trocando posições, não apenas andando em fila indiana
muito próximos. O primeiro lugar foi decidido na última volta, faltando duas
curvas para a bandeirada final. Em 2016 em Mugello, uma ultrapassagem nos
últimos 5 metros da pista decidiu a vitória de Lorenzo sobre Márquez, a
diferença final entre eles foi de 0,019 segundos. A F1 só apresentou algo semelhante
este ano, com a ultrapassagem de Bottas sobre Stroll em Baku, acrescente-se que não houve surpresa, o equipamento do finlandês era infinitas vezes melhor que o do canadense.
Pilotos diferenciados
Poucas pessoas no mundo têm
capacidade de comandar uma máquina de pouco mais de 150kg com mais de 260hp. Durante
a temporada da MotoGP praticamente não existe vida social, não há registros de
pilotos em baladas, entretanto quando uma prova termina a alegria é geral e
todos se felicitam, como se fossem sobreviventes de uma grande batalha. Há
pilotos de todos os tipos, a velha lenda que já viu de tudo, o operário, o
consistente, o técnico e os esforçados aspirantes a ídolos. Todos agregam uma
legião de fãs e compartilham o amor pela velocidade e o respeito por seus
colegas na pista.
O comprometimento é total, o de um dos pilotos mais bem-sucedidos dos últimos anos, Jorge Lorenzo, pôde
ser comprovado no GP da Holanda em 2013, acidentou-se nos treinos de
sexta-feira e quebrou uma clavícula, foi operado no dia seguinte na Espanha e
no domingo alinhou no grid de largada. Recebeu a bandeira xadrez em 5º lugar. O
veterano piloto da Honda Dani Pedrosa já contabiliza mais de 28 fraturas,
continua disputando provas.
Maior Interesse para o Público
Não há gaiola de segurança
para o piloto em uma corrida de motos. Seus acertos são recompensados por permanecer
na pista, seus erros por uma queda nas áreas de escape. O piloto é a única
autoridade no comando de seu veículo, a comunicação com a equipe é
unidirecional, só recebe, estratégias do pessoal de apoio são repassadas por
placas na reta dos boxes ou pequenas mensagens enviadas via rádio. Não existe a
pressão de pilotos sobre a direção da prova, para os adversários permitirem a ultrapassagem ou a
negociação com a equipe sobre quem deve ficar na frente. Não há espelhos nas
motos, para saber quem está atrás o piloto precisa virar a cabeça, precisa ser
muito corajoso para fazer isso 150 milhas por hora.
Ultrapassagens estão no DNA das Motos
Dois F1 entrando juntos em
uma curva é certeza que partes de pelo menos um deles vão ser recolhidas da
pista, uma colisão é inevitável. Trocas de posições na F1 são quase
exclusividade a partir de orientações dos boxes, aceleração em retas e zonas de
DRS. O universo das motos é diferente, os veículos são menores, ocupam menos
espaço e são construídos para permitir a ultrapassagem. Em todas as provas da
MotoGP existem ocasiões em que vários veículos entram juntos no contorno de uma
curva. A física indica que dois corpos não podem ao mesmo tempo ocupar o mesmo
lugar no espaço, em algumas ocasiões a MotoGP parece desafiar esta regra.
Regulamento Excessivo da F1
O estado da arte em
engenharia dos fabricantes regulamentado até ao mais ínfimo detalhe, motores
híbridos e eficientes com a precisão de um relógio suíço. Pistas com extensas
áreas de escape, discussões via rádio, pilotos reclamando do comportamento de
outros na pista, penalidades em vez de cascalho e pilhas de pneus de borracha. Condutores mimando seus pneus durante a corrida, controlando o consumo de
combustível e projetando ultrapassagens de acordo com a estratégia, muitas
vezes durante os pit-stops. Volantes que se parecem com controles de
videogames, pilotos protegidos por gaiolas de segurança e, no futuro,
escondidos por uma havaiana de carbono-kevlar, conferências de imprensa com a
repetição de jargões pré-concebidos e muita e perfumaria, acrescente-se a isto
os circuitos sonolentos projetados por Hermann Tilke e está pronta a receita
para a F1 perder prestígio
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