quarta-feira, 9 de agosto de 2017

F1 & MotoGP – Qual a Melhor

O Melhor dos Dois Mundos
O sinal de alarme surgiu em Sepang em 2016, as arquibancadas do autódromo estavam parcialmente vazias durante o GP de Fórmula 1, na prova da MotoGP as bilheterias indicaram lotação total. Os números da audiência da TV confirmam, a F1 perdeu um terço de seus telespectadores nos últimos anos, perto de 400 milhões, enquanto a MotoGP indica que alcança 300 milhões de unidades residenciais, algo em torno de 1,2 bilhão de pessoas. Os números não são excludentes, a F1 com certeza ainda tem mais público, a queda no número de telespectadores também se deve a provas longas, custos crescentes das transmissões e fuga da TV aberta. Independente disso, há um sentimento  que F1 fica cada vez menos atrativa e a MotoGP cresce.
Algumas razões para este comportamento do público são óbvias, a MotoGP permanece inalterada enquanto a F1 está constantemente modificando regras. A tendência da F1 em oferecer risco zero para os pilotos está afastando os fãs, modificando trechos desafiadores como a Eau Rouge de Spa, Peraltada dos Hermanos Rodrigues e recentemente seccionando a Reta Mistral em Paul Ricard cria espetáculos pasteurizados onde os condutores não são mais gladiadores correndo riscos para atingir seus objetivos. Na MotoGP o público visualiza o perigo na inclinação de uma tomada de uma curva e entende o que individualiza cada piloto.
Existem outras características que diferenciam F1 e MotoGP:
MotoGP é mais atraente
Ter a primeira posição no grid de largada não é importante na MotoGP. Enquanto na F1 em alguns autódromos, Mônaco ou Hungaroring por exemplo, contornar a primeira curva na largada é quase como garantir a vitória, na MotoGP esta posição inicial é importante, mas não vital. Uma prova da F1 dura entre uma hora e meia e duas horas, a MotoGP quando muito uns 45 minutos, as coisas na pista acontecem muito mais rápido. O início de uma prova da MotoGP é sempre eletrizante, todos os pilotos disputando cada centímetro da pista, com manobras agressivas aproveitando os erros dos competidores, esbarrões acontecem, mas a disputa é travada de forma justa e limpa.
Houve uma prova em 2015, na Austrália em Phillip Island, em que quatro pilotos disputaram a vitória o tempo todo, disputaram mesmo trocando posições, não apenas andando em fila indiana muito próximos. O primeiro lugar foi decidido na última volta, faltando duas curvas para a bandeirada final. Em 2016 em Mugello, uma ultrapassagem nos últimos 5 metros da pista decidiu a vitória de Lorenzo sobre Márquez, a diferença final entre eles foi de 0,019 segundos. A F1 só apresentou algo semelhante este ano, com a ultrapassagem de Bottas sobre Stroll em Baku, acrescente-se que não houve surpresa, o equipamento do finlandês era infinitas vezes melhor que o do canadense.
Pilotos diferenciados
Poucas pessoas no mundo têm capacidade de comandar uma máquina de pouco mais de 150kg com mais de 260hp. Durante a temporada da MotoGP praticamente não existe vida social, não há registros de pilotos em baladas, entretanto quando uma prova termina a alegria é geral e todos se felicitam, como se fossem sobreviventes de uma grande batalha. Há pilotos de todos os tipos, a velha lenda que já viu de tudo, o operário, o consistente, o técnico e os esforçados aspirantes a ídolos. Todos agregam uma legião de fãs e compartilham o amor pela velocidade e o respeito por seus colegas na pista.
O comprometimento é total, o de um dos pilotos mais bem-sucedidos dos últimos anos, Jorge Lorenzo, pôde ser comprovado no GP da Holanda em 2013, acidentou-se nos treinos de sexta-feira e quebrou uma clavícula, foi operado no dia seguinte na Espanha e no domingo alinhou no grid de largada. Recebeu a bandeira xadrez em 5º lugar. O veterano piloto da Honda Dani Pedrosa já contabiliza mais de 28 fraturas, continua disputando provas.
Maior Interesse para o Público
Não há gaiola de segurança para o piloto em uma corrida de motos. Seus acertos são recompensados por permanecer na pista, seus erros por uma queda nas áreas de escape. O piloto é a única autoridade no comando de seu veículo, a comunicação com a equipe é unidirecional, só recebe, estratégias do pessoal de apoio são repassadas por placas na reta dos boxes ou pequenas mensagens enviadas via rádio. Não existe a pressão de pilotos sobre a direção da prova, para os adversários permitirem a ultrapassagem ou a negociação com a equipe sobre quem deve ficar na frente. Não há espelhos nas motos, para saber quem está atrás o piloto precisa virar a cabeça, precisa ser muito corajoso para fazer isso 150 milhas por hora.  
Ultrapassagens estão no DNA das Motos
Dois F1 entrando juntos em uma curva é certeza que partes de pelo menos um deles vão ser recolhidas da pista, uma colisão é inevitável. Trocas de posições na F1 são quase exclusividade a partir de orientações dos boxes, aceleração em retas e zonas de DRS. O universo das motos é diferente, os veículos são menores, ocupam menos espaço e são construídos para permitir a ultrapassagem. Em todas as provas da MotoGP existem ocasiões em que vários veículos entram juntos no contorno de uma curva. A física indica que dois corpos não podem ao mesmo tempo ocupar o mesmo lugar no espaço, em algumas ocasiões a MotoGP parece desafiar esta regra.
Regulamento Excessivo da F1
O estado da arte em engenharia dos fabricantes regulamentado até ao mais ínfimo detalhe, motores híbridos e eficientes com a precisão de um relógio suíço. Pistas com extensas áreas de escape, discussões via rádio, pilotos reclamando do comportamento de outros na pista, penalidades em vez de cascalho e pilhas de pneus de borracha. Condutores mimando seus pneus durante a corrida, controlando o consumo de combustível e projetando ultrapassagens de acordo com a estratégia, muitas vezes durante os pit-stops. Volantes que se parecem com controles de videogames, pilotos protegidos por gaiolas de segurança e, no futuro, escondidos por uma havaiana de carbono-kevlar, conferências de imprensa com a repetição de jargões pré-concebidos e muita e perfumaria, acrescente-se a isto os circuitos sonolentos projetados por Hermann Tilke e está pronta a receita para a F1 perder prestígio



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