Um autor desconhecido,
provavelmente um matemático extasiado com o visual das garotas em uma praia,
criou a frase “Estatística é como biquíni, mostra tudo menos o essencial”.
Decididamente não faz sentido comparar resultados de eventos diferentes,
ocorridos em ocasiões distintas e sob condições desiguais para basear uma única
conclusão. Poucos discordam que Valentino Rossi é o maior nome do motociclismo
esportivo nos dias atuais, embora o consenso desapareça se o espectro for
ampliado até os primeiros campeonatos mundiais organizados pela FIM desde 1949.
Analisando exclusivamente
campeonatos obtidos ou número de vitórias Giacomo Agostini é o líder
inconteste, 15 mundiais, 8 na principal categoria, 122 vezes no degrau mais
alto do pódio. Rossi está muito próximo, 7 mundiais na classe de maior potência
e 115 vitórias no total. Outro nome que se destaca é Angel Nieto, que nas
categorias de menor cilindrada venceu 90 vezes e conquistou 13 (12+1) títulos.
Se na comparação for acrescida a contribuição para divulgação do esporte e/ou
sucesso financeiro pessoal, Rossi é imbatível.
Valentino Rossi é o maior
vencedor desde 2002, depois da MotoGP ter sido totalmente
reestruturada. A
carreira do italiano neste período pode ser dividida em duas fases, antes e
depois da Ducati. Nos anos anteriores à sua mudança para a fábrica italiana
Rossi havia disputado 153 GPs e vencido 66, depois de dois anos com a Ducati
sem nenhum triunfo, de volta à Yamaha em 83 provas conseguiu 10 vitórias. Esta
mudança de produtividade em muito se deve a ascensão de pilotos espanhóis que
disputam o mundial, nos últimos 5 anos Jorge Lorenzo venceu 21 vezes, Marc
Márquez 32 e Dani Pedrosa 8.
Red Bull Ring é um circuito
de layout simples, basicamente três retas conectadas por curvas à direita e um
miolo com um longo contorno à esquerda, tudo distribuído em um desnível de 65
m. É o circuito mais veloz do calendário da MotoGP e, nos dias que antecederam
a prova a inconstância do clima provocou sérias discussões sobre a
possibilidade de sua realização com chuva, a velocidade de aproximação das
curvas é muito alta e alguns muros muito próximos. No domingo o tempo esteve
firme, o GP foi fantástico, candidato a ser classificado como um dos dez
melhores de todos os tempos, houve disputa pela liderança, disputa por posições
intermediárias e uma indefinição que durou até a última curva da última volta
para coroar um vencedor.
A equipe oficial da Yamaha
decepcionou, sexto e sétimo lugares não são colocações esperadas pelo
investimento da fábrica e potencial dos pilotos. Mais constrangedor ainda
porque pela quarta vez em onze provas as máquinas da equipe oficial ficam atrás
da Tech3, satélite que utiliza equipamentos da temporada passada. Na prova o
maior problema de Rossi e Vinales foi o pneu traseiro. O pneu de Rossi durou
doze das 28 voltas, depois a moto ficou complicada para pilotar. Este tem
sido um problema recorrente nas últimas corridas, por alguma razão, a Yamaha M1
2017 consome muito o pneu traseiro e, enquanto ele dura, a moto tem aderência e
é rápida. A proeza de Johann Zarco com a Tech3 não é tão notável assim, ele
terminou a prova 7 segundos atrás dos líderes e, em MotoGP, este tempo é quase
uma eternidade.
Na última semana o jornal
de Roma “La Republica”, o segundo diário mais importante na Itália (depois do
“Corriere della Sera” de Milão) publicou declarações de Alessio Salucci, o
Uccio, amigo pessoal e membro da equipe de Valentino, que o piloto cogita
estender o contrato com a Yamaha que se encerra em 2018. Esta hipótese só é
viável se ele tiver condições plenas de lutar pelo campeonato, caso contrário
irá ceder o seu lugar a outro piloto. Uccio acredita que haverá um contrato
depois de 2018, talvez por um ano, porque Rossi quer igualar o número de vitórias
e mundiais de Agostini.
Este ano ele já considera
perdido depois do frustrante resultado das Yamaha oficiais, Rossi ficou 9
segundos atrás do líder, 2,5 segundos atrás de Johann Zarco com uma Yamaha do
ano anterior e não conseguiu sequer disputar colocação com seu colega de
equipe. Depois da corrida fez críticas contundentes ao comportamento do
equipamento, citou que o núcleo que acompanha a equipe nas pistas tinha
esgotado a sua capacidade e que uma solução devia obrigatoriamente vir da
fábrica no Japão. A moto que encantou nos testes pré-temporada e venceu as
provas do Catar e Argentina piorou muito com as modificações introduzidas,
algumas a pedido de Rossi, durante a temporada. A troca de chassis criou
problemas em todos os itens essenciais em uma prova, aderência, aceleração e
velocidade final. Na Áustria a Yamaha utilizou a eletrônica para reduzir a
potência e tentar e reduzir o desgaste do pneu traseiro, obrigando os
condutores a ousar mais nas frenagens, característica incomum no estilo dos
pilotos da fábrica. Adicione-se a este caldo de cultura a deterioração
gradativa do ambiente interno da equipe. Um Rossi sem a possibilidade de
vitória não é exatamente uma pessoa feliz e Vinales está indignado por já
completar quatro provas este ano atrás da Tech3, que utiliza o equipamento do
ano passado. “Como isto é possível” perguntava nos boxes da Áustria. Não é
ainda a atmosfera de beligerância explícita das temporadas anteriores com
Lorenzo, mas o clima fraterno e amistoso do início do ano já não mais existe.
Parte do problema de
desempenho das Yamaha pode ser creditado a melhorias das concorrentes Honda e
Ducati. As evoluções da marca italiana contam com a colaboração de três pilotos
experimentados, Dovizioso, Lorenzo e Petrucci, que competem com a Desmosedici
2017, a Honda utiliza o feedback fornecido por Márquez, Pedrosa e Crutchlow
para adequar seus protótipos, em todas as outras equipes, incluindo a Yamaha,
só dois equipamentos 2017 participam do grid. Na Áustria a RC213V de Márquez e
Pedrosa mostrou sensíveis progressos em termos de retomada de aceleração, seu
maior problema nos dois anos anteriores, as Ducati estão freando melhor,
enquanto a M1 detona o pneu traseiro muito rápido.
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