Marc Márquez em Brno (República Checa)
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O multicampeão mundial de F1 Juan
Manuel Fangio costumava dizer que “Carreras
son Carreras”, uma forma sintética de descrever uma competição entre veículos
automotores, em um tempo onde uma corrida era apenas a disputa de velocidade. A
MotoGP transcende esta definição simplista, cada prova do calendário nos dias
atuais é, além de uma disputa entre pilotos e máquinas, um evento de mídia.
A atenção para a décima etapa
do Mundial de MotoGP deste ano não ficou restrita aos 87 mil espectadores que
pagaram ingresso no circuito de Brno, a cobertura da TV levou o espetáculo a 300
milhões de lares no mundo inteiro, para uma audiência estimada de 1,2 bilhões
de pessoas. Toda esta visibilidade tem um custo, a TV é um veículo com tempo
limitado, condicionado as grades de programação e subordinado à disponibilidade
de canais de transmissão via satélite. A pontualidade das provas é importante e
pode ser conferida em um “take” do relógio
Tissot marcando a hora de início.
No dia do GP da República Checa em Brno havia uma
chuva fina, que já tinha parado na hora do início da prova. O ideal para os
pilotos seria retardar a largada esperando a pista secar, entretanto há os
compromissos com a TV e, com alguns trechos do piso ainda encharcados, a direção da
prova decidiu manter o horário e declarar a prova como “wet race”, permitindo a troca de motos (flag-to-flag).
Que Marc Márquez é um piloto excepcional poucos
duvidam. Na prova de qualificação dia anterior ele inclinou demais em uma curva
e a moto começou a fugir, ele utilizou o cotovelo para alavancar a máquina, conseguiu
retomar o controle e minutos depois marcou a “pole position”. A genialidade do piloto não é extensiva à sua opção
por pneus. Para a prova ele foi um dos poucos que escolheu o pneu traseiro
macio, que não funcionou como o esperado. Marc largou na pole e ao completar a
primeira volta havia perdido a posição para Lorenzo, na segunda volta foi
ultrapassado por mais três competidores e decidiu trocar de moto, a reserva
estava configurada para pista seca e equipada com pneus slicks. A decisão de Marc e os seus resultados na pista provocou
uma reação em cadeia e causou um inédito congestionamento no pit lane, com direito até uma queda da
Suzuki de Iannone que ao entrar em seu box freou muito forte para evitar uma colisão com a Aprilia
de Aleix Espargaro que retornava para a pista.
Na sequência da prova Márquez, de pneus lisos,
chegou a virar 10 segundos mais rápido que qualquer outro piloto na pista. Foi
a sua vitória mais tranquila desde a imensa superioridade das Honda em 2014.
Mesmo passeando nas últimas voltas, chegou mais de 18 segundos à frente da
Yamaha de Vinales, o terceiro colocado, e 12 segundos de seu colega Pedrosa, o
segundo. Depois da prova Dani Pedrosa disse que se tivesse trocado de moto uma
volta antes, poderia ter disputado a liderança.
Provas com trocas de máquinas por mudança de características da pista são um pesadelo para as equipes, as configurações dos equipamentos são
diferentes para cada condição de piso, a Honda tinha as duas motos reservas
configuradas para pista seca. A Ducati havia optado por adequar todos os seus equipamentos
para uma corrida na chuva, quando ficou evidente que a pista estava secando
rapidamente, sinalizou para os pilotos a troca via rádio e, quando Lorenzo chegou no box, sua
moto não estava pronta. O espanhol terminou a prova com um equipamento complicado, a
frente acertada para piso seco e a traseira para pista molhada.
Valentino Rossi reconheceu que tem muita dificuldade
com corridas flag-to-flag. Lembrou que na Alemanha em 2016 decidiu
não seguir a orientação dos boxes para realizar a troca e o resultado foi péssimo,
em Brno o software de comunicação por rádio da Yamaha não estava
funcionando, a sinalização via placa o obrigou a uma volta a mais. Entrou nos boxes na liderança e voltou em 14º,
28 segundos atrás do líder Marc Márquez. Brincando com um repórter que o entrevistava,
Valentino lembrou que normalmente nestas provas (flag-to-flag) ele costumava ser o único estúpido, desta vez foram quarto ou
cinco os azarados que demoraram na pista mais que o necessário.
Outro piloto que teve a sua performance comprometida foi Alex Rins com sua Suzuki. A segunda moto estava estranha, parecia
desalinhada e deu muito trabalho. Depois da prova a equipe explicou que o
equipamento estava pronto para a troca quando foi atropelado e derrubado pela
moto de Iannone no incidente com Aleix Espargaro.
Os profetas do acontecido não cansam de louvar a “estratégia”
de Márquez e da Honda no GP da República Checa, poucos reconhecem que a troca
antecipada foi resultado de uma escolha inicial desastrada dos pneus para a
prova. Considerando que todas as previsões dos meteorologistas indicavam possibilidade
de chuva durante a prova, ele e a equipe tiveram muita sorte. Faz parte do
jogo, Telê Santana quando era treinador da equipe brasileira de futebol costumava dizer
que a seleção não é lugar para goleiro azarado. Na MotoGP também não.
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