segunda-feira, 22 de maio de 2017

MotoGP – As muito feias que me perdoem, a beleza é fundamental


Grid-Girls Monster, Repsol-Honda & Yamaha

O título foi portado da poesia, “Receita de mulher”, de Vinicius de Moraes. Beleza na concepção do poeta transcende ao impacto visual, é um conjunto de características tangíveis e intangíveis que identificam e individualizam uma mulher, cujo somatório define se é ela uma pessoa agradável ou não.

O evento de abertura da temporada europeia da MotoGP em Jerez foi caracterizado por uma ocorrência extra pista, Jerez de la Frontera é um município da província de Cádis, na comunidade autônoma da Andaluzia na Espanha, partidos políticos influentes na área intercederam junto aos organizadores, FIA & Dorna, para coibir exageros no modo de vestir das Grid-Girls. Foi uma incursão do politicamente correto no mundial de motociclismo. A ingerência é indevida, não cabe ao regulamento técnico de uma competição disciplinar os trajes das modelos contratadas para auxiliar o pessoal de retaguarda das equipes, segurando o guarda-sol para os pilotos no grid ou distribuindo material publicitário.  A atitude dos representantes da comunidade de Jerez replicou na Catalunha, onde será realizada a sétima etapa do campeonato no circuito de Barcelona. Pessoas da administração local já sugeriram que, além de maior decoro no modo de vestir das Grid-Girls, a competição deve evitar a distinção de gêneros estimulando a presença de Grid-Boys.

É um precedente preocupante. A MotoGP é uma competição que reúne a elite dos pilotos utilizando protótipos no estado da arte da tecnologia motorizada em duas rodas. O regulamento geral da competição contém uma série de restrições técnicas que promovem a equalização das condições de competitividade e não contempla restrições de gênero, raça ou credo, embora a maioria dos pilotos possa ser classificada como WASP (brancos com ascendência anglo-saxônica). A participação de mulheres nas principais categorias da MotoGP é um evento recente, a temporada de 2013 recebeu na Moto3 duas garotas espanholas, Maria Herrera e Ana Carrasco. Ana permaneceu na categoria até 2015, foi a primeira mulher a somar pontos na Moto3 e participa este ano do Mundial de Supersport 300 pilotando uma Kawasaki Ninja 300. Maria permanece na Moto3, onde já venceu GPs pelo Campeonato Espanhol. Com absoluta certeza as duas foram contratadas por seu desempenho nas pistas e não por seu visual ou por seu gênero.

As Grid-Girls da MotoGP são em geral menos ousadas que as análogas das provas promovidas pela American Motorcyclist Association (AMA), a maior organização de motociclismo do mundo, com mais de 300.000 associados e 4.000 eventos amadores por ano. A maioria dos eventos organizados pela AMA é direcionado para participantes amadores mais dependentes de patrocínios, modelos com vestes provocativas usualmente são utilizadas para atrair maior visibilidade.
Administrar o politicamente correto é complicado. Os promotores dos eventos respeitam a cultura e os costumes dos locais que hospedam as provas, durante anos o GP de Assen foi realizado aos sábados porque, no tempo em que a prova ainda era realizada em estradas fechadas ao tráfego (até os dias atuais a prova conserva o acrônimo TT de Tourist Trophy), não deveria prejudicar o acesso da comunidade local às igrejas aos domingos. A necessidade esvaiu-se com a mudança da prova para um circuito, entretanto a tradição foi mantida por muitos anos e só recentemente a competição adotou os dias padrões (sexta, sábado e domingo) de todos os outros GPs.

De acordo com a Teoria do Caos, sistemas complexos apresentam um fenômeno de instabilidade, por causa da sensibilidade às condições iniciais os resultados são imprevisíveis a longo prazo. A demanda por maior decoro no modo de vestir das Grid-Girls caracteriza a intromissão de pessoas estranhas ao esporte ditando regras de comportamento, a aceitação deste precedente pode conduzir a resultados inesperados.

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