Jerez
de la Frontera é um município da província de Cádis na comunidade autônoma da
Andaluzia, Espanha, está localizado no trecho do litoral voltado para o
Atlântico. É uma cidade com população em torno de 250 mil habitantes, conhecida
pela qualidade de seus vinhos (xerez), pelos centros de adestramento de
cavalos, por sua cultura musical (flamenco) e por seu autódromo.
O
Circuito Permanente de Jerez hospeda uma das quatro etapas da temporada 2017 da
MotoGP programadas para serem realizadas na Espanha, o atual traçado tem 4.428
metros e começou a ser utilizado em 1986. A pista de Jerez já sediou cinco GPs
da Espanha de Fórmula 1, de 1986 até 1990, e recepcionou duas vezes como Grande
Prêmio da Europa em 1994 e 1997. Nelson Piquet obteve sua última pole da F1 em
Jerez, em 1987. Atualmente a pista faz parte do calendário para a abertura da
temporada europeia do mundial de motovelocidade, também é um dos locais
escolhidos para testes por equipes da MotoGP e F1.
O
sucesso ou fracasso em uma prova da MotoGP é decidido pela atenção aos
detalhes, por exemplo, temperatura ambiente e do piso na hora da prova,
aderência e escolha de pneus. O primeiro dos quatro GPs programados para o
território espanhol colocou à prova a capacidade de pilotos e equipes, houve
uma diferença de 20° C entre o último ajuste dos pilotos no ‘warm up’ da manhã
e a hora da largada, algum aumento de temperatura era esperado, talvez não tão
significativo. Os pilotos que fixaram os parâmetros do setup e escolheram os
pneus de suas máquinas nesta sessão foram surpreendidos com condições diversas
na corrida.
Os
principais fatores que influenciaram o resultado da prova foram a alta
temperatura do ambiente e a aderência da pista, as equipes que souberam
trabalhar melhor com estas variáveis foram beneficiadas. O piso da pista de
Jerez não apresenta falhas ou (muitas) ondulações, mas tem 14 anos de idade,
foi recapeado pela última vez em 2003, significa que a aderência é menor que
outros circuitos e é complicado para manter a temperatura dos pneus na janela
ideal.
Baixa
aderência é uma condição conhecida, máquinas evoluem e pneus são modificados
para administrar estas mudanças, as técnicas de condução dos protótipos
permitem que alguns pilotos encontrem grip onde outros são prejudicados. O
somatório de condições da prova de Jerez privilegiou pilotos com uma tocada
suave como Pedrosa e Lorenzo, o segundo colocado Márquez não se enquadra neste
perfil, porém seu histórico indica que ele não costuma respeitar muito as leis
da física tradicional.
A
vitória de Pedrosa foi indiscutível e ele nunca andou no limite da capacidade
da Repsol-Honda, consistência e ritmo foram fatores decisivos e desde a largada
sua liderança não foi ameaçada, seu mais próximo competidor, o colega de equipe
Marc Márquez utilizou a sua estratégia habitual, não permitir ao líder
distanciar muito e tentar um ataque nas voltas finais, só que seus pneus
acabaram antes. Com a vitória Dani Pedrosa obteve um recorde notável, é o
primeiro piloto da história a vencer pelo menos uma corrida em 16 temporadas
consecutivas. Os pilotos da Honda explicaram que a moto não evoluiu muito desde
a última temporada, mas os técnicos conseguiram manter as características do
equipamento estáveis e eles tem mais confiança para explorar mais seus pontos
fortes e aprender com seus erros. O ponto de interrogação ainda está nos pneus,
que a Michelin ainda não consolidou um padrão.
O box
da Ducati revelou depois da prova uma euforia contida, euforia pelo primeiro
pódio de Lorenzo com a nova equipe e contida pelos quase quinze segundos que o
separaram do vencedor. O piloto que tem o mais alto salário no grid está se
adaptando à moto, a fábrica, por sua sugestão alterou a posição do condutor
para obter uma condição mais confortável e instalou o acionamento do freio
traseiro pelo polegar esquerdo, os resultados estão começando a aparecer.
Johann
Zarco tem sido o nome mais citado destas primeiras quatro etapas do mundial de
MotoGP. Sofreu uma queda enquanto liderava a primeira prova da temporada no
Catar e classificou-se entre os 5 primeiros nas outras três etapas. Em Jerez
conduziu uma Yamaha M1, versão 2016 de uma equipe satélite, para a quarta
colocação à frente dos dois pilotos da equipe da fábrica, Rossi e Vinales.
Zarco, bicampeão de Moto2, estava negociando no ano passado um assento na
equipe oficial da Suzuki para ser companheiro de Andrea Iannone e foi preterido
em favor de Alex Rins. O piloto francês já havia testado a Suzuki e ficou tão
irritado que cancelou a sua participação como piloto de uma das motos do
fabricante na icônica prova de resistência 8 horas de Suzuka. Johann Zarco classificou-se para o grid com a
sexta posição, fechou a primeira volta em 5°, a segunda em 3° e por instantes
andou na frente de Márquez na quarta volta, posteriormente foi ultrapassado por
Lorenzo na décima primeira, seu quarto lugar foi a melhor posição das motos
Yamaha na prova. Zarco, da equipe Tech 3, lidera o campeonato de pilotos
independentes, seguido por Cal Crutchlow da LCR Honda.
O
clima não foi legal nos boxes da Movistar-Yamaha depois da corrida. Maverick
Vinales, que insiste que não cometeu erro em sua queda nos EUA, não gostou da
6ª colocação, Valentino Rossi alegou que sua moto vibrava tanto que parecia
estar pilotando uma britadeira nas últimas voltas e pediu a pela sua antiga M1.
Depois de apenas quatro etapas e apesar de seus dois pilotos liderarem o
mundial o ambiente na Yamaha não é mais só alegria. Nada é dito em público,
porém em conversas ‘off the record’ os pilotos manifestam profundo desagrado
com o comportamento dos pneus Michelin.
A
prova de Jerez chamou a atenção por três fatos inusitados, o primeiro foi o
acidente durante o ‘warm up’ com o safety car pilotado por Franco Uncini,
campeão da classe 500cc em 1982 e um dos inspetores de segurança da FIM. O seu
BMW perdeu o controle e bateu forte contra as barreiras de proteção durante uma
volta de vistoria na pista. Uncini sofreu algumas contusões e o outro
passageiro, Sito Pons, ex-campeão do mundo das 250cc em 88 e 89, quebrou um
braço. O segundo foi a intervenção de alguns partidos políticos da Espanha que
pediram maior austeridade no modo de vestir das ‘grid-girls’, elas foram bem
mais discretas que o habitual, no entanto esta onda de moralidade relativa não
surtiu grande efeito nas ‘pit-babes’ que circulavam pelo ‘pit lane’. Por último
um daqueles fatos que a mídia costuma classificar de ‘incidentes lamentáveis”,
Jack Miller perdeu a cabeça e empurrou Álvaro Bautista após um incidente na
pista que causou a queda de ambos.
A
MotoGP nesta temporada lembra um antigo comercial de um bonequinho de brinquedo
chamado Falcon, “Cada dia uma nova aventura”.
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