sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

MotoGP - Atenção aos Detalhes (Combustível)

Localização do Tanque


Um antigo ditado chinês justifica a importância dos pequenos detalhes: "Por causa de um prego uma ferradura foi perdida, por causa da ferradura um cavalo foi perdido, por causa do cavalo uma mensagem não foi entregue, pela falta da mensagem uma batalha foi perdida e por causa da batalha perdeu-se a guerra". No universo da MotoGP existe o consenso que o sucesso em uma competição depende de uma conjunção de fatores, entre eles a capacidade técnica da equipe, disciplina, talento do piloto, disponibilidade de recursos financeiros e a cuidadosa atenção aos detalhes.


O consumo de combustível é um fator fundamental em uma competição. O GP de San Marino (Misano) em 2017 registrou um caso emblemático de um problema conhecido como pane seca. O piloto Johann Zarco que estava em sétimo ficou sem gasolina faltando poucos metros para a chegada. O francês da Tech3 perdeu várias posições e com grande esforço cruzou a linha final empurrando sua moto, conquistando um único ponto pela décima quinta colocação. O regulamento da competição permite que cada equipe escolha o seu fornecedor de combustível, desde que o produto esteja de acordo com rígidas especificações técnicas, e limita a capacidade do tanque em 22 litros. Este volume deve ser suficiente para percorrer as 28 voltas dos 4.318 metros do circuito Red Bull Ring, a prova mais longa do calendário (120,9km).


A engenharia do tanque de gasolina de um protótipo da MotoGP é diferenciada. O recipiente é posicionado de modo a harmonizar o equilíbrio do equipamento, considerando que o seu peso total diminui com o consumo durante uma prova. A estrutura interna é fracionada em pequenas células para impedir que o deslocamento de um grande volume do líquido altere o centro de gravidade do conjunto quando a máquina é inclinada em curvas. Durante algum tempo houve comentários nos boxes que algumas equipes estariam utilizando defletores internos para manter certa quantidade do líquido na parte da frente ou de trás do tanque, em busca de uma pequena vantagem com uma distribuição de peso diferente. A posição ideal para a pequena quantidade de combustível necessária em qualificações é distinta de um tanque cheio antes de uma prova.


O regulamento também é específico ao indicar limitações para a utilização de propriedades físicas do líquido que possam, de alguma forma, resultar em vantagem para algum competidor. O combustível utilizado no abastecimento pode ser resfriado um máximo de 15ºC em relação a temperatura ambiente. Esta regra foi introduzida por causa de suas propriedades físicas, um volume de 22 litros de gasolina com a temperatura de 15ºC pesa 16,5kg. Elevando para 25ºC o peso continua o mesmo, porém as características de dilatação aumentam o volume para 22,209 litros, que excede a capacidade do tanque. Com 5ºC o peso de 16,5kg do mesmo combustível ocupa 21,791 litros, ou seja, é possível pôr mais gasolina no tanque. Estes detalhes podem responder por milissegundos necessários para vencer uma prova, e são exaustivamente e ensaiados e analisados em laboratório e treinamentos antes de um GP.


Honda RC 213v com Protetor Térmico
Em algumas provas disputadas em condições de clima quente, a presença de Grid-Girls com guarda-sol não obedece apenas a critérios publicitários, comodidade dos pilotos ou aumentar a plasticidade visual do evento. A sombra serve também para proteger o depósito de gasolina da incidência direta de raios solares. Algumas equipes utilizam também o recurso de coberturas térmicas no grid de largada para limitar a variação de temperatura do tanque durante a espera.


Existem uma diversidade de fatores que influenciam o consumo de um protótipo. Carenagens para aumentar o arrasto aerodinâmico e proporcionar maior downforce permitem maior velocidade na entrada de curvas, porém obrigam o motor a produzir maior energia para retomar a velocidade e resultam em queimar mais gasolina. O modo agressivo ou suave do piloto no acionamento do acelerador e dos freios, a gestão eletrônica e escolha das configurações de mapeamento do motor são elementos que influenciam o consumo da máquina.

Mensagens do Box
Uma das maravilhas da MotoGP é impossibilidade de as equipes de apoio dos boxes interferirem na gestão do consumo durante uma prova. A telemetria ativa é proibida pelo regulamento, as decisões são exclusivas dos pilotos e o máximo que é permitido são mensagens enviadas para o painel da moto. A utilização deste recurso foi muito questionada durante os últimos GPs de 2017. Em Sepang e Valência a equipe Ducati enviou diversas orientações para Jorge Lorenzo com o texto Suggested Mapping: Mapping  8. Em tese o pessoal de apoio do box estava sugerindo o uso mais conservador dos recursos disponíveis (pneus e combustível), porém as colocações momentâneas durante a prova indicavam que se tratava de uma ordem direta para permitir a ultrapassagem do colega de equipe e aspirante ao título Andréa Dovizioso. Como a decisão de acatar ou não é exclusiva do piloto, em Valência Lorenzo optou por ignorar as indicações.

Ainda em relação as mensagens recebidas pelos pilotos, a Comissão de grandes prêmios, composta por representantes da Dorna, FIM, IRTA e MSMA, reunida na Suíça em 29 de novembro de 2017 decidiu manter para 2018 o procedimento utilizado no final de 2017, em conformidade com os protocolos de cronometragem da Dorna. A exigência principal é que qualquer mensagem enviada para o painel de controle do piloto deve ser disponibilizada simultaneamente para os comissários da prova e a cobertura da TV.

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