segunda-feira, 22 de maio de 2017

Meandros da Motovelocidade (VII. Ocupação Espanhola)


Pódio de Jerez 2017 – Márquez, Pedrosa & Lorenzo com o Rei Juan Carlos

Não há como ignorar, existe uma legião de entusiastas do motociclismo que professam um tipo de religião em torno de Valentino Rossi, e existem múltiplas razões para que isto aconteça, Valentino tem uma personalidade forte, é um administrador competente e, dos pilotos em atividade, é o que tem o maior número de vitórias e mundiais.

Valentino Rossi enfileirou cinco títulos mundiais entre 2001 e 2005, ciclo interrompido por Nicky Hayden em 2006 e Casey Stoner em 2007. Para a temporada seguinte, 2008, a Yamaha contratou como segundo piloto o bicampeão da classe 250cc, o espanhol Jorge Lorenzo. A notícia na época foi divulgada como uma declaração que a equipe estava preparando a substituição de Rossi, contratando um piloto vencedor e com 8 anos a menos. Rossi venceu os campeonatos de 2008 e 2009, porém em 2010 o espanhol fez uma temporada perfeita, terminou todas as 18 etapas, conquistou nove vitórias, sete pódios e marcou mais pontos que qualquer outro campeão na história dos mundiais. No final do ano a Yamaha propôs a Rossi um contrato para permanecer na equipe, desde que aceitasse um corte no salário e sem o status de piloto número um da equipe. Depois de uma década como um dos desportistas mais bem pagos do mundo ele podia não precisar do dinheiro, mas seu orgulho o impedia de aceitar o que considerava uma descortesia da equipe. Como o papel de protagonista na Repsol-Honda fora ocupado por Casey Stoner, Rossi decidiu aceitar o desafio de participar de uma equipe puro sangue italiana e assinou com a Ducati. Em seu retorno para a Yamaha, depois de dois anos de ostracismo, encontrou Lorenzo já bicampeão do mundo e com a carreira consolidada. Infelizmente para Rossi, o ano de 2013 também marcou a estreia de um novato na MotoGP pela equipe Repsol-Honda, o também espanhol Marc Márquez.

Domingo, 31 de outubro de 2010, clima hostil para provas de motovelocidade. Marc Márquez, 17 anos, na sua primeira temporada do Mundial de MotoGP classe 125cc havia conquistado 9 vitórias e alinhou para a largada na penúltima prova do campeonato, no circuito do Estoril. Na sua frente no grid um único piloto, Nico Terol, também postulante ao título. A diferença entre ambos eram escassos 12 pontos. Depois da largada as posições foram mantidas por seis voltas, até a prova ser interrompida por uma chuva intensa que tornou as condições da pista impraticáveis. Depois de estabilizar o tempo, na volta para alinhamento no grid para a relargada, Márquez caiu e danificou a carenagem da sua moto. A equipe trabalhou em um ritmo alucinado para permitir a sua volta, infelizmente não a tempo de alinhar na sua posição e ele foi obrigado a largar em décimo sexto, o último lugar.

Com a melhora do tempo e uma pilotagem extremamente agressiva, Márquez fechou a primeira volta da relargada em terceiro, atrás das duas motos da equipe Aspar Aprilia, Terol na frente, seguido de seu companheiro de equipe Bradley Smith. Márquez assumiu a segunda posição na terceira volta, perdeu a posição na sexta e a retomou na oitava. No início da volta nove, a última, Márquez ultrapassou Terol na curva 1 e os dois trocaram de posição mais duas vezes durante o percurso do circuito. Márquez venceu a corrida com uma diferença de 0,150 segundos, abriu 17 pontos de vantagem para a decisão do título em Valência. Pol Espargaró, que começou a corrida a 17 pontos de Márquez, errou na escolha de pneus e classificou-se em décimo, dando adeus às suas chances.

A Espanha reúne uma série de condições para o desenvolvimento do motociclismo esportivo, a existência de diversos circuitos com áreas de escape generosas, a paixão dos torcedores e a disponibilidade de investidores e patrocinadores. Os talentos são estimulados precocemente, com provas locais de minimotos em praticamente todos os fins de semana. Jorge Lorenzo ganhou sua primeira minimoto com 7 anos, Marc Márquez aos 4, Alex Márquez, irmão mais novo do atual campeão e já com um título mundial (Moto3 em 2014) seguiu o mesmo caminho.

Os pilotos são tratados como personalidades públicas, são regiamente remunerados, reconhecidos em público, frequentam manchetes de jornais e revistas e exploram grifes e patrocínios pessoais. Por questões tributárias, muitos buscam a proteção de paraísos fiscais, embora sua família esteja domiciliada em Cervera, na Catalunha, Marc Márquez mantém um endereço fiscal em Andorra, Lorenzo é de Palma de Maiorca e para efeitos tributários oficialmente mora na Suíça.

A elite dos pilotos de motos de competição está inscrita na classe principal da MotoGP, são 23 representantes de 7 nacionalidades, a maioria (10) são espanhóis, 4 são italianos e igual número britânicos. A França tem dois (Johann Zarco e Loris Baz), Austrália, Alemanha e República Checa contribuem com um piloto cada. Em termos de faixa etária, o decano Valentino Rossi, 38, é o mais experiente, 16 estão entre 25 e 32 anos e 7 tem 24 ou menos, incluindo o atual campeão do mundo Marc Márquez e seu mais provável desafiante, Maverick Vinales.

Nos últimos sete anos, com exceção de 2011 vencido por Casey Stoner, os campeonatos foram divididos entre os espanhóis Lorenzo (2010, 2012 & 2015) e Márquez (2013, 2014 & 2016), e as quatro primeiras provas desta temporada foram vencidas por Marc Márquez, Dani Pedrosa e duas por Maverick Vinales, um talento ascendente com apenas 22 anos.


Quatro das dezoito provas do mundial da MotoGP são realizadas em território espanhol, a abertura da temporada europeia é disputada em Jerez de la Frontera e existem provas programadas para Barcelona, na Catalunha, Motorland em Aragon e no circuito Ricardo Tormo em Valência. Jerez registrou em 2009 o maior público presente a uma etapa do mundial, 263.648 pessoas passaram pelas catracas do circuito nos três dias da competição.
A força da ocupação espanhola pode ser constatada nos resultados do último evento da MotoGP em Jerez, o pódio da prova principal foi só de espanhóis, o vencedor da Moto2 (Alex Márquez) e da Moto3 (Aron Canet) também são hispânicos.


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