quarta-feira, 17 de maio de 2017

Meandros da Motovelocidade (VIII – A Importância dos Pneus)




A vitória em uma etapa da MotoGP começa a ser construída nos primeiros treinos livres de sexta-feira, quando os pilotos tomam contato com a pista e iniciam a escolha do tipo de pneu que devem utilizar nas sessões de classificação no sábado e na prova no domingo.


A seleção de pneus é uma opção exclusiva do piloto, baseada no comportamento da moto durante as sessões de testes e qualificações, considerando as características da pista, condições do clima e temperatura do asfalto. O compromisso típico é aderência e longevidade, compostos mais macios entregam mais tração e desgastam mais rápido, pneus mais duros compensam a menor tração com maior durabilidade. Em uma competição a habilidade do piloto em gerenciar o desgaste dos pneus é quase tão importante quanto a capacidade de contornar curvas em alta velocidade. 

As regras da MotoGP permitiam até 2009 a “Guerra dos Pneus”, Dunlop, Michelin e Bridgestone competiam pelo privilégio de calçar as motos mais competitivas. A escalada de custos e o consequente desequilíbrio da competição obrigou o regulamento de 2007 a limitar o número de pneus poderiam ser utilizados por um piloto durante uma etapa, um máximo de 14 dianteiros e 17 traseiros para treinos, qualificação e a corrida. Esta limitação criou o problema de escolha de pneus versus tempo (entre outros fatores) que desafia os pilotos e equipes para otimizar seu desempenho nos dois dias que precedem a corrida. Este fator foi saudado com diferentes graus de entusiasmo pelos participantes, os Bridgestone e a Ducati dominaram a temporada, enquanto Yamaha e Honda padeciam com as limitações dos Michelin. Uma única equipe competiu este ano (2007) com pneus Dunlop, Yamaha Tech 3, que trocou o para a Michelin em 2008, no mesmo ano a Yamaha migrou para o fabricante japonês em venceu o mundial com Valentino Rossi. As regras de 2008 permitiam um número maior de unidades para o fim de semana, 18 dianteiros e 22 traseiros, a regra na época foi considerada uma desvantagem para os pilotos Michelin.

Em busca de menores custos e melhores condições de competitividade nas pistas, a FIM/Dorna  negociaram com a Bridgestone um contrato exclusivo de fornecimento de pneus para todas as equipes nos anos 2009, 2010 e 2011. A Bridgestone disponibilizou 4 especificações para o pneu dianteiro, 6 para o traseiro, um único para piso molhado e nenhum composto para exclusivo qualificação. Para cada pista o fabricante oferecia 2 especificações para a dianteira e duas para a traseira e os pneus eram atribuídos aos pilotos aleatoriamente para garantir a imparcialidade. Esta situação perdurou até o final de 2015, quando a fabricante japonesa descontinuou o contrato de fornecedor para a MotoGP, a entidade que administra os direitos comerciais da categoria abriu uma licitação, apenas uma fábrica apresentou proposta, a Michelin.

O retorno da Michelin às pistas foi complicado. Durante toda a temporada de 2016 os gestores e técnicos da fábrica francesa tentaram atender às demandas dos pilotos e características das motos adequando seus produtos. Registros internos da Michelin indicam que o número de desenvolvimentos realizados na temporada (2016) excedeu em número aos realizados nos sete anos em que a fábrica participou da antes de 2009.

A temporada atual disponibiliza três tipos de pneus slicks na frente e atrás, em 2016 só duas especificações  eram autorizadas por etapa. Os participantes do Q1 que classificarem-se para o Q2 tem um componente traseiro extra para compensar a dupla jornada (Q2/Q1). A partir do GP da Itália em 2016 foi introduzido um sensor para monitorar a pressão dos pneus e evitar a troca de acusações entre equipes e o fabricante francês, como aconteceu nos testes pré-temporada no acidente, felizmente sem maiores consequências, do piloto da Avintia Loris Baz. O pneu traseiro explodiu e o diagnóstico da equipe foi defeito de construção, para o fabricante a pressão estava abaixo do especificado. Uma utilidade extra do sensor é indicar, além da cor diferenciada, a estratégia das equipes para a mídia.

Pilotos demandam comportamento diferente para os pneus como forma de explorar as melhores características de seus equipamentos, há os que preferem contornar curvas com raio mais aberto e os que utilizam o freio com maior intensidade e trocam de direção em menor espaço. Encontrar um composto que seja apropriado para ambos os estilos não é uma tarefa simples. Em praticamente todas as provas, nas entrevistas depois do evento, uma das primeiras alegações dos pilotos é em relação aos pneus com explicações no mínimo confusas. Na prova de Jerez (2017) o vencedor (Pedrosa) utilizou compostos intermediários na frente, seu colega e equipe (Márquez) preferiu compostos duros, nas entrevistas do Park Ferme apesar de terem andado praticamente juntos toda a prova Márquez explicou que desistiu de tentar a vitória porque já não tinha confiança nos pneus que, em tese, teriam durabilidade maior. Os pilotos da Yamaha tiveram um desempenho pífio nesta prova e foram explícitos ao culpar os pneus. Rossi argumentou que a pista no sentido anti-horário tem mais curvas para a esquerda e, mesmo com um pneu assimétrico, a parede lateral deteriorou tanto que o melhor que conseguiu nas últimas voltas foi rodar de 3 a 4 segundos mais lento que os líderes. Estranho, a Yamaha de Johann Zarco aparentemente não enfrentou problemas.   

Com base na experiência adquirida desde na temporada passada a Michelin desenvolveu novos compostos, traseiro para fornecer mais tração e dianteiro mais resistente. São raros os elogios de pilotos para os fornecedores de pneus, quando eles funcionam bem não são citados, quando existe qualquer dificuldade a grita é geral.

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