Os protótipos da MotoGP são equipamentos complexos, diversos componentes
podem ser ajustados de acordo com as características de um circuito para criar
um conjunto extremamente competitivo durante uma competição. Existe um conjunto
de elementos relacionados com aspectos importantes da geometria do quadro de uma
moto de competição que podem ser modificados para cada condição de traçado ou
aderência de piso, são conhecidos por seus termos técnicos; rake, trail, wheelbase, centro de
gravidade, anti-squat e outros. Conceitualmente geometria é identificada
apenas com as medidas físicas do chassi da moto, entretanto estes números devem
ser relacionados de forma adequada para obter o melhor desempenho. Ajustar um
equipamento não é simples, enquanto rake e
trail são medidas diretas, anti-squat e outras variáveis resultam de uma combinação
de diversas dimensões.
Trail (trilha) é medida da distância do
contato do pneu entre a vertical da roda e o ponto onde o eixo de direção encontra
o piso. Outras medidas importantes que afetam diretamente a geometria do
equipamento são o rake, offset e diâmetro do pneu. Rake é a medida do ângulo do eixo de
direção em relação a vertical, offset é
o deslocamento entre a distância entre tubos do garfo e o eixo de direção
dianteiro.
Geometria Dianteira - Rake e Trail
O ajuste do trail não é direto e pode ser obtido alterando duas das três dimensões que o afetam, o rake e offset, já que o diâmetro do pneu é fixo e definido pelo regulamento da competição.
Geometria Traseira: Anti-Squat
O efeito de anti-squat é uma
combinação de duas forças. A primeira é a força motriz do pneu traseiro, que
atua apoiada no braço oscilante e tende a estender a suspensão traseira. Um
exemplo prático, se a moto for bloqueada por uma parede sólida e uma pressão
for exercida sobre o chassi, o ângulo do braço oscilante tende a reduzir
estender a distância entre eixos. A segunda força é da correia que atua sobre o
eixo e que também trabalha para ampliar a suspensão na maioria dos casos. A
magnitude da contribuição de anti-squat
da correia depende do ângulo e a da distância em relação ao braço oscilante. Estas
duas forças atuam em conjunto com o efeito giroscópio (Autoracing, 23 de maio
de 2016, MotoGP – O efeito giroscópio) para criar o melhor compromisso entre velocidade em retas e facilidade
no contorno de curvas.
Existem diversos modos para expressar a magnitude do efeito anti-squat. O mais simples é usar uma
porcentagem para indicar o quanto da transferência de peso é compensada, por exemplo,
se seu efeito compensa 75% da transferência de peso na aceleração e a suspensão
vai sofrer alguma pressão para baixo. Com 100% a transferência de peso é
perfeitamente equalizada e a suspensão não apresenta efeitos devido à
aceleração. Em mais de 100% reduz ângulo do braço oscilante e a suspensão é
alongada. Este valor pode ser calculado pela localização exata da roda dentada
dianteira, em conjunto com outras dimensões. O anti-squat é importante porque pode alterar o comportamento do
chassi na saída de uma curva. Normalmente algum squat é desejável para carregar
o pneu traseiro para maior tração, mas não pode ser suficiente para a roda
dianteira perder o contato com o piso.
Quando a suspensão traseira desce, o ângulo do braço oscilante pode
mudar consideravelmente em função das características anti-squat. Em traçados de circuitos com equilíbrio entre retas e
curvas a maioria das motos responde melhor se configuradas com o anti-squat pouco mais de 100% com a suspensão
totalmente estendida, o que significa maior eficiência na aceleração e
dirigibilidade nas saídas de curvas pela compensação da transferência de peso.
Centro de gravidade
Até este ponto nos referimos a ajustar o comportamento da frente ou traseira da moto, alterando o rake, offset ou trail. Evidente que em qualquer mudança que levanta ou baixa o equipamento inteiro é importante controlar, porque a altura da moto tem importância vital em sua dirigibilidade. Um modo de avaliar a contribuição de todos estes atributos é o conceito de Centro de Gravidade (CG), o ponto onde convergem todas as forças que atuam na transferência de carga, aceleração, frenagem e inclinação em curvas, ou seja, o ponto de equilíbrio da moto inteira. Na maioria das motos de competição o CG, incluindo o piloto, deve estar a meio caminho entre a roda dianteira e traseira.
A posição do CG influi no comportamento geral do
equipamento. Uma moto com o CG mais elevado gerencia melhor a retomada de
velocidade, frenagem e amplia os efeitos da transferência de peso, tende a trocar
de direção mais rápido e exige menor ângulo de inclinação para contornar uma
curva. Adiantar o CG ajuda a manter a extremidade dianteira para baixo, aquece
melhor o pneu dianteiro, contribui para ajudar com aderência frontal, mas a
extremidade traseira terá maior facilidade para subir durante a travagem e o
conjunto perder aderência. Baixar o CG pode significar menor arrasto, retomadas
de velocidade mais eficientes e velocidade em trechos retos.
Geometria dinâmica
O problema do ajuste ideal de uma moto é que fazer uma mudança em uma variável afeta um sem número de outros comportamentos na geometria,
especialmente em protótipos que devem obedecer a padronizações draconianas como
os equipamentos da MotoGP. Ainda assim as equipes conseguem ajustes limitados
com alterações realizadas de modo indireto. Por exemplo, a Yamaha M1 pode mudar
a altura de pivô do braço oscilante para conseguir maior anti-squat, mas isso também muda rake, trail e a altura do centro de gravidade. Muitas vezes uma
única alteração pode introduzir mais problemas que soluções. Aumentando a
complexidade, tudo o que foi citado acima é relacionado com o equipamento na
vertical e na maior distância entre eixos, condição que quase não acontece
durante uma prova.
Os números de geometria mudam constantemente à medida que a suspensão trabalha.
Em travagem, por exemplo, a suspensão frontal é quase totalmente comprimida e a
traseira estendida. Mudanças de peso, até pelo consumo de combustível alteram
significativamente o rake, trail e
CG. Os movimentos do braço oscilante e os ângulos da correia alteram o
comportamento da suspensão e podem até transformar um comportamento anti-squat em pró-squat em algumas condições.
As equipes de utilizam complexos software de simulação para prever o
comportamento de mudanças na geometria dos equipamentos, que calculam
características importantes baseadas em várias variáveis de entrada, entretanto
nada compara a sensibilidade dos pilotos em testes para encontrar as condições
ideais.
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