MotoGP – Tem método
Ao contrário de grandes
campeões como Giacomo Agostini e Valentino Rossi, que disputam com ele os
grandes números da categoria, a equipe de apoio de Marc Márquez praticamente
não muda desde a Moto2, e o piloto espanhol se esforça para continuar assim,
dentro e fora das pistas.
Ele já não tem mais o
comportamento de um garoto deslumbrado que iniciou na MotoGP em 2013 a disputa
com seus ídolos, com o tempo ele ficou mais experiente, porém a sua atitude é a
mesma. Quando substituiu Casey Stoner na
Repsol-Honda, insistiu em trazer a equipe da Moto2, depois disto raramente o
grupo foi alterado. Talvez isto explique porque houve tanta surpresa quando seu
especialista em eletrônica e telemetria, Gerold Bucher, que encerrou seu
contrato de 25 anos com a HRC, foi substituído por Jenny Anderson, uma
profissional em ascensão que trabalhava com Pol Espargaro na KTM. Jenny é a
primeira mulher na linha de frente da equipe do campeão.
Marc Márquez & Jenny Anderson
Enquanto outros pilotos viajam acompanhados de amigos mais próximos ou de suas famílias, Márquez prefere a companhia da sua equipe. Passam o tempo todo juntos, fazem as refeições juntos e, se possível, se divertem juntos. Em verdade, só abandona a equipe para cumprir seus muitos compromissos promocionais de piloto. Durante a temporada europeia, quando viagens aéreas não são necessárias, Marc reside em um motor-home que é dirigido por seu pai Julià, e estaciona no paddock ao lado de veículos de outros pilotos.
O carro dos Márquez (Marc e Álex) é um dos mais simples, e contrasta com veículos de design mais arrojado como o do piloto Maverick Vinales. Márquez tem contrato até 2024 com a Honda e trabalha com perfeita sintonia com o fabricante espanhol, embora a sua renovação em 2015/2016 tenha demorado mais que o razoável.
Nunca houve nenhuma reclamação pública endereçada à performance do equipamento e, se desacertos acontecem, são resolvidos intramuros, fora do alcance da mídia. Marc Márquez deve seguir o exemplo de Mick Doohan, desenvolver toda a sua carreira na Repsol-Honda.
A história mostra que esta
é a melhor maneira de garantir títulos. Pode não ser o
modo mais emocionante, mas certamente é uma ideia vencedora, consistente com a
fome de vitórias do piloto espanhol. Os precedentes parecem concordar com este
conceito, Agostini viu o ocaso de seu reinado quando foi ameaçado por Phil Read
no MV Augusta e partiu para a Yamaha em 1974. Rossi parou com os títulos ao ser
derrotado por Lorenzo em 2010, depois optou por mudar para a Ducati. Ambos
também viveram episódios fora da pista que desestabilizaram suas sequências de
vitórias, Márquez mantém a sua vida privada controlada, Agostini teve que
suportar a perseguição da imprensa sensacionalista (paparazzi) por sua intensa vida
afetiva e Rossi, entre outras coisas, morou
algum tempo para Londres e foi
envolvido em uma fraude fiscal em 2007, que foi resolvida com o pagamento de
uma pesada multa.
Ambos os problemas parecem estar longe de ser uma ameaça para Márquez. Embora tenha tido uma breve relação, já encerrada, com a modelo Lucía Rivera, antes, durante e depois deste período manteve a sua vida simples e discreta. Os dois só apareciam juntos em ocasiões sociais obrigatórias. Após uma tentativa não muito bem-sucedida de mudar seu domicilio fiscal para Andorra em 2014, Márquez acatou a tributação espanhola e construiu uma grande casa em sua cidade natal (Cervera, Catalunha), onde vive com a família. Montou uma academia particular onde pratica exercícios na companhia de seu irmão e mantém suas motos de treinamento. Desde seu cabeleireiro - que nunca muda seu visual - até as caminhadas com o irmão, há rotinas que mantém desde criança.
Marc Márquez nunca muda nada.
Nas entrevistas após as provas até 2019 era sempre um dos últimos a deixar o ambiente reservado para a imprensa, nunca demonstrando enfado ou cansaço, atendendo todos com boa vontade. Cultiva o visual “clean”, não ostenta tatuagens, sua indumentária está sempre bem composta (diferente do estilo propositadamente desleixado de alguns outros pilotos) e a face glabra. Em comemorações de vitórias evita provocar desafetos e mantém distância dos movimentos políticos separatistas, desfilando com a bandeira contendo o seu número 93, não tomando partido da Espanha ou Catalunha. Para desespero de seus adversários, Márquez dificilmente muda os hábitos, e um deles é vencer.
A
temporada de 2020 foi a exceção que confirma a regra, se ele voltar inteiro em
2021 a única discussão em aberto na MotoGP é quem vai ser o vice.
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