O chefe da “Clinica Mobile” da MotoGP reconhece que decisões tendem a ser influenciadas pelas condições da competição.
Uma vez um palestrante sobre
comportamento humano explicou que a diferença entre a tradição nipônica e a
tupiniquim podia ser exemplificada com o modo como administram um problema que
dificulta a execução de uma tarefa: o oriental procura a solução mais rápida, o
brasileiro busca identificar o culpado.
A queda de Marc Márquez no
primeiro GP da temporada de 2020 resultou no afastamento do 8 vezes campeão do
mundo do restante da temporada, em uma longa recuperação que persiste até os
dias atuais e em uma enorme incerteza sobre o momento de seu retorno. Um sem
número de controvérsias foi gerado pela decisão de permitir o seu regresso às
pistas quatro dias depois de ser operado por uma fratura no úmero direito.
Complicações imprevistas, duas outras cirurgias e finalmente a identificação de
uma infecção formaram um caldo de cultura para gerarem dúvidas se a autorização
para que ele pudesse voltar a competir havia sido correta. Houve que acusasse a
equipe médica da MotoGP de negligência e falta de competência.
Para esclarecer estas e outras
dúvidas o Dr. Michele Zasa, chefe da Clínica Mobile da MotoGP concedeu uma
extensa entrevista ao site especializado “Moto.it” em que explica
detalhadamente os procedimentos para avaliar pilotos lesionados e permitir, ou
não, que compartilhem a pista com outros concorrentes após uma lesão ou queda.
Dr. Angel Chartre, Marc Márquez & Dr. Michele Zasa
O objetivo do Dr. Zasa ao
decidir falar com a imprensa era genérico, porém os jornalistas focaram o tempo
todo no caso Marc Márquez. O médico italiano não se furtou a explicações e
admite que avaliações quase nunca são simples e a medicina não é uma ciência
exata, muitas vezes as decisões consideram fatores externos, não essencialmente
médicos. Na perspectiva atual tudo parece mais simples e indica que possam ter
tomado decisões erradas.
Em respeito à privacidade do
paciente e proteção dos médicos que permitiram o retorno do piloto para os
treinos preparatórios para a disputa do GP da Andaluzia, o Dr. Zasa se abstém
de entrar em maiores detalhes. Uma possibilidade que justifica a forma como esta
decisão foi tomada considerou o comportamento do piloto. Embora Márquez seja um
piloto que quando abaixa sua viseira só pensa em vencer, em Jerez ele teve
calma, atendendo às suas sensações, atento às reações de seu corpo. Ele não foi
imprudentemente ou ultrapassou os limites, então não consideramos que ele seria
um perigo para os outros competidores.
O chefe da Clínica Mobile
ressalta que sua principal tarefa da equipe médica da MotoGP é garantir que os
pilotos que participam das competições não ofereçam riscos para outros
competidores, não em serem responsáveis por suas condições individuais física
ou de saúde. Essa responsabilidade é das equipes, de um médico local em cada
país onde o grande prêmio é realizado (por razões legais) e do diretor médico
da entidade que promove o Mundial, a Dorna, o espanhol Angel Chartre.
O Dr. Zasa não se omite em
externar a sua opinião pessoal, com grande cautela, sobre a atual condição do
piloto espanhol, baseado no que foi divulgado depois da revisão realizada seis
semanas após a terceira intervenção, que indicou que a evolução é satisfatória,
porém foi muito econômica em oferecer detalhes:
"Devo dizer que a recuperação de Marc foi feita inteiramente na
Espanha e que não tivemos nenhuma informação. Na verdade, acho um pouco absurdo
que tanto tenha sido falado sem realmente fornecer detalhes, tudo o que pode
ser dito é mera especulação. Em geral, fraturas significam processos longos de
consolidação é excesso de otimismo esperar que a recuperação fosse concluída em
duas semanas após a última intervenção."
A infecção por si só não é um
obstáculo que possa comprometer a recuperação de Marc Márquez, entretanto o especialista
italiano não está muito otimista: "Todos queremos Márquez de volta o mais
rápido possível, ele é um dos maiores campeões da história do motociclismo. Embora
os detalhes não tenham sido divulgados, pela lógica simples podemos inferir que
este é um processo longo que pode levar meses. Se são dois ou seis, é algo que
não posso especular porque as informações que dispomos são escassas”.
Os jornalistas buscaram uma
avaliação do ponto de vista de um profissional da medicina sobre a infecção
sofrida pelo úmero direito do espanhol: “Infecções tem um comportamento
previsível, podem ser verificadas e controladas, análises indicam quais
antibióticos usar e quais são os efeitos que produzem no paciente. Eu diria que
uma infecção óssea pode ser enfrentada, mesmo que seja persistente e exija tempo.
Sempre falando em geral, sem focar neste caso específico, não acho que seja um
obstáculo intransponível à recuperação."
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