sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

MotoGP – Profetas do Acontecido

 



O chefe da “Clinica Mobile” da MotoGP reconhece que decisões tendem a ser influenciadas pelas condições da competição.


Queda de Marc Márquez em Jerez 2020

 

Uma vez um palestrante sobre comportamento humano explicou que a diferença entre a tradição nipônica e a tupiniquim podia ser exemplificada com o modo como administram um problema que dificulta a execução de uma tarefa: o oriental procura a solução mais rápida, o brasileiro busca identificar o culpado.

 

A queda de Marc Márquez no primeiro GP da temporada de 2020 resultou no afastamento do 8 vezes campeão do mundo do restante da temporada, em uma longa recuperação que persiste até os dias atuais e em uma enorme incerteza sobre o momento de seu retorno. Um sem número de controvérsias foi gerado pela decisão de permitir o seu regresso às pistas quatro dias depois de ser operado por uma fratura no úmero direito. Complicações imprevistas, duas outras cirurgias e finalmente a identificação de uma infecção formaram um caldo de cultura para gerarem dúvidas se a autorização para que ele pudesse voltar a competir havia sido correta. Houve que acusasse a equipe médica da MotoGP de negligência e falta de competência.

Para esclarecer estas e outras dúvidas o Dr. Michele Zasa, chefe da Clínica Mobile da MotoGP concedeu uma extensa entrevista ao site especializado “Moto.it” em que explica detalhadamente os procedimentos para avaliar pilotos lesionados e permitir, ou não, que compartilhem a pista com outros concorrentes após uma lesão ou queda.

 

Dr. Angel Chartre, Marc Márquez & Dr. Michele Zasa

 

O objetivo do Dr. Zasa ao decidir falar com a imprensa era genérico, porém os jornalistas focaram o tempo todo no caso Marc Márquez. O médico italiano não se furtou a explicações e admite que avaliações quase nunca são simples e a medicina não é uma ciência exata, muitas vezes as decisões consideram fatores externos, não essencialmente médicos. Na perspectiva atual tudo parece mais simples e indica que possam ter tomado decisões erradas.

Em respeito à privacidade do paciente e proteção dos médicos que permitiram o retorno do piloto para os treinos preparatórios para a disputa do GP da Andaluzia, o Dr. Zasa se abstém de entrar em maiores detalhes. Uma possibilidade que justifica a forma como esta decisão foi tomada considerou o comportamento do piloto. Embora Márquez seja um piloto que quando abaixa sua viseira só pensa em vencer, em Jerez ele teve calma, atendendo às suas sensações, atento às reações de seu corpo. Ele não foi imprudentemente ou ultrapassou os limites, então não consideramos que ele seria um perigo para os outros competidores.

O chefe da Clínica Mobile ressalta que sua principal tarefa da equipe médica da MotoGP é garantir que os pilotos que participam das competições não ofereçam riscos para outros competidores, não em serem responsáveis por suas condições individuais física ou de saúde. Essa responsabilidade é das equipes, de um médico local em cada país onde o grande prêmio é realizado (por razões legais) e do diretor médico da entidade que promove o Mundial, a Dorna, o espanhol Angel Chartre.

O Dr. Zasa não se omite em externar a sua opinião pessoal, com grande cautela, sobre a atual condição do piloto espanhol, baseado no que foi divulgado depois da revisão realizada seis semanas após a terceira intervenção, que indicou que a evolução é satisfatória, porém foi muito econômica em oferecer detalhes:  "Devo dizer que a recuperação de Marc foi feita inteiramente na Espanha e que não tivemos nenhuma informação. Na verdade, acho um pouco absurdo que tanto tenha sido falado sem realmente fornecer detalhes, tudo o que pode ser dito é mera especulação. Em geral, fraturas significam processos longos de consolidação é excesso de otimismo esperar que a recuperação fosse concluída em duas semanas após a última intervenção."

A infecção por si só não é um obstáculo que possa comprometer a recuperação de Marc Márquez, entretanto o especialista italiano não está muito otimista: "Todos queremos Márquez de volta o mais rápido possível, ele é um dos maiores campeões da história do motociclismo. Embora os detalhes não tenham sido divulgados, pela lógica simples podemos inferir que este é um processo longo que pode levar meses. Se são dois ou seis, é algo que não posso especular porque as informações que dispomos são escassas”.

Os jornalistas buscaram uma avaliação do ponto de vista de um profissional da medicina sobre a infecção sofrida pelo úmero direito do espanhol: “Infecções tem um comportamento previsível, podem ser verificadas e controladas, análises indicam quais antibióticos usar e quais são os efeitos que produzem no paciente. Eu diria que uma infecção óssea pode ser enfrentada, mesmo que seja persistente e exija tempo. Sempre falando em geral, sem focar neste caso específico, não acho que seja um obstáculo intransponível à recuperação."

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