No início dos anos 70, Yamaha, Honda e Suzuki somavam vitórias e títulos nas categorias de 125cc e 250cc, em 1975 marcou o primeiro ano em que uma equipe japonesa conseguiu chegar ao título da principal categoria com Giacomo Agostini vencendo seu último título. A temporada de 1975 marcou o início do domínio das máquinas produzidas na terra do sol nascente, que perdura até os dias atuais com uma única exceção, o título obtido por Casey Stoner em 2007 com uma Ducati. Os meados da década de 70 também marcaram o protagonismo de pilotos que utilizavam o Inglês como língua nativa.
Em 1976 a Suzuki conquistou o título
com o britânico Barry Sheene e as motos nipônicas conseguiram as 10 primeiras
colocações do ano, vencendo 8 das 10 provas, as exceções foram a Yamaha na Ilha
de Man e a MV Agusta, escolhida por Agostini exclusivamente para disputar o GP
da Alemanha, no antigo traçado de 22 km do circuito de Nurburgring.
Sheene repetiu o feito no ano
seguinte (1977), porém a hegemonia da Suzuki foi ameaçada pelo crescimento do
desempenho das Yamaha. A temporada foi marcada por diversos acidentes fatais,
como o GP da Áustria de 350cc disputado em Salzburgring que causou o óbito do suíço
Hans Stadelmann e ferimentos graves em Johnny Cecotto, Patrick Fernandez,
Dieter Braun e Franco Uncini. O acidente causou um boicote de pilotos da 500cc
e o GP foi realizado por um número reduzido (6) de competidores. Houve
incidentes também no GP da Iuguslavia no circuito de Opatija quando os organizadores
falharam em tomar medidas para melhorar a segurança do circuito, cujo traçado
por estradas e incluía paredes de rocha sólida e quedas íngremes mal
protegidas. Ulrich Graff bateu contra uma parede de pedra ao ter um pneu
furado, sofreu ferimentos graves e mais tarde foi decretado se. O circuito de
Opatija foi banido do calendário.
Barry Sheene foi um ídolo britânico
que transitava com igual desenvoltura entre o noticiário social e esportivo no
Reino Unido. Em 1975 sobreviveu a um acidente espetacular em uma prova
promocional fora do calendário oficial, a Daytona 200, que resultou em fraturas
na coxa esquerda, braço direito, clavícula e duas costelas. Na mesma temporada
com uma RG500 conquistou sua primeira vitória no TT holandês. Em 1976 venceu 5
GPs de 500cc e conquistou seu primeiro mundial, e repetiu a dose em 1977 com 6
vitórias.
Barry Sheene – o primeiro superstar
do motociclismo Britânico
A importância de Barry Sheene para a
motovelocidade britânica transcende às pistas, além de um excelente piloto era
um showman e uma fonte praticamente inesgotável de manchetes para os agentes da
mídia. Em uma temporada não disputou as últimas provas porque não teria nada a
ganhar, estava com o título assegurado. Em uma oportunidade para promover uma
marca de cigarros abriu um furo no capacete para poder fumar antes da largada.
No início de sua última temporada de grandes prêmios, após 3 anos de resultados
pífios, Sheene montou na sua RG500 em um palco de TV durante um programa ao
vivo em horário nobre na British Broadcasting Corporation (BBC). Esse tipo de
exposição não tem preço para os patrocinadores.
Barry Sheene com uma Yamaha em 1980
A divulgação na mídia da temporada
de 1978 cresceu muito, impulsionada pela popularidade do então campeão Barry
Sheene e pela presença do extraordinário piloto norte-americano Kenny Roberts.
Um dos quatro pilotos da história a vencer o Grand Slam da AMA (American Motorcycle
Association), Roberts havia participado com uma equipe de pilotos americanos do
Transatlantic Match de 1974, competindo contra uma equipe britânica. O consenso
da época era que pilotos americanos, formados em pistas de terra, não eram
adversários para os britânicos, especializados em corridas no asfalto. Roberts
destruiu esta crença ao vencer três das seis provas e terminou em segundo lugar
nas três restantes. No evento Roberts contribuiu com 93 pontos para sua equipe,
cinco a mais que Barry Sheene, o melhor piloto britânico. Kenny Roberts com uma
Yamaha foi o campeão da temporada, com 10 pontos mais que a Suzuki de Sheene. A
batalha de Sheene com Kenny Rogers no GP da Inglaterra de 1979 é citada como
uma das melhores dos campeonatos promovidos pela FIM.
Após a temporada de 1979, Sheene
abandonou Suzuki, acreditando que ele estava recebendo equipamento inferior em
comparação com o de seu companheiro de equipe. A vitória de Sheene no Grande
Prêmio da Suécia de 1981 foi a última vitória de um piloto britânico na
categoria principal até a vitória de Cal Crutchlow no GP da República Tcheca de
2016.
Kenny Roberts - Yamaha YZR500 na
pista de Imatra (1979)
Apesar de sua baixa estatura, 1,55m,
Kenny Roberts contribuiu com o esporte de velocidade em motos por mais de três
décadas. Depois do bicampeonato de Sheene em 1976/1977, Roberts venceu 3
mundiais consecutivos de 500cc, de 1978 a 1980. Foi posteriormente um chefe de
equipe muito bem-sucedido e é pai de Kenny Roberts Junior, que foi campeão
mundial em 2000. Roberts surgiu para o motociclismo esportivo nos EUA, vencendo
campeonatos nacionais em pistas de terra e estradas na década de 70. Fez uma
aparição pontual em 1974 no GP de Assen, pilotando uma Yamaha e obteve um 3º
lugar. Foi contratado pela equipe para disputar a temporada de 1978 e o
primeiro norte americano a conquistar o título já no seu ano de sua primeira
participação. Seus duelos espetaculares com Barry Sheene e Freddie Spencer
marcaram o seu segundo título em 1979 e repetiu o feito em 1980. A sua última
temporada foi 1983 quando perdeu o campeonato para Freddie Spencer por apenas
dois pontos, apesar de ter vencido seis das 12 corridas do ano.
Kenny Roberts montou sua própria
equipe, que conseguiu com a Yamaha os títulos simultâneos de 500cc e 250cc em
1990 com os pilotos Wayne Rainey e John Kocinski, respectivamente. Rainey
ganhou três títulos consecutivos na primeira classe sob a administração de
Roberts, repetindo as conquistas de seu chefe de equipe pouco mais de uma
década antes.
Wayne Rainey - 1993
Em1980 a Honda introduziu a exótica
NR500 de quatro tempos, que não marcou nenhum ponto, em 81 e 82 a Suzuki
retomou a primazia com os pilotos italianos (Marco Lucchinelli e Franco Uncini).
Na temporada de 82 a Yamaha introduziu um novo motor V4 para Kenny Roberts e a
Honda abandonou a NR500 quatro tempos participou com a NSR500, motor V3 dois
tempos, com a condução de Freddie Spencer.
Os 7 anos seguintes registraram a
disputa feroz entre Freddie Spencer da Honda, vencedor em 83 e 85, e Eddie
Lawson da Yamaha em 84,86, 88 e 89, este último ano com uma Honda. Wayne Rainey
conquistou o seu tricampeonato nos anos 90, 91 e 92. O ano de 92 marcou a
despedida das pistas de Eddie Lawson, que conseguiu no GP de Hungaroring a
única vitória da Cagiva na categoria de 500cc.
Adendo:
Durante a maior parte dos anos 60 a
Honda dominou as provas de motovelocidade quando, em 1967, surpreendeu o mundo
anunciando que iria se retirar das competições porque não havia mais nada a
ganhar, mais nada a provar. Durante mais de uma década os adversários estiveram
livres do opressivo poderio tecnológico da Honda.
NR500 – O maior fracasso da Honda
A ausência da Honda terminou em 1979
quando, para a felicidade dos aficionados, a fábrica decidiu voltar ao Mundial.
A fábrica sempre optou por sua própria linha de desenvolvimento e optou por uma
mudança radical: em vez de fabricar uma motocicleta de 500cc com motor 2
tempos, tecnologia dominante à época, optou pelo motor 4 tempos como os de seus
motores vencedores do passado. A decisão implicou em enorme desafio, o
regulamento técnico da época não previa nenhuma compensação para equilibrar o
rendimento entre motores, uma desigualdade flagrante, tendo em vista que os de
ciclo 2 tempos, em paridade de cilindrada, eram cerca de 50% mais potentes que
os motores de 4 tempos. Como regulamento do Mundial de Motovelocidade
estabelecia um limite para a categoria máxima 500cc tanto para motores 2T e 4T,
a escolha da Honda foi temerária, era praticamente impossível alcançar a
potência das máquinas 2T com cilindrada igual.
Um modo de conseguir seria um motor
turbinado, entretanto o regulamento não permitia a sobre alimentação. Outra
hipótese era aumentar o número de cilindros, a fábrica tinha a tecnologia
utilizada em máquinas 125cc com 5 cilindros (modelos RC148 e 149) e com 250cc
com 6 cilindros em linha, porém, o regulamento limita o número de cilindros a
quatro. A solução técnica foi a utilização de pistões ovais, respeitando o
limite regulamentar – 4 cilindros e 500 cc – a maior área dos pistões ovais
permitiria fazer o motor ter características de potência de um motor de 8
cilindros.
A complexidade dos motores
contrastava com a simplicidade dos 500cc 2T. A previsão teórica de igualar a
potência de máquinas 2T através do aumento de rotações (15 mil RPM era o limite
da NR500) não foi confirmada, o V4 de pistões ovais era pesado demais e
quebrava com facilidade. Os engenheiros e técnicos da Honda trabalharam
intensamente adquirindo conhecimento técnico em áreas diversas como metalurgia,
lubrificação, refrigeração e eletrônica. Tudo para economizar peso, ganhar
confiabilidade e, claro, desenvolver potência. Não funcionou. Em 1981 a Honda
finalmente conseguiu uma vitória, depois de três temporadas de sucessivas
quebras s NR500 venceu uma prova de resistência, os 500 km de Suzuka, onde o
motor conseguiu desenvolver 130 CV girando a incríveis 19.500 rpm.
Paradoxalmente a 1ª vitória da moto com pistões ovais, com uma reputação de
fragilidade, aconteceu em uma corrida de resistência.
O revolucionário pistão oval da Honda
A NR500 foi substituída pela ágil NS
500 de três cilindros em V, 2T, moto que desde sua primeira temporada se
revelou vencedora e conquistou seu primeiro título mundial em 1983 com Freddie
Spencer.
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