GP do Rio, 2001 (500cc)
Cerca de 50.904 espectadores passaram pelas catracas (nos
três dias) do circuito Nelson Piquet para acompanhar o último GP do campeonato de
2001, um evento para cumprir o calendário porque Valentino Rossi já tinha
assegurado o título. As regras para a temporada especificavam o somatório dos
tempos de cada segmento de prova em caso de haver interrupções. Com apenas
quatro voltas a corrida foi suspensa por uma bandeira vermelha porque a drenagem
da pista foi insuficiente para a quantidade de chuva, Carlos Checa estava em
quarto, 0,195 segundos atrás de Rossi em terceiro. A corrida foi reiniciada
quando as condições melhoraram e ao final das vinte voltas Checa
cruzou a linha em primeiro, seguido por Rossi a 0,052 segundos. Ficou estranho,
o público viu um magnifico duelo com um vencedor na pista (Checa) e, em seguida, outro
piloto (Rossi) ocupar o lugar mais alto do pódio. Depois deste incidente a regra
foi reconsiderada e o regulamento passou a privilegiar o resultado da pista.
Bandeira Quadriculada |
GP da Malásia, 2002
Erros
acontecem. O pior pesadelo para os organizadores de uma corrida é uma decisão
extra-pista influenciar decisivamente o resultado de uma prova. Na disputa da classe 125cc
em 2002, em Sepang, uma sequência de decisões infelizes dos comissários resultou na
apresentação da bandeira quadriculada antes de completar a distância
regulamentar. Para minorar os contratempos causados, o resultado final da prova
foi atribuído à classificação de uma volta antes da confusão ser estabelecida, com isso o
piloto Manuel Poggiali, que se acidentou na última volta, ficou com a quarta colocação
e a brilhante ultrapassagem de Dani Pedrosa sobre Lucio Checchinelo, também na última
volta, não foi considerada.
Arrojo e estratégia definiram a vitória de Valentino Rossi
no GP da Itália em 2004. Um aguaceiro repentino interrompeu uma disputa
acirrada entre Rossi (Yamaha), Sete Gibernau (Honda), Max Biaggi (Honda) e
Makoto Tamada (Honda). A relargada foi autorizada ainda com a pista úmida, mas
secando rapidamente, Rossi largou com pneus slick, e nas seis voltas que
faltavam pulou da quinta colocação para a liderança, vencendo a prova.
As provas de motovelocidade são pródigas em resultados
eletrizantes, decididas nos detalhes, com diferenças mínimas. No GP disputado
no circuito de Brno, em 1996, Alex Criville venceu Mick Doohan por exatos 0,002
segundos, diferença igual à da vitória de Toni Elias sobre Valentino no GP de
Portugal em 2006. Recentemente, no último GP da Itália, Jorge Lorenzo
ultrapassou Marc Márquez nos metros finais (diferença de apenas 0,019 segundos).
O ápice da competitividade aconteceu na prova
inaugural do circuito de Losail no Catar em 2004, na classe 125cc o espanhol Jorge Lorenzo com uma Derbi e o
italiano Andrea Dovizioso com uma Honda concluíram a prova rigorosamente juntos,
a cronometragem oficial registrou ambos com exatamente o mesmo tempo, com 0,000
segundos de diferença. A decisão da prova foi feita pela análise das fotos ultrarrápidas
da linha de chegada, que mostraram a moto do espanhol centímetros à frente.
Bandeira Preta para Marc Márquez |
Phillip Island, 2013
A piada nos boxes depois da prova de 2013 em Phillip Island
era um mecânico perguntar a outro com as duas mãos espalmadas: “Quantos dedos
você pode contar”? Ao ouvir a resposta óbvia – dez – complementava “a Repsol
Honda está desesperada atrás de alguém com suas habilidades”. A brincadeira foi
resultado de um dos maiores erros de uma equipe durante uma prova na história
da MotoGP. O circuito em Phillip Island foi recapado e o piso ficou muito
abrasivo, a Bridgestone, fornecedora exclusiva de pneus, identificou que nestas
condições os compostos aqueciam demais e recomendou a troca obrigatória,
sugestão aceita pelos organizadores. Foi determinado em conjunto com as equipes
que a troca deveria ser feita até a décima volta. No limite especificado
Márquez e Lorenzo travavam uma disputa acirrada pela liderança, Lorenzo entrou
para trocar de equipamento e Márquez continuou na pista, por desrespeitar uma resolução
da direção de prova, foi penalizado com bandeira preta (desclassificação). Os
dois espanhóis estavam em disputa direta pelo campeonato, o piloto da Honda
conseguiu nas provas restantes acumular os pontos necessários para vencer, em
sua primeira participação na classe principal, o seu primeiro mundial.
14 pilotos largando do pit |
O início da prova de Sachsenring em 2014 foi caótico. O
clima com chuva que esteve presente nos momentos que antecederam a largada
mudou rapidamente para o céu limpo, bagunçando a estratégia das equipes em
relação a regulagens e escolhas de pneus. Todos os protótipos alinhados no grid
estavam equipados com pneus de chuva e, depois da volta de apresentação, 14
pilotos decidiram trocar para os slick e entraram no pit, incluindo as duas Movistar
Yamaha e as duas Repsol Honda, nove motos permaneceram na pista, seis da então Open
Class. O início da prova proporcionou uma das mais bizarras imagens da MotoGP, o grid espaçado
com apenas nove motos e outras catorze enfileiradas largando do pit.
Stefan Bradl, um dos pilotos que ficou na pista, concluiu a
primeira volta com uma vantagem de 7,722 segundos sobre a primeira Honda, foi
ultrapassado na quinta volta por Marc Márquez e terminou a prova em décimo
sexto lugar, 53 segundos atrás do líder.
Pneu dechapado de Scott Redding em Rio Hondo |
GP Argentina, 2016
A Michelin substituiu em 2016 a
Bridgestone como fornecedora exclusiva de pneus para a MotoGP. Um longo e bem-sucedido
programa de testes foi desenvolvido, o único contratempo foi um estouro do pneu traseiro de Loris Baz durante testes da pré-temporada na Malásia, atribuído a calibragem
fora das especificações. Não houve incidentes na abertura do Mundial no Catar.
A confiança nos compostos franceses foi abalada na segunda prova da temporada na Argentina, em Rio Hondo, uma falha no processo de construção provocou o descolamento da
cobertura externa do pneu traseiro da Ducati de Scott Redding no FP4. A
fabricante, por razões de segurança, decidiu retirar os compostos originais e
introduziu um pneu “de segurança”, com processo de fabricação diferente,
entretanto o fator clima jogou contra, a chuva no warm-up extra e impediu que os
pilotos rodassem com o novo pneu. A solução encontrada foi voltar ao composto
original e fracionar a prova com um pit-stop obrigatório.
Márquez sai da pista no GP da Alemanha 2016 |
Esta prova entra para a história como o grande resultado
estratégico, embora tenha sido circunstancial. Uma escolha inicial errada de
pneus resultou em uma improvável vitória de Marc Márquez da Honda. O clima foi
um complicador para todas as equipes e a escolha inicial da Honda, compostos macios com o piso
molhado foi infeliz, seus pneus duraram só dez voltas. Depois de perder
posições gradativamente e até dar um passeio fora da pista caindo para nona colocação,
Márquez foi obrigado a trocar de moto e, apesar da pista ainda estar molhada, o
equipamento alternativo estava calçado com pneus slick. O improvável aconteceu,
a pista secou, seus adversários foram prejudicados pelos compostos intermediários
e um início desastroso foi transformado em uma vitória maiúscula. Estratégia
brilhante foram as manchetes da mídia, muita, mas muita sorte compensou os erros de avaliação era a certeza no box da Honda.
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