Michele Pirro & Jorge Lorenzo |
Michele Pirro é um
piloto italiano que competiu na MotoGP entre 2003 a 2016, considerando todas as
classes já participou de 93 largadas e conseguiu uma única vitória na Moto2, GP de Valência em 2011. Em 2016 acumulou 36 pontos participando de nove
etapas da temporada como piloto substituto para as equipes Ducati, Octo Pramac
e Avintia, com equipamentos Ducati, modelos GP16, GP15 e GP14. Com este
currículo modesto foi contratado como coach,
termo que pode ser traduzido como conselheiro, treinador ou analista de pista,
do piloto que recebe o maior salário entre os que disputam o campeonato, o
multicampeão Jorge Lorenzo. Foi uma notícia inesperada, ainda assim tem lógica.
Ampliando mais o campo
de visão, Luca Cadarola com um histórico de 34 vitórias e 3 títulos mundiais tem um
acordo semelhante com Valentino Rossi, dono de 114 vitórias e 9 mundiais, Wilco Zeelenberg trabalhou com Lorenzo na Yamaha e agora assessora
Maverick Vinales e Sete Gibernau realiza um trabalho semelhante com Dani
Pedrosa.
Ser coach de um piloto da principal categoria da MotoGP não é uma
função com atributos e responsabilidades rígidas, ele não existe apenas para abastecer
o piloto com dicas sobre como pode melhorar seu desempenho, sua principal utilidade é coletar e fornecer informações para, em conjunto com os engenheiros e a
equipe de apoio dos boxes, melhorar a competitividade. Um dos papeis mais
importantes de um treinador ou analista de pista não é aconselhar piloto sobre
o que está fazendo de certo ou errado, mas qual o resultado que pode obter em comparação
com os concorrentes. Eventualmente é útil como um mediador interpretando o
sentimento do piloto para os engenheiros e chefes de equipe, contribuindo assim para
a melhoria do equipamento.
Wilko Zeelenberg, ex de
Lorenzo e atualmente colaborando com Vinales, exemplifica que em uma ocasião Jorge
estava insatisfeito com o desempenho em uma curva, ele observou a maneira como
vários outros pilotos realizavam o contorno e descobriu que ele estava
entrando com velocidade excessiva a perdia tempo ao corrigir a traseira. O
simples fato de frear um átimo antes da entrada resultou em um ganho de décimos
de segundo por volta.
Cada piloto tem um uma
técnica própria de condução, há os que, como Rossi e Vinales, preferem um
equipamento equilibrado, outros, como Márquez e Crutchlow, obtém melhores
resultados com maior aderência na roda dianteira e administrando o que acontece
com a roda de trás. O trabalho do coach
é obter o melhor compromisso entre os atributos dos equipamentos, as preferências
pessoais dos condutores e as características das pistas, avaliando o ambiente
como um todo, incluindo a análise atenta do que acontece com os outros
competidores. Ele é um observador que pode avaliar as ocorrências e classificar os eventos sem a carga emocional que o piloto está submetido. Muitas
vezes o sentimento dos condutores é que não estão obtendo os melhores resultados
porque acreditam que estão com um ou outro problema, o analista de pista pode
observar outros pilotos e verificar se é o único com a dificuldade. Nesses
casos deve tranquilizar o piloto e tomar as providências necessárias, com decisões
racionais e desprovidas de pressão emocional.
As provas da MotoGP são disputas
entre pilotos, desde a largada para a volta de apresentação até a bandeirada
final todas as decisões são exclusivas dos condutores. O máximo que a equipe
pode fazer para ajudar é sinalizar com instruções em placas apresentadas no
muro da reta de chegada, que o piloto segue se quiser. Na prova de Sachsering
de 2016, as placas de diversas equipes chamaram seus pilotos para a troca de
equipamentos, mudar de pneus de chuva para intermediários porque a pista estava
secando rapidamente. Nos boxes as equipes acompanhavam a evolução de Marc
Márquez recuperando mais de cinco segundos por volta, enquanto na pista Dovizioso,
Rossi, Barbera e Crutchlow perdiam tempo em uma disputa insana. Os pilotos não
acreditaram no apoio externo e seguiram seus próprios instintos, abrindo espaço
para uma vitória improvável da Honda. Parte do trabalho dos analistas de pista
é conquistar a confiança dos pilotos para, quando for adequado, acreditar em
seu pessoal de apoio.
A utilização
de treinadores abre novas oportunidades e novas perspectivas para o piloto, que
passa a contar com um par de olhos extra. O coach pode interagir nas reuniões
de acompanhamento com a equipe, incluindo engenheiros e projetistas, e propor
alterações de procedimentos ou melhorias no equipamento. Ele acompanha as motos
na pista, só assim pode verificar, por exemplo, se uma Honda em uma curva se
comporta de forma diferente que uma Yamaha. O piloto sobre a moto e a equipe no
box não tem esta possibilidade.
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