Merchandizing |
Avião sem asa, fogueira sem
brasa, assim multidões de aficionados do motociclismo esportivo entendem a
ausência de Valentino Rossi na MotoGP. Futebol sem bola, Piu-Piu sem Frajola,
foi o sentimento dos torcedores italianos que esgotaram com muita antecedência
os ingressos para o GP de San Marino no Circuito Marco Simoncelli, autódromo
italiano próximo da cidade de Misano no Mar Adriático, distante poucos
quilômetros de Tavulia onde fica a sede das empresas de Rossi.
A MotoGP pode ser vista de
diversos modos, e em todos Valentino é importante. Sob a ótica da disputa nas
pistas ele é o piloto em atividade com o maior número de vitórias e títulos, na
época em que se acidentou estava em quarto colocado na classificação geral
separado 26 pontos do líder, ainda com cento e cinquenta (seis etapas) em jogo.
A ausência de Rossi repassa para Vinales toda a esperança da Yamaha por bons
resultados em seu ano de estreia na equipe oficial da fábrica. Vinales já
acusou a pressão depois que a pré-temporada o colocou como um dos favoritos a
chegar ao título mundial e, após um início promissor, perdeu rendimento no meio
da temporada. É prematuro diagnosticar como vai reagir para absorver a atenção
total da mídia e da equipe.
Existe uma outra ótica tão
ou mais importante. MotoGP é um campeonato dispendioso onde os orçamentos das
equipes são da ordem de 9 ou 10 dígitos em Euros. Estes valores têm diversas
fontes de financiamento, bilheteria dos circuitos, cotas de transmissões por TV,
licenciamento de marcas, investimento de fábricas no desenvolvimento de novas
tecnologias, merchandising e especialmente patrocinadores. O retorno obtido por
publicidade é medido pela exposição de uma marca e a sua associação com eventos
vitoriosos.
A situação atual parece um déjà-vu do ocorrido em 2010. Naquele ano a comercialização dos ingressos do
Circuito de Mugello esgotou para ver Rossi e o piloto se acidentou nos treinos,
sofreu uma fratura muito semelhante à atual. Nos dois GPs seguintes (Grã-Bretanha
e Holanda) a venda de bilhetes já estava em curso havia meses e não houve
retração do público, na prova que seguiu, GP da Catalunha, o impacto foi
sensível, os 81 mil espectadores nas arquibancadas contrastaram com os 115 mil
ingressos vendidos do ano anterior. O italiano retornou na etapa seguinte em
Sachsering e o acesso presencial do público voltou ao normal.
O fato de Rossi não participar de um GP
não impede seus torcedores de manifestar apoio ao piloto, mesmo com sua
ausência confirmada em Misano, seu fã-clube distribuiu 20.000 bandeiras
amarelas com o número 46 para torcedores que compraram ingressos na
arquibancada usualmente destinada à sua torcida.
Rossi atrai atenções como
nenhum outro piloto, e este é o tipo de exposição midiática que os patrocinadores
desejam. Sem Rossi, o comércio e a economia no local dos GPs pode ser
penalizada e ter repercussões no encaixe financeiro dos promotores.
Uma métrica da importância
de Valentino Rossi em termos de divulgação de marcas pode der obtida pela visualização
da sua imagem paramentado para uma prova. Seu macacão pessoal ostenta
referências para a (1) Movistar - operadora de telefonia móvel do Grupo
Telefônica, (2) Monster Energy – bebidas energéticas, (3) Michelin – fabricante
de pneus, (4) Dainese D Air - vestuário esportivo com sistema
de proteção inteligente que detecta situações perigosas e infla airbags, (5)
Snacks Pata – fabricante de salgadinhos, (6) ENEOS – indústria de lubrificantes, (7)
Yamaha – fabricante de motos, (8) Semakin di Depan – significa one
step ahead, o slogan da Yamaha na Indonésia, (9) VR46 Riders Academy – seu
empreendimento para formação de pilotos, (10) GoPro – Câmeras digitais, (11)
Agv Drudi Performance – fornecedora de capacetes e (12) WLF – adesivos
personalizados. Como comparativo Marc Márquez, o atual fenômeno das pistas,
três vezes campeão mundial em 4 anos e piloto mais jovem a conquistar um GP tem
25% menos publicidade em seu macacão, (1) Repsol – petrolífera espanhola, (2)
Red Bull – bebidas energéticas, (3) Michelin – fabricante de pneus,
(4) Stella Galícia – fabricante de cervejas, (5) Alpinestars - equipamentos de
proteção, (6) Allianz - seguradora, (7) Shoei – capacetes, (8) Satu Hati
– um só coração em indonésio, marca comercial da Honda para a região e (9) HRC –
Honda Racing Corporation.
A importância do marketing
gera algumas situações ridículas, tão logo um piloto entra no Parc Fermé,
o cercado reservado aos vencedores para as entrevistas no final de prova, um
solícito assessor fornece o boné e uma bebida energética dos patrocinadores
para aparecerem na TV e nas fotos, inclusive há uma pessoa encarregada de
corrigir o posicionamento da lata na mão do entrevistado caso a marca não fique
bem enquadrada pela TV. Houve até uma ocasião em que um piloto que estava lançando
uma grife de óculos de sol os utilizou na entrevista, mesmo com tempo fechado e
caindo água. A tradicional foto do pódio com os três vencedores pode ser
comparada a uma folha de um habitual caderno de ofertas.
A ausência forçada de
Valentino Rossi altera toda a MotoGP, aspectos esportivos e econômicos. Embora
a sua esperança de voltar já em Aragon, o seu retorno antes do GP do Japão é
muito improvável e os médicos acreditam que só possa estar no pleno de sua
capacidade física na Austrália em 22 de outubro.
Carlos Alberto
Nenhum comentário:
Postar um comentário