quinta-feira, 14 de setembro de 2017

MotoGP – Uso de Freios no Circuito Marco Simoncelli

Frenagens no Circuito Marco Simoncelli




A ciência forense utiliza algumas regras básicas para esclarecer ocorrências policiais, um investigador considera um crime elucidado quando encontra narrativas consistentes para explicar seis itens: (1) o que; (2) quando; (3) onde; (4) quem; (5) por que; e (6) como.

Esta premissa pode ser portada para a MotoGP, o Grande Prêmio de San Marino (o que) disputado em 11 de setembro (quando) no Circuito Marco Simoncelli em Misano (onde) foi vencido por Marc Márquez (quem), como foi acompanhado por uma multidão de aproximadamente 96.000 pessoas presentes ao circuito e por milhões de espectadores pela transmissão da TV. A prova disputada em pista molhada foi caracterizada por muitas quedas, no domingo houveram 80 incidentes nas três categorias, 26 nas sessões de warm up e 54 durante as provas (Cal Crutchlow, por exemplo, caiu duas vezes durante a corrida). A vitória de Márquez até pode ser considerada previsível após ele escoltar de perto Danilo Petrucci desde que este assumiu a liderança na volta 7 até ser ultrapassado na primeira curva da volta 28, foi a quarta vitória do espanhol no mundial neste ano.

O “por que” do triunfo de Márquez é mais complexo. O próprio piloto na entrevista obrigatória no Park Fermé enalteceu o trabalho conjunto de toda a equipe. Um fato não muito explorado foi relegado aos últimos parágrafos das reportagens sobre o evento, a primeira vitória de um protótipo de MotoGP em pistas molhadas utilizando discos de freios de carbono. Discos de carbono são sensivelmente mais leves e proporcionam um desempenho superior ao oferecido pelos similares de aço, no entanto perdem muito da sua eficiência fora da temperatura correta de funcionamento. Quando as condições de clima ou da pista dificultam atingir o intervalo de temperatura necessário, discos de aço são uma escolha mais adequada. Mesmo com baixas temperaturas, mas na ausência de elementos que proporcionem resfriamento muito rápido como a água, os discos de carbono continuam a ser uma boa opção e, neste caso, as equipes utilizam um encapsulamento de proteção para manter o intervalo operacional quando não estão em processo de frenagem. O sistema utilizado pela Honda em Misano é um novo desenvolvimento da Brembo, dos pilotos do pódio Márquez foi o único a correr com discos de carbono, Petrucci e Dovizioso optaram pelo tradicional de aço.

 O circuito Marco Simoncelli foi projetado em 1969 e ao longo dos anos sofreu diversas modificações até a chegar na configuração atual, 4.226 metros, estabelecida em 2008. É uma pista travada, existe apenas um ponto onde a velocidade máxima alcança 300 km/h e em 5 curvas o contorno é realizado a menos de 90 km/h.  De acordo com a classificação utilizada pelos técnicos da Brembo, a pista de Misano é considerada com exigência de travagem média, 3 pontos em uma escala de escala de 1 a 5, valor idêntico ao da pista de encerramento do mundial em Valência.

O regulamento geral da competição válido para a atual temporada especifica que os protótipos devem ter pelo menos um sistema de freio independente em cada roda, recursos hidráulicos e mecânicos são permitidos, porém outros mecanismos de assistência automática ou eletrônica de acionamento são vedados, o comando deve ser realizado e controlado exclusivamente pelo piloto.

Dos 9 pontos de frenagem nas 16 curvas do Circuito Marco Simoncelli, um é considerado dos mais exigentes do calendário para os freios com quase 5 segundos de acionamento, 4 são de dificuldade média e outros 4 são leves, com a pressão na alavanca aplicada entre três e um segundo. Nas 28 voltas da prova o freio é acionado por quase 14 minutos e o somatório das forças exercidas por um piloto no comando dos freios desde a largada até a bandeira quadriculada excede a 1.790 kg. As desacelerações máximas da MotoGP nesta pista chegam a 1,5 g. 

A frenagem na curva 8 é a mais difícil da pista, a velocidade é reduzida de 294 km/h para 79 km/h, o freio é acionado por 4,8 segundos durante os quais a moto anda perto de 222 metros. Nesta curva a desaceleração chega a 1,5 g e a carga na alavanca é de 6 kg. Na curva 1, onde foi realizada a ultrapassagem de Márquez sobre Petrucci, a frenagem reduz a velocidade em mais de 150 km/h, de perto de 270 km/h para 115 km/h.

A maior eficiência dos freios da RC213V contribuiu, mas não foi a única ou principal razão da vitória de Márquez em Misano. O piloto é ousado nos treinos e warm up em busca do seu limite pessoal e do equipamento. Desde que estreou na MotoGP ele participou de 85 GPs e caiu 76 vezes, um número impensável para um piloto de ponta, que fica um pouco mais palatável considerando que vence uma a cada 2,6 provas que participa.


Carlos Alberto

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