Existem duas teorias sobre a evolução das espécies
humana que podem ser aplicadas, com poucos ajustes, no atual estágio da MotoGP.
A primeira foi formulada pelo naturalista
francês Lamarck em 1809 e pode ser resumida na frase “O uso desenvolve, o
desuso atrofia”. A segunda é conhecida como a Teoria da Seleção Natural do
inglês Charles Darwin e indica que os organismos mais bem adaptados ao ambiente
em que vivem têm maior chances de sobreviver.
Os bancos de dados da MotoGP
disponibilizados para consulta livre no site oficial indicam que alguns dos
resultados desta temporada que podem causar um tipo de surpresas tem explicações
lógicas. Por exemplo, a ascensão da equipe Tech 3, satélite da Yamaha não é
gratuita, Johann Zarco é o piloto que registra a maior quilometragem percorrida
nos testes oficiais, Andréa Dovizioso, um dos líderes do campeonato, é quem tem
a maior quilometragem acumulada durante as etapas da competição.
Os cinco prime iros colocados na corrida
pelo título pertencem a três equipes oficiais de fábrica (Ducati, Honda e
Yamaha), ocuparam 32 das 39 posições de pódio já disputadas, lideraram 247 das
323 voltas realizadas nas 13 etapas e além deles só Zarco, Petrucci, Lorenzo e
Folger em alguma oportunidade ocuparam a primeira posição durante alguma prova.
Se o índice analisado for o número de poles, Zarco é o único fora dos top five que já largou na primeira
posição, uma vez. O campeonato está
excelente, cheio de surpresas e reviravoltas, os líderes estão rigorosamente
empatados em número de pontos (algo semelhante aconteceu em 2015 com Lorenzo e
Rossi), entretanto no frigir dos ovos as ideias de Darwin prevalecem, as equipes
com mais recursos humanos e financeiros obtêm os melhores resultados.
O pior pesadelo de um piloto da
MotoGP é estar liderando uma prova nas últimas voltas e ser informado pelas
placas do pit wall que está sendo
seguido de perto pela moto #93. Nestas condições existe apenas uma certeza, se
houver uma mínima chance, Márquez vai tentar a vitória, se não houver chance,
Márquez vai tentar assim mesmo e se for virtualmente impossível, Márquez tentar
a ultrapassagem. Os exemplos são inúmeros, na sua terceira participação na
MotoGP em 2013, Jerez, ele envolveu-se em um contato lateral e levou vantagem
sobre Jorge Lorenzo na disputa do 2º lugar, no mesmo ano na última curva do GP
de Assen entrou lado a lado com Valentino Rossi em uma curva onde só cabe um, o
italiano cortou a chicane e venceu a prova. Nas últimas etapas do mundial de
2015, em uma prova fantástica na Austrália, Lorenzo era postulante ao título e
estava disputando a liderança do campeonato ponto a ponto com Valentino Rossi, o
espanhol liderava faltando duas curvas para o final e foi ultrapassado por
Márquez. Este ano na Áustria ele tentou uma manobra impossível sobre Andréa
Dovizioso, até conseguiu tomar a frente por breves instantes, não conseguiu
posicionar a moto para fazer a curva e devolveu a posição, em Misano impediu a
primeira vitória da carreira de Danilo Petrucci na MotoGP ultrapassando-o na
última volta.
É da natureza do piloto. Recentemente
sobre o episódio ocorrido com Dovizioso na Áustria Márquez declarou que sabia
ser improvável ter sucesso, mas que não conseguiria dormir se não tivesse
tentado. O jovem piloto espanhol desenvolveu um controle absurdo sobre a sua
RC213V, na prova em Misano em pelo menos três oportunidades ele exagerou ao
tomar uma curva e a traseira de sua moto deslizou demais, a máquina trepidou (wobble) e Márquez conseguiu retomar a
dirigibilidade, nesta mesma prova realizada com a pista encharcada ele
conseguiu registrar em sua última volta o melhor tempo de todo o GP. Não é apenas
um dom natural, Márquez, assim como todos os pilotos que participam da MotoGP,
treina exaustivamente. Corroborando as ideias de Lamarck, suas habilidades estão
superdesenvolvidas.
A exemplo do que aconteceu no Catar
e Circuito das Américas em 2016, os esforços do vencedor não foram reconhecidos
e respeitados pelos torcedores que afluíram às comemorações do pódio em Misano.
Marc Márquez foi vaiado pelo público ao receber o seu troféu. É até
compreensível um nível de frustração pelo resultado, um espanhol se impor sobre
dois nativos em um dos templos do motociclismo italiano, inaceitável foi o fato
dos espectadores ovacionarem a queda do campeão do ano passado durante o warm up. Em relação a este episódio a
reação do piloto foi educada, quando perguntado sobre como recebeu as vaias, respondeu
que entendia a frustração dos fãs de Valentino e dos italianos em geral, afinal
mesmo com seu maior ídolo ausente grande parte dos presentes portava bandeiras
amarelas com o nº 46, porém ficou triste ao ver sua queda comemorada pelo
público, era uma prova de MotoGP e não um espetáculo no Coliseu. Aproveitou a
oportunidade para pedir aos espanhóis que comparecerem em Aragon em duas
semanas evitarem este tipo de atitude.
Antológica a cena de Johann Zarco
empurrando a sua moto com pane seca no final do GP, um esforço maiúsculo para
conquistar um único ponto no mundial.
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