segunda-feira, 25 de setembro de 2017

MotoGP - Suppo, Torcedores & Direção Perigosa




Livio Suppo

Livio Suppo é um italiano que trabalha na divisão de MotoGP da Honda desde 2010 e atualmente exerce as funções de chefe de equipe e gestor de comunicações, sua formação profissional contempla passagens pelas divisões de competição de motos da Benetton e Ducati. Na equipe sediada em Borgo Panigale trabalhou com expoentes do motociclismo esportivo como Loris Capirossi (2003-2007), Troy Bayliss (2003-2004) Carlos Checa (2005) Sete Gibernau (2006), Casey Stoner (2007-2009), Marco Melandri (2008) e Nicky Hayden (2009). Participou da equipe que conseguiu o único título da fábrica no mundial (Stoner em 2007).
Falando para o programa “Checkered Flag” da BT Sports depois do GP de Aragon Suppo fez algumas afirmações interessantes, ao analisar a composição do pódio identificou que havia três combinações distintas de pneus, Márquez utilizou os compostos mais duros, Pedrosa os intermediários e Lorenzo os macios. Pelas suas observações, Pedrosa tinha o conjunto mais eficiente nas últimas voltas e o resultado final teve muito mais a ver com o crescimento das Honda durante a prova que pela perda de desempenho da Ducati de Lorenzo. Embora a máquina seja importante no decorrer de uma corrida, o comportamento das Honda (1º & 2º) e das Yamaha (4º & 5º) foi muito semelhante, a técnica de condução e a disposição dos pilotos fez a diferença. Pedrosa só não venceu porque foi muito conservador no início e perdeu muito tempo para ultrapassar Vinales.

A HRC foi a equipe que mais sofreu com a imposição da eletrônica padronizada, a RC213V em 2015 era muito dependente do seu software proprietário e seus engenheiros não se entenderam com o pacote da Magneti-Marelli. Suppo endereçou este problema de forma pragmática, contratou um dos principais engenheiros envolvidos no desenvolvimento do projeto italiano para ajudar o seu pessoal a esmiuçar as linhas de código.
Suppo também mencionou que, a exemplo do Circuito das Américas e de Sachsenring,  a prova em Motorland é realizada no sentido anti-horário da pista, que privilegia curvas para a esquerda, as preferidas de Marc Márquez. Lembrou que o atual líder do campeonato não pontuou em 3 das 14 etapas realizadas este Ano, duas por quedas (Argentina e França) e uma por problemas técnicos (Inglaterra). Nesta temporada o piloto já acumula outras 18 quedas nos fins de semana de GPs devido a sua obstinação e busca incessante pelos limites das pistas.




Locutores ou Torcedores

Havia em anos passados no Brasil uma organização financeira chamada Banco América do Sul, orientado para servir preferencialmente imigrantes japoneses. Em uma ocasião tive a oportunidade de conversar com um gestor da instituição e perguntei a razão pela qual todos os funcionários graduados na organização eram nipônicos ou descendentes, ele pacientemente explicou: “Um oriental fala as coisas como elas são, não como gostaria que fossem”. Lembrei desta história ao rever o vídeo da prova em Motorland, o locutor e o comentarista da emissora que transmitiu a prova para o Brasil enumeravam todas as possíveis desculpas para justificar a queda de Valentino Rossi na classificação geral. Seus tempos registrados nos relatórios oficiais indicam que a diferença entre o mais rápido na 2ª volta, 1’49.334, e o da volta 22. 1’49.978, não são muito significativos e podem ser atribuídos ao desgaste do equipamento. A perda de posições foi porque ele não conseguiu administrar as investidas de Márquez, Pedrosa e Vinales. Não há demérito nisso, os três são pilotos talentosos e dispõem de máquinas com eficiência comprovada. O que pode ter pesado para o italiano foi o tempo de convalescência, período em que foi impossibilitado de cuidar da sua forma física.
Valentino merece ser admirado por sua determinação e coragem, o modo como desceu da moto no final da prova e caminhou em direção ao espaço reservado da Yamaha não evidenciou nenhum tipo de cansaço excessivo ou convívio com dor. Rossi é um ícone, é importante para o sucesso da MotoGP, leva legiões de torcedores aos circuitos, entretanto não existe uma regra no regulamento da competição que o obrigue a ter sempre desempenhos brilhantes ou ser superior aos concorrentes. Sua última temporada vitoriosa foi em 2009, desde 2013 pilotando um dos melhores equipamentos das pistas ele contabiliza apenas 10 vitórias, contra 34 de Marc Márquez da Honda e 21 de Jorge Lorenzo com uma Yamaha igual a dele. 




 

Direção Perigosa

Houve na etapa de Aragon dois fatos distintos que, em essência, buscavam o mesmo objetivo, evitar a ultrapassagem.  Na volta final da Moto3 o vencedor Joan Mir (Leopard Racing) desceu a última reta serpenteando na pista, impedindo os italianos Giannantonio (Gressini) e Bastianini (Estrella Galicia) de aproveitar o seu vácuo para disputar a freada na última curva da prova (Video aqui). A manobra foi considerada genial pela imprensa espanhola e irresponsável pela mídia italiana. As regras da MotoGP diferem da Fórmula 1 e não limitam o número de mudanças de posicionamento na pista que um piloto pode fazer para dificultar uma ultrapassagem, porém o procedimento do vencedor da prova e líder inconteste do campeonato foi considerado pelos comissários como direção perigosa, o piloto foi penalizado com 6 posições no próximo grid de largada.

Na prova principal, Valentino Rossi foi muito duro ao tentar defender a posição na ultrapassagem da Honda de Dani Pedrosa na reta oposta, o italiano espremeu o espanhol até o limite da irresponsabilidade a mais de 300 km/h. Pedrosa, normalmente um piloto muito contido, reclamou acintosamente na entrevista do Parc Fermé e em declarações depois da prova, Rossi considerou a manobra normal. O fato não foi registrado como uma ocorrência para ser analisada pelos comissários da prova.

Nenhum comentário:

Postar um comentário