Os
promotores do mundial de MotoGP não são entidades beneficentes e sabem que um “gap”
tecnológico muito grande entre as equipes torna as corridas monótonas, sem
atrativos, como tem acontecido nas últimas provas da Fórmula 1 com a hegemonia
da Mercedes. Menor competitividade resulta em menor audiência, menor exposição para
os patrocinadores, menores lucros. Desde o GP da Austrália em 2010 o monopólio
dos vencedores é das equipes oficiais das fábricas Yamaha e Honda, não por
acaso as que administram os maiores orçamentos.
Para
obter um ambiente de maior competitividade nas pistas só existem duas opções, dotar
as equipes menores com recursos para que também possam investir pesado em
desenvolvimento ou nivelar por baixo, utilizar um regulamento que impeça o uso
de tecnologia de ponta. A Dorna e a FIM, ao introduzir no regulamento a
obrigatoriedade do uso do pacote eletrônico unificado, escolheram a segunda
opção. Nestes termos é compreensível o desabafo do vice-presidente da HRC,
Shuhei Nakamoto, que declarou durante os testes de Sepang que “O software
unificado é semelhante ao que utilizamos dez anos atrás". O escopo da HRC
de desenvolver tecnologia para ser portada para as motos de linha foi
temporariamente suspenso para ajustar a potência e o comportamento da RC213V de
2016 às limitações do software unificado.
Muita
coisa mudou, exigindo muito mais dos pilotos. MotoGP, independente de toda a
estrutura de apoio, é um esporte solitário. Uma vez apagadas as luzes que
autorizam a largada, a sinergia entre piloto e moto é única, os recursos de
telemetria servem apenas para amostrar comportamento de componentes para serem
analisados mais tarde. As instruções que nos habituamos a ouvir nas coberturas
de Fórmula 1, dos boxes solicitando aos pilotos para “adotarem o plano B” ou
“cuidarem da temperatura dos freios” não existem na MotoGP, pilotos não tem
comunicação com engenheiros durante as provas.
O
procedimento de ajustar a moto durante a competição era realizado pelo software
dos fabricantes. Até a temporada passada as motos eram equipadas com
sistemas GPS que forneciam em tempo real a sua posição na pista e a
eletrônica determinava o comportamento mais eficiente do controle de tração e
entrega de torque. As estratégias eram adaptadas durante a corrida considerando
fatores como consumo de combustível e degradação de pneus. Para 2016 os GPSs
foram banidos e o software da Magneti Marelli é muito limitado.
O
software unificado endereça a mudança de comportamento da moto durante uma
corrida, na medida em que os pneus perdem aderência, de uma maneira simplista, permite
que o piloto selecione entre mapas pré-definidos com as características da
pista. Até 2015 a preocupação do piloto era como contornar uma curva e as
condições ideais de comportamento do equipamento eram administradas pela
eletrônica, agora ele deve fazer durante a corrida a melhor opção entre mapas
específicos para cada ocasião.
Handlebar Buttons - Ducati Desmosedici GP14 |
O
software da Magneti Marelli pode administrar ajustes curva por curva durante
uma volta, o que ele não faz é se auto ajustar. A aderência de uma pista não é
uniforme e o software contempla condutas diferentes em cada curva porque o
coeficiente de atrito pode ser diferente, porém são comportamentos
pré-definidos, não adaptativos.
Sem o
auxílio do GPS, que foram banidos pelo regulamento, as balizas que limitam os
setores de cronometragem são utilizadas para estimar a posição da moto na
pista. Ao passar por uma destas balizas o software sincroniza e passa a contar
as rotações da roda, calculando a distância percorrida para estimar onde a moto
está na pista e adequar os ajustes pré-definidos no mapa escolhido pelo piloto.
Este procedimento implica em dois problemas, (1) ao passar pela baliza o mapa é
sincronizado e qualquer variação da trilha ideal introduz erro crescente que só
será corrigido no próximo ponto de amostragem, (2) se inadvertidamente sair da
pista, o comportamento da moto fica totalmente prejudicado até ser “zerado” no
ponto seguinte.
Não
há nenhuma garantia que o chamado “Pacote de Redução de Custos” consiga
equilibrar a competitividade na MotoGP. Com certeza vai haver um período de
adaptação antes de surgir um indicativo claro se os objetivos dos promotores,
FIM e Dorna, foram ou não alcançados.
No
Grande Prêmio de Motegi, em 2015 com pista molhada, as Yamaha de Jorge Lorenzo
e Valentino Rossi dispararam na frente do início da corrida, o líder abriu mais
de 8 segundos de vantagem sobre a Honda de Dani Pedrosa. Quando o desgaste dos
pneus começou a ficar evidenciado as duas Yamaha perderam consistência e foram
ultrapassadas por Pedrosa, que venceu a competição com 8,5 segundos de vantagem
sobre Lorenzo. As condições de pista eram iguais, os tipos de pneus iguais,
nesta prova venceu o gerenciamento eletrônica da Honda. Com certeza uma reação
destas seria improvável com o software unificado.
Publicado em 12 de fevereiro de 2016 no site www.autoracing.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário