MotoGP – 2020 A pior temporada de Rossi
Valentino
Rossi marcou uma média de 4,7 pontos por corrida na última temporada, mas ainda
adora o desafio das corridas, então não há porque se aposentar da MotoGP.
Valentino Rossi provavelmente não quer saber, embora
provavelmente já saiba, 2020 foi sua pior temporada desde que entrou para o
circo dos GPs em 1996. Um caminho longo. Seu 25º ano no mundial foi ainda pior
do que suas duas temporadas estéreis na Ducati e sua campanha de estreia no GP
de 125cc, quando ele tinha 16 anos. Tudo o que poderia dar errado para o 9
vezes campeão mundial em 2020 aconteceu.
Rossi tem 41 anos, perto do dobro da idade do campeão da
MotoGP de 2020 (Joan Mir, 23), então já não é tão rápido quanto costumava ser
(seus reflexos não são mais os mesmos, ele sabe disso), mas foi muito
prejudicado por uma motocicleta abaixo da média, motores quebrados, acidentes e
finalmente Covid-19.
A média de pontos por corrida, do máximo de 25, foi apenas
4,7, inferior à sua segunda menor pontuação na campanha 1996, quando sua média
foi 7,4 pontos por corrida. Desconsiderando as duas provas em que esteve
ausente por causa da Covid-19, sua pontuação média é de 5,5 pontos por corrida.
Uma comparação com seus melhores anos, nas temporadas de 2002, 2003 e 2005 ele
alcançou uma média próxima de 22 pontos a cada fim de semana.
Rossi não venceu uma única corrida em 2020, sua última vez
no degrau mais alto do pódio foi em Assen, em junho de 2017, terminou o ano em
15º na classificação geral. Suas piores posições anteriores foram em 9º lugar
no campeonato mundial de 125cc de 1996 e 7º no mundial de MotoGP de 2011 e
2019. Nesta temporada seu último desempenho brilhante foi o 3º lugar no GP da Andaluzia
(pódio triplo da Yamaha com Quartararo, Vinales e Rossi), mas uma andorinha
(pódio) só não faz verão.
É uma situação muito triste e muitos admiradores esperam
que Rossi se aposente e ceda o lugar para alguém mais jovem montar sua Yamaha
YZR-M1 (ele já perdeu o lugar na equipe oficial). Acreditem ou não, ele ainda
adora corridas e o desafio de correr, mesmo quando os resultados conduzem a um
buraco aparentemente sem fundo.
Na última prova de 2020 em Portimão Rossi terminou em 12º
lugar, um resultado miserável, embora os outros pilotos usando os M1s de mesma
especificação (Maverick Vinales e Fabio Quartararo) tenham se classificado em
11º e 14º. Ainda assim Rossi teve uma grande disputa, rodando na montanha-russa
de Portimão em um grupo de até oito pilotos, todos eles lutando por posições
intermediarias ao longo das 25 voltas. “Tive
muitas batalhas e sinceramente gostei da corrida, foi um grande desafio do
começo ao fim” foi o seu comentário ao encerrar seu 414º GP. “O resultado não foi lá estas coisas, mas foi
uma corrida melhor em relação a Valência, as diferenças de tempos para os
líderes foram muito menores."
A corrida anterior de Rossi em Valência havia sido sua
primeira completa desde a etapa de San Marino. Depois da prova em Misano ele
caiu na segunda corrida no mesmo circuito, em Barcelona e em Le Mans, depois
perdeu ambas as rodadas de Aragon por estar em quarentena por causa da
Covid-19. Foi um longo tempo sem qualquer quilometragem, e em Valência seus reflexos
não estavam no auge. Detalhes como esse importam quando está competindo rivais
que rodam todos os fins de semana, eles desenvolvem uma intimidade com seu
equipamento e sabem exatamente onde o limite está localizado.
A pergunta que não quer calar, Rossi deveria abrir caminho
para o talento mais jovem? A resposta é óbvia, enquanto ele quiser quer correr
e, igualmente importante, enquanto as fábricas entenderem que é um bom negócio
deixá-lo correr suas motos, então ele continua nas pistas. É simples assim.
Esta situação não é nova na MotoGP, já aconteceu antes. O
bicampeão mundial de 500cc Barry Sheene foi apoiado pela Suzuki até o final de
sua carreira em 1984, quando já não conseguia apresentar resultados nas pistas.
Há pouca dúvida se Sheene teria recebido sua RG500 da equipe oficial caso não
tivesse uma história na sua relação com o fabricante. O ídolo britânico venceu
os mundiais de 1976 e 1977 e sua última vitória foi no verão de 1981. Em 1984,
marcou apenas um pódio, na chuva em Kyalami, África do Sul. Muito parecido com
o Rossi atual.
Rossi e Sheene desfrutam de status especial entre os
pilotos de motos porque desenvolveram um perfil diferenciado. Suas bases de fãs
e seu apelo comercial transcendem ao mundo do motociclismo, o que os faz valer
um bom dinheiro e boas motos.
Barry Sheene, o primeiro superstar britânico da MotoGP
Assim como Rossi, Sheene encantava fora das pistas e transitava
com igual desenvoltura nas páginas sociais e esportivas dos jornais do Reino
Unido. Criava fatos para virarem notícias, uma vez abriu om furo no capacete
para poder fumar antes da largada. No início de sua última temporada de grandes
prêmios, após 3 anos de resultados pífios, Sheene montou na sua RG500 no palco de
TV durante um programa ao vivo em horário nobre na British Broadcasting
Corporation (BBC). Esse tipo de exposição não tem preço para empresas que
tentam vender motocicletas, ou qualquer outra coisa nesse caso. É assim que
funciona, o dinheiro faz o mundo dar voltas e os motociclistas participam deste
arranjo.
Este tipo de status dá a um piloto um poder especial. Como
Sheene, Rossi está na posição de comando de seu próprio destino; até um certo
ponto é claro. Então ele decidirá quando escreverá o capítulo final e quando a
história deve terminar.
Rossi saindo dos boxes para uma sessão de classificação
Rossi está planejando a sua 26ª temporada de GPs e
estudando como ele pode melhorar a si mesmo. “Tenho que trabalhar muito para
melhorar em algumas áreas onde não sou forte, como a qualificação, que agora é
tão importante”, ele comentou recentemente. Rossi tem lutado com a qualificação
desde que a MotoGP introduziu o atual formato de etapas de 15 minutos em 2013.
À medida que a corrida se aproxima e os adversários são mais competitivos, fica
mais complicado buscar a vitória se não estiver classificado nas duas primeiras
filas. Isso tem sido um problema recorrente para ele nas últimas oito
temporadas. Também espera que a Yamaha possa reverter suas performances
decrescentes dos últimos anos e construir uma M1 melhor para 2021.
“Vamos ajudar a
Yamaha como sempre para fazer um bom trabalho e melhorar em algumas áreas, pois
nos últimos anos (inclui 2020) fomos fortes no início da temporada. Nossos
concorrentes são mais ágeis em corrigir problemas e melhorar o desempenho,
então no final da temporada as coisas ficam complicadas. Este ano, o primeiro
na equipe Petronas e com uma especificação igual às da equipe oficial, será um
desafio difícil e precisamos chegar prontos na primeira corrida”.
Rossi venceu sua última corrida aos 38 anos, terá 42 anos
quando a próxima temporada começar e muitas pessoas já estão supondo que vai pendurar
o macacão no final do ano. Talvez, mas se aproveitar 2021 e conseguir alguns
pódios, pode querer continuar até 2022. As possibilidades de mais vitórias são
complicadas, mas certamente não impossíveis.
No entanto, é improvável que ele se torne o vencedor mais
velho da classe principal. Atualmente, o piloto mais velho a conquistar a
vitória nas 500cc/MotoGP foi Fergus Anderson, que venceu o GP da Espanha de
1953, realizado em Montjuic, aos 44 anos. A história de Anderson é
interessante. Ele foi uma das primeiras estrelas britânicas da década de 1930 e
ajudou a financiar sua carreira escrevendo sobre suas realizações para a
imprensa britânica. De alguma forma, suas reportagens criaram problemas com os
nazistas, a ponto de ser incluído no Livro Negro de Hitler. Esta publicação da
Gestapo incluiu a lista dos mais indesejáveis e procurados, que seriam presos e
neutralizados (eufemismo para assassinatos) pelo departamento de
contra-espionagem assim que os países fossem invadidos pelas forças alemãs.
Sobrevivendo a guerra, Anderson ganhou os títulos mundiais
de 350cc nos anos 1953 e 1954 montando equipamentos Moto Guzzi. Morreu em um
acidente em 1956 disputando com uma BMW a última prova realizada um circuito de
rua em Floreffe, Bélgica.
Circuito de rua de Floreffe, Bélgica
(Baseado em um texto de Mat Oxley
publicado em novembro de 2020 na Motorsportmagazine.com)
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