Dani Petrosa &
Andrea Dovizioso no Circuito das Américas - 2016
Não
lembro do autor, pode ter sido João Saldanha no curto período que dirigiu a
Seleção Brasileira antes da Copa de 1970, porém a frase foi e continua sendo
muito significativa: “A seleção não é o lugar para goleiro azarado”. Em termos
de MotoGP o conceito pode ser expandido para “Não existem campeões azarados”.
Consta
do folclore da MotoGP que Dani Pedrosa somente assumiu a profissão de piloto
profissional depois que a Força Aérea Espanhola recusou sua inscrição por razões
médicas: Não foi aprovado no exame oftalmológico – quando em posição de sentido
seus olhos ficam muito próximos do chão.
O
espanhol Dani Pedrosa, 33 anos, é natural de Sabadell, Espanha, disputou o seu
primeiro campeonato de motovelocidade em 2001, e conquistou seu primeiro título
em 2003 na classe 125cc. Promovido, nos anos seguintes foi bicampeão na
categoria 250cc. Pedrosa teve uma longa carreira na MotoGP, 13 temporadas, 217 largadas
e 31 vitórias, inclusive em 2012 conquistou 7 vitórias, uma a mais que o
campeão Jorge Lorenzo.
O
espanhol sempre esteve associado com a equipe Repsol-Honda e tem uma longa história
de adaptação, superação e força de vontade por causa da sua constituição física
diminuta e por uma tendência para acidentes. As medidas oficiais da MotoGP
registram que Dani Pedrosa tem 1,58m de altura e pesa 51kg. Quando foi
promovido para a MotoGP houve quem argumentasse ser necessário impor um peso
mínimo do conjunto moto/condutor para limitar vantagens (?) de pilotos de
pequena estatura. Os protótipos da MotoGP são máquinas de mais de 150 kg
e muito potentes, o pouco peso do piloto pode contribuir marginalmente em
retas, mas é uma desvantagem sensível em curvas. Para obter preciosos
milissegundos os pilotos necessitam de carga nos pneus para gerar calor,
deformar a carcaça e expandir a área de contato. Pedrosa sempre pesou menos do
que seus rivais e não podia carregar o pneu traseiro como eles, como resultado tem
menos aderência nas saídas de curvas. Dani também tem menor envergadura, é
menos eficiente quando se move para transferir carga para frente, para trás ou
de um lado para outro. Também não tem o efeito de alavanca em seus membros para
trabalhar a direção.
A
carreira de Dani Pedrosa pode ser sintetizada no GP de San Marino em 2012. Estava
no melhor momento da sua carreira, o campeão mundial Casey Stoner estava fora
da corrida pelo título por ter rompido os ligamentos em um acidente em
Indianápolis, Dani havia vencido na Alemanha, Indianápolis e República Checa.
Faltavam 6 provas e ele estava a 13 pontos de Jorge Lorenzo. Em San Marino Dani
conquistou a pole e, depois de alinhado no grid, identificou um problema no
freio dianteiro. A moto foi recolhida para a garagem enquanto todos os outros
concorrentes davam a volta de apresentação. Os mecânicos conseguiram consertar
o defeito e Pedrosa largou em último para uma curta performance, foi abalroado
por Hector Barbera e abandonou a prova. A vitória de Lorenzo em San Marino lhe
custou o campeonato.
Depois
de ser colega de Nicky Hayden (2006 a 2008), Andrea Dovizioso (2009 e 2010) e
Casey Stoner (2011 e 2012), em 2023 Pedrosa passou a dividir os compromissos
oficiais da Repsol-Honda com Marc Márquez, que surpreendeu o mundo com sua
técnica de condução criativa e agressiva. O convívio entre eles foi muito
proveitoso para Márquez, que recebeu ensinamentos valiosos sobre o protótipo
RC213V. O inverso não ocorreu, o estilo de pilotar de Márquez exige força,
mobilidade e envergadura, Pedrosa é um pouco menor e, mesmo mantendo boa forma,
não tem o físico adequado para replicar a técnica do companheiro.
Todos
que acompanharam a sua carreira de piloto reconhecem que os resultados de Pedrosa não correspondem ao seu
talento. Ele foi muito penalizado pela obrigatoriedade da eletrônica
padronizada, o software proprietário da Honda compensava algumas de suas limitações,
e atrapalhado por toda a sorte de acidentes, embora ninguém tem a certeza se existe
alguma relação entre estas ocorrências e sua estatura. Dani Pedrosa é um
exemplo vivo da possibilidade de recuperação de traumatismos, em seus 15 anos
de carreira (início em 2001 na 125cc) contabilizou inúmeras fraturas, três
delas em sua clavícula esquerda.
Os registros do piloto de Sabadell evidenciam que ele foi
um piloto excepcional, 295 largadas (217 na MotoGP), 54 vitórias (31 na
principal categoria), em sua carreira ele acumulou 4.162 pontos. Nos 70 anos do
mundial de motovelocidade só 6 pilotos têm números melhores, Giacomo Agostini,
Valentino Rossi, Angel Nieto, Miky Hailwood, Marc Márquez e Jorge Lorenzo. Dani
Pedrosa tem o mesmo número de vitórias do lendário Mick Doohan e um recorde
difícil de ser igualado, é o único piloto a conseguir pelo menos uma vitória em
16 temporadas consecutivas do Mundial de Motovelocidade.
Dani Pedrosa em sua longa carreira participou de GPs
memoráveis, entre os quais a etapa do Japão em 2015, disputada em clima úmido. Jorge
Lorenzo e Valentino Rossi, colegas de equipe na Yamaha, estavam em uma luta
acirrada pelo título da temporada, faltando 15 voltas ambos lideravam a prova
seguidos da Ducati de Andrea Dovizioso e da Honda de Pedrosa. Em 7 voltas Dani
recuperou os mais de 8 segundos de desvantagem para superar o líder e terminou
a prova com quase 9 segundos de diferença sobre o segundo colocado (Rossi).
A temporada de 2016 começou tumultuada para Andrea
Dovizioso. Depois de uma excelente colocação na abertura em Losail, foi
derrubado por seu colega de equipe (Iannone) a poucos metros da bandeirada em
Rio Hondo quando estava na 2ª
posição. Na
corrida seguinte, no Circuito das Américas, sua Ducati foi atingida pela Honda
#26, era a época das winglets, apêndices aerodinâmicos que
posteriormente foram banidos por razões de segurança. Dani Pedrosa, que perdeu
o controle da sua moto e atingiu o italiano, foi o primeiro a verificar as
condições do colega. Correu o mundo a imagem do espanhol atendendo o piloto
acidentado.
Em 2011 uma manobra irresponsável de Marco Simoncelli
provocou a queda de Dani Petrosa. O piloto fraturou a clavícula e ficou três
provas afastado. Quando retornou, no GP da Itália, o espanhol recusou uma
tentativa de aproximação do italiano, Dani estava muito irritado com
Simoncelli. Dez GPs mais tarde, quando aconteceu o acidente em Sepang que
causou o óbito do italiano, Pedrosa procurou o pai do piloto para prestar
condolências, mas não conseguiu falar. Foi nesta ocasião, falando depois para a
imprensa, que Pedrosa confessou que se arrependeu de ter evitado a aproximação
do colega 3 meses antes, declarou que “A vida é muito curta para cultivar
inimizades”.
A temporada de 2018 revelou uma característica diferenciada
de Dani Pedrosa, a generosidade. Ao andar atrás de Maverick Vinales em um
treino ele identificou que o comportamento da Yamaha revelava um problema de
distribuição de peso, comentou com o colega, A engenharia da Yamaha analisou
esta informação e procedeu alterações que melhoraram muito o desempenho dos
protótipos.
No biênio de 2019/2020 Pedrosa vai desempenhar as funções
de piloto de testes e consultor para a equipe austríaca KTM, para auxiliar a
equipe a alcançar o seu objetivo de ser uma das protagonistas e não uma
figurante na MotoGP. Antes, porém, optou por um tratamento com células-tronco
para reforçar/recompor a clavícula.
Carlos Alberto
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