sexta-feira, 14 de junho de 2019

MotoGP – O pequeno grande homem





Dani Petrosa & Andrea Dovizioso no Circuito das Américas - 2016



Não lembro do autor, pode ter sido João Saldanha no curto período que dirigiu a Seleção Brasileira antes da Copa de 1970, porém a frase foi e continua sendo muito significativa: “A seleção não é o lugar para goleiro azarado”. Em termos de MotoGP o conceito pode ser expandido para “Não existem campeões azarados”. 


Consta do folclore da MotoGP que Dani Pedrosa somente assumiu a profissão de piloto profissional depois que a Força Aérea Espanhola recusou sua inscrição por razões médicas: Não foi aprovado no exame oftalmológico – quando em posição de sentido seus olhos ficam muito próximos do chão.

O espanhol Dani Pedrosa, 33 anos, é natural de Sabadell, Espanha, disputou o seu primeiro campeonato de motovelocidade em 2001, e conquistou seu primeiro título em 2003 na classe 125cc. Promovido, nos anos seguintes foi bicampeão na categoria 250cc. Pedrosa teve uma longa carreira na MotoGP, 13 temporadas, 217 largadas e 31 vitórias, inclusive em 2012 conquistou 7 vitórias, uma a mais que o campeão Jorge Lorenzo.


O espanhol sempre esteve associado com a equipe Repsol-Honda e tem uma longa história de adaptação, superação e força de vontade por causa da sua constituição física diminuta e por uma tendência para acidentes. As medidas oficiais da MotoGP registram que Dani Pedrosa tem 1,58m de altura e pesa 51kg. Quando foi promovido para a MotoGP houve quem argumentasse ser necessário impor um peso mínimo do conjunto moto/condutor para limitar vantagens (?) de pilotos de pequena estatura.  Os protótipos da MotoGP são máquinas de mais de 150 kg e muito potentes, o pouco peso do piloto pode contribuir marginalmente em retas, mas é uma desvantagem sensível em curvas. Para obter preciosos milissegundos os pilotos necessitam de carga nos pneus para gerar calor, deformar a carcaça e expandir a área de contato. Pedrosa sempre pesou menos do que seus rivais e não podia carregar o pneu traseiro como eles, como resultado tem menos aderência nas saídas de curvas. Dani também tem menor envergadura, é menos eficiente quando se move para transferir carga para frente, para trás ou de um lado para outro. Também não tem o efeito de alavanca em seus membros para trabalhar a direção.


A carreira de Dani Pedrosa pode ser sintetizada no GP de San Marino em 2012. Estava no melhor momento da sua carreira, o campeão mundial Casey Stoner estava fora da corrida pelo título por ter rompido os ligamentos em um acidente em Indianápolis, Dani havia vencido na Alemanha, Indianápolis e República Checa. Faltavam 6 provas e ele estava a 13 pontos de Jorge Lorenzo. Em San Marino Dani conquistou a pole e, depois de alinhado no grid, identificou um problema no freio dianteiro. A moto foi recolhida para a garagem enquanto todos os outros concorrentes davam a volta de apresentação. Os mecânicos conseguiram consertar o defeito e Pedrosa largou em último para uma curta performance, foi abalroado por Hector Barbera e abandonou a prova. A vitória de Lorenzo em San Marino lhe custou o campeonato.


Depois de ser colega de Nicky Hayden (2006 a 2008), Andrea Dovizioso (2009 e 2010) e Casey Stoner (2011 e 2012), em 2023 Pedrosa passou a dividir os compromissos oficiais da Repsol-Honda com Marc Márquez, que surpreendeu o mundo com sua técnica de condução criativa e agressiva. O convívio entre eles foi muito proveitoso para Márquez, que recebeu ensinamentos valiosos sobre o protótipo RC213V. O inverso não ocorreu, o estilo de pilotar de Márquez exige força, mobilidade e envergadura, Pedrosa é um pouco menor e, mesmo mantendo boa forma, não tem o físico adequado para replicar a técnica do companheiro.


Todos que acompanharam a sua carreira de piloto reconhecem que os resultados de Pedrosa não correspondem ao seu talento. Ele foi muito penalizado pela obrigatoriedade da eletrônica padronizada, o software proprietário da Honda compensava algumas de suas limitações, e atrapalhado por toda a sorte de acidentes, embora ninguém tem a certeza se existe alguma relação entre estas ocorrências e sua estatura. Dani Pedrosa é um exemplo vivo da possibilidade de recuperação de traumatismos, em seus 15 anos de carreira (início em 2001 na 125cc) contabilizou inúmeras fraturas, três delas em sua clavícula esquerda. 


Os registros do piloto de Sabadell evidenciam que ele foi um piloto excepcional, 295 largadas (217 na MotoGP), 54 vitórias (31 na principal categoria), em sua carreira ele acumulou 4.162 pontos. Nos 70 anos do mundial de motovelocidade só 6 pilotos têm números melhores, Giacomo Agostini, Valentino Rossi, Angel Nieto, Miky Hailwood, Marc Márquez e Jorge Lorenzo. Dani Pedrosa tem o mesmo número de vitórias do lendário Mick Doohan e um recorde difícil de ser igualado, é o único piloto a conseguir pelo menos uma vitória em 16 temporadas consecutivas do Mundial de Motovelocidade.


Dani Pedrosa em sua longa carreira participou de GPs memoráveis, entre os quais a etapa do Japão em 2015, disputada em clima úmido. Jorge Lorenzo e Valentino Rossi, colegas de equipe na Yamaha, estavam em uma luta acirrada pelo título da temporada, faltando 15 voltas ambos lideravam a prova seguidos da Ducati de Andrea Dovizioso e da Honda de Pedrosa. Em 7 voltas Dani recuperou os mais de 8 segundos de desvantagem para superar o líder e terminou a prova com quase 9 segundos de diferença sobre o segundo colocado (Rossi).


A temporada de 2016 começou tumultuada para Andrea Dovizioso. Depois de uma excelente colocação na abertura em Losail, foi derrubado por seu colega de equipe (Iannone) a poucos metros da bandeirada em Rio Hondo quando estava na 2ª posição. Na corrida seguinte, no Circuito das Américas, sua Ducati foi atingida pela Honda #26, era a época das winglets, apêndices aerodinâmicos que posteriormente foram banidos por razões de segurança. Dani Pedrosa, que perdeu o controle da sua moto e atingiu o italiano, foi o primeiro a verificar as condições do colega. Correu o mundo a imagem do espanhol atendendo o piloto acidentado.


Em 2011 uma manobra irresponsável de Marco Simoncelli provocou a queda de Dani Petrosa. O piloto fraturou a clavícula e ficou três provas afastado. Quando retornou, no GP da Itália, o espanhol recusou uma tentativa de aproximação do italiano, Dani estava muito irritado com Simoncelli. Dez GPs mais tarde, quando aconteceu o acidente em Sepang que causou o óbito do italiano, Pedrosa procurou o pai do piloto para prestar condolências, mas não conseguiu falar. Foi nesta ocasião, falando depois para a imprensa, que Pedrosa confessou que se arrependeu de ter evitado a aproximação do colega 3 meses antes, declarou que “A vida é muito curta para cultivar inimizades”.


A temporada de 2018 revelou uma característica diferenciada de Dani Pedrosa, a generosidade. Ao andar atrás de Maverick Vinales em um treino ele identificou que o comportamento da Yamaha revelava um problema de distribuição de peso, comentou com o colega, A engenharia da Yamaha analisou esta informação e procedeu alterações que melhoraram muito o desempenho dos protótipos.

No biênio de 2019/2020 Pedrosa vai desempenhar as funções de piloto de testes e consultor para a equipe austríaca KTM, para auxiliar a equipe a alcançar o seu objetivo de ser uma das protagonistas e não uma figurante na MotoGP. Antes, porém, optou por um tratamento com células-tronco para reforçar/recompor a clavícula.



Carlos Alberto

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