segunda-feira, 7 de maio de 2018

MotoGP - Jerez 2018


Acidente em Jerez


Um acidente pode ser definido como um evento inesperado e indesejável, que ocorre de modo não intencional e normalmente causa danos. A quarta etapa do mundial da MotoGP que marcou a abertura da temporada na Europa, realizada na Andaluzia, Circuito Jerez – Angel Nieto, provavelmente vai ficar marcada na história por causa de um acidente que tirou da prova as duas Ducati e uma Honda que disputavam a segunda colocação.

Uma sequência de eventos caracterizou o GP da Espanha deste ano. Inicialmente uma reclamação da comunidade local foi prontamente atendida, apesar do dia estar muito quente as grid-girl estavam vestidas de modo conservador, de acordo com as exigências formuladas pela população local em 2017. Os tempos dos treinos combinados de sexta e sábado não indicaram o até então líder do campeonato Andrea Dovizioso entre os dez melhores, e o vice-campeão do ano passado piloto foi obrigado a disputar o Q1 para participar da disputa de formação do grid. Cal Crutchlow classificou-se para a pole batendo uma marca que resistia desde 2015 e pertencia a Jorge Lorenzo, obtida quando pilotava para a equipe oficial da Yamaha.

O britânico, que liderava o mundial até a etapa de Austin, sentiu que tinha equipamento para estar no pódio. A única diferença entre sua moto e as da equipe oficial era o braço oscilante de alumínio, enquanto as da fábrica utilizavam a peça em fibra de carbono. Crutchlow avalia que o desempenho era semelhante, infelizmente teve problemas com o pneu dianteiro e caiu durante a prova.

Um terço da corrida foi extremamente disputado. A Ducati de Lorenzo conseguiu a liderança e a manteve por sete voltas, até ser ultrapassado pelo campeão do mundo. Márquez não conseguiu abrir uma diferença cômoda nas voltas seguintes, até o equilíbrio da Ducati #99 ser comprometido pelo desgaste dos pneus. Na volta 13 houve mais um dos momentos mágicos da MotoGP que Marc Márquez apresenta, Thomas Luthi da Marc VDS perdeu o controle da sua Honda e saiu da pista jogando cascalho sobre o pavimento. Márquez não viu a sujeira e sua roda traseira derrapou, o piloto mostrando o completo controle do equipamento e uma habilidade incrível conseguiu evitar a queda e prosseguiu na liderança.

No início do último terço da prova as duas Ducati de fábrica e a Honda de Pedrosa disputavam o segundo lugar, defendido por Lorenzo. Embora com um equipamento em melhores condições, Dovizioso não conseguia ultrapassar o colega. A grande vantagem da Ducati, sua brutal capacidade de aceleração, não era eficiente na disputa com um equipamento igual. Tentou frear mais tarde em na curva 6, conseguiu tomar a frente, mas foi obrigado a abrir demais e saiu da linha preferencial. Lorenzo visualizou a oportunidade de dar o “X” usando a linha interna, porém o espaço estava ocupado por Pedrosa que tentou em uma manobra, ultrapassar os dois. A batida foi inevitável. A Ducati  #99 na queda atropelou a #04, tirando os três pilotos da prova. A rigor, um acidente de prova, assim considerado pelos comissários que decidiram não penalizar ninguém.

Houve algum culpado? A direção da prova analisou em detalhe a sequência de eventos que conduziram ao acidente e decidiu que não havia como penalizar algum dos pilotos. Colisões envolvendo três equipamentos, excetuando na largada de uma prova, são muito raras. Se tivessem envolvido Márquez, Zarco ou Petrucci ninguém ficaria muito surpreso, mas Dovizioso, Lorenzo e Pedrosa são reconhecidos como condutores cuidadosos, que evitam situações de risco. Isto foi comentado pelos três competidores de modo independente quando avaliaram o incidente. A ultrapassagem de Dovizioso por Pedrosa nas voltas anteriores foi limpa, sua tentativa sobre Lorenzo era ambiciosa, mas longe de envolver algum risco. Lorenzo realizou uma manobra defensiva padrão, tentando aplicar o “X” porque Dovizioso foi obrigado a fazer um contorno aberto. Pedrosa identificou a oportunidade e tentou ultrapassar ambos pela linha interna. É complicado apontar um culpado para uma infeliz confluência de eventos.

Evidente que no calor da disputa os três envolvidos ficaram irritados, entretanto procuraram não apontar para um culpado. A Ducati foi a grande perdedora e seus pilotos estavam obviamente frustrados. Todos entenderam que a causa foi uma antiga lei da física que dois corpos não podem, a um mesmo tempo, ocupar o mesmo lugar no espaço. Aconteceu com Pedrosa e Lorenzo, Dovizioso foi dano colateral.

Abatido e triste pelo resultado, Jorge Lorenzo comentou depois da prova que foi uma autêntica má sorte porque envolveu três pilotos que sempre jogam limpo. Andrea Dovizioso reconheceu que foi um incidente de corrida. Como sempre ponderado, explica que apontar culpados é inútil, mesmo porque não vai devolver os pontos perdidos. Ele caiu da liderança para a quarta posição no mundial. Justifica sua manobra indicando que que Lorenzo era mais lento no centro da curva, mas com muita aceleração e ele não tinha condições para realizar uma ultrapassagem limpa. Estavam os dois no limite, tentaram uma manobra extrema, dentro do aceitável em uma disputa, não deu certo. Apesar de muito provocado pela imprensa italiana, Dovi isentou o colega de equipe, disse que Lorenzo não tinha como ver ou prever a manobra de Pedrosa. Se existe alguma culpa em relação ao incidente, deve ser contabilizada na impetuosidade do pequeno espanhol.

Pedrosa estava indignado, não tanto pelo incidente, mais pela sequência de ocorrências. Foi a sua segunda queda em quatro etapas deste campeonato. Na Argentina foi uma disputa com Zarco que provocou o seu “highside” (catapultado da moto), em Jerez aconteceu de novo, e em ambas ocasiões a direção de prova considerou incidentes normais. Há insistentes comentários na “rádio paddock” que seu lugar na Honda esteja comprometido e ele precisa urgentemente de resultados. 

Em relação a esta corrida, o Corriere dello Sport, de Roma, registrou com mais ênfase o quinto lugar conquistado por Valentino Rossi que o acidente de Dovizioso. A Gazzetta dello Sport de Milão publicou uma curta reportagem onde o piloto da Ducati isenta seu colega de equipe de qualquer responsabilidade no ocorrido.

O pessoal que vinha atrás foi favorecido, Johann Zarco terminou o GP de Espanha na segunda posição com uma desvantagem de cinco segundos para Marc Márquez. Sobre o seu desempenho em pista, o piloto da Tech3 afirmou estar consciente da sorte que teve, apesar de ter tentado ao máximo acompanhar os pilotos mais rápidos. Largou na terceira posição e conseguiu ser mais rápido que Pedrosa no início, mas seu equipamento não permitiu acompanhar as Honda e as Ducati. Conformado, limitou-se a tentar ficar próximo dos líderes, e ficou surpreso com o que aconteceu na sua frente. Foi espetacular ter conseguido mais vinte pontos para o campeonato.

Andrea Ianonne registrou o terceiro pódio consecutivo para a Suzuki. Foi significativo para a competitividade do campeonato que os quatro primeiros colocados pilotavam máquinas de quatro fabricantes distintos, Honda (Márquez), Yamaha (Zarco), Suzuki (Ianonne) e Ducati (Petrucci). Mais uma vez o modelo antigo da Yamaha andou na frente da versão 2018 da equipe oficial.

A exemplo do que aconteceu em Austin, a disputa pela liderança da prova acabou cedo. Quando houve o múltiplo acidente, o líder já havia aberto alguma vantagem. Na volta 22 Márquez conseguiu uma diferença de 7,449 segundos sobre Johann Zarco, o segundo colocado, e uma simples regra de três indica que com o tempo de volta de 1'40.14 para percorrer os 4.423m do circuito, este intervalo representa uma distância de aproximadamente 330m na pista.  

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