Acidente em Jerez |
Um acidente pode ser definido
como um evento inesperado e indesejável, que ocorre de modo não intencional e normalmente
causa danos. A quarta etapa do mundial da MotoGP que marcou a abertura da
temporada na Europa, realizada na Andaluzia, Circuito Jerez – Angel Nieto, provavelmente
vai ficar marcada na história por causa de um acidente que tirou da prova as duas
Ducati e uma Honda que disputavam a segunda colocação.
Uma sequência de eventos
caracterizou o GP da Espanha deste ano. Inicialmente uma reclamação da
comunidade local foi prontamente atendida, apesar do dia estar muito quente as
grid-girl estavam vestidas de modo conservador, de acordo com as exigências
formuladas pela população local em 2017. Os tempos dos treinos combinados de
sexta e sábado não indicaram o até então líder do campeonato Andrea Dovizioso
entre os dez melhores, e o vice-campeão do ano passado piloto foi obrigado a
disputar o Q1 para participar da disputa de formação do grid. Cal Crutchlow
classificou-se para a pole batendo uma marca que resistia desde 2015 e
pertencia a Jorge Lorenzo, obtida quando pilotava para a equipe oficial da Yamaha.
O britânico, que
liderava o mundial até a etapa de Austin, sentiu que tinha equipamento para
estar no pódio. A única diferença entre sua moto e as da equipe oficial era o
braço oscilante de alumínio, enquanto as da fábrica utilizavam a peça em fibra
de carbono. Crutchlow avalia que o desempenho era semelhante, infelizmente teve
problemas com o pneu dianteiro e caiu durante a prova.
Um terço da corrida foi
extremamente disputado. A Ducati de Lorenzo conseguiu a liderança e a manteve
por sete voltas, até ser ultrapassado pelo campeão do mundo. Márquez não
conseguiu abrir uma diferença cômoda nas voltas seguintes, até o equilíbrio da
Ducati #99 ser comprometido pelo desgaste dos pneus. Na volta 13 houve mais um
dos momentos mágicos da MotoGP que Marc Márquez apresenta, Thomas Luthi da Marc
VDS perdeu o controle da sua Honda e saiu da pista jogando cascalho sobre o
pavimento. Márquez não viu a sujeira e sua roda traseira derrapou, o piloto
mostrando o completo controle do equipamento e uma habilidade incrível conseguiu
evitar a queda e prosseguiu na liderança.
No início do último
terço da prova as duas Ducati de fábrica e a Honda de Pedrosa disputavam o
segundo lugar, defendido por Lorenzo. Embora com um equipamento em melhores
condições, Dovizioso não conseguia ultrapassar o colega. A grande vantagem da
Ducati, sua brutal capacidade de aceleração, não era eficiente na disputa com
um equipamento igual. Tentou frear mais tarde em na curva 6, conseguiu tomar a
frente, mas foi obrigado a abrir demais e saiu da linha preferencial. Lorenzo
visualizou a oportunidade de dar o “X” usando a linha interna, porém o espaço
estava ocupado por Pedrosa que tentou em uma manobra, ultrapassar os dois. A
batida foi inevitável. A Ducati #99 na
queda atropelou a #04, tirando os três pilotos da prova. A rigor, um acidente
de prova, assim considerado pelos comissários que decidiram não penalizar
ninguém.
Houve
algum culpado? A direção da prova analisou em detalhe a sequência de eventos
que conduziram ao acidente e decidiu que não havia como penalizar algum dos
pilotos. Colisões envolvendo três equipamentos, excetuando na largada de uma
prova, são muito raras. Se tivessem envolvido Márquez, Zarco ou Petrucci
ninguém ficaria muito surpreso, mas Dovizioso, Lorenzo e Pedrosa são
reconhecidos como condutores cuidadosos, que evitam situações de risco. Isto foi
comentado pelos três competidores de modo independente quando avaliaram o
incidente. A ultrapassagem de Dovizioso por Pedrosa nas voltas anteriores foi
limpa, sua tentativa sobre Lorenzo era ambiciosa, mas longe de envolver algum risco.
Lorenzo realizou uma manobra defensiva padrão, tentando aplicar o “X” porque
Dovizioso foi obrigado a fazer um contorno aberto. Pedrosa identificou a
oportunidade e tentou ultrapassar ambos pela linha interna. É complicado
apontar um culpado para uma infeliz confluência de eventos.
Evidente
que no calor da disputa os três envolvidos ficaram irritados, entretanto procuraram
não apontar para um culpado. A Ducati foi a grande perdedora e seus pilotos
estavam obviamente frustrados. Todos entenderam que a causa foi uma antiga lei
da física que dois corpos não podem, a um mesmo tempo, ocupar o mesmo lugar no
espaço. Aconteceu com Pedrosa e Lorenzo, Dovizioso foi dano colateral.
Abatido e triste pelo resultado, Jorge Lorenzo
comentou depois da prova que foi uma autêntica má sorte
porque envolveu três pilotos que sempre jogam limpo. Andrea
Dovizioso reconheceu que foi um incidente de corrida.
Como sempre ponderado, explica que apontar culpados é inútil, mesmo porque não
vai devolver os pontos perdidos. Ele caiu da liderança para a quarta posição no
mundial. Justifica sua manobra indicando que que Lorenzo era mais lento no
centro da curva, mas com muita aceleração e ele não tinha condições para
realizar uma ultrapassagem limpa. Estavam os dois no limite, tentaram uma
manobra extrema, dentro do aceitável em uma disputa, não deu certo. Apesar de muito
provocado pela imprensa italiana, Dovi isentou o colega de equipe, disse que Lorenzo
não tinha como ver ou prever a manobra de Pedrosa. Se existe alguma culpa em
relação ao incidente, deve ser contabilizada na impetuosidade do pequeno
espanhol.
Pedrosa
estava indignado, não tanto pelo incidente, mais pela sequência de ocorrências.
Foi a sua segunda queda em quatro etapas deste campeonato. Na Argentina foi uma
disputa com Zarco que provocou o seu “highside” (catapultado da moto), em Jerez
aconteceu de novo, e em ambas ocasiões a direção de prova considerou incidentes
normais. Há insistentes comentários na “rádio paddock” que seu lugar na Honda
esteja comprometido e ele precisa urgentemente de resultados.
Em
relação a esta corrida, o Corriere dello Sport, de Roma, registrou com mais
ênfase o quinto lugar conquistado por Valentino Rossi que o acidente de
Dovizioso. A Gazzetta dello Sport de Milão publicou uma curta reportagem onde o
piloto da Ducati isenta seu colega de equipe de qualquer responsabilidade no
ocorrido.
O
pessoal que vinha atrás foi favorecido, Johann
Zarco terminou o GP de Espanha na segunda posição com uma desvantagem de cinco
segundos para Marc Márquez. Sobre o seu desempenho em pista, o piloto da Tech3
afirmou estar consciente da sorte que teve, apesar de ter tentado ao máximo
acompanhar os pilotos mais rápidos. Largou na terceira
posição e conseguiu ser mais rápido que Pedrosa no início, mas seu equipamento
não permitiu acompanhar as Honda e as Ducati. Conformado, limitou-se a tentar ficar
próximo dos líderes, e ficou surpreso com o que aconteceu na sua frente. Foi espetacular
ter conseguido mais vinte pontos para o campeonato.
Andrea
Ianonne registrou o terceiro pódio consecutivo para a Suzuki. Foi significativo
para a competitividade do campeonato que os quatro primeiros colocados
pilotavam máquinas de quatro fabricantes distintos, Honda (Márquez), Yamaha
(Zarco), Suzuki (Ianonne) e Ducati (Petrucci). Mais uma vez o modelo antigo da
Yamaha andou na frente da versão 2018 da equipe oficial.
A exemplo do que
aconteceu em Austin, a disputa pela liderança da prova acabou cedo. Quando
houve o múltiplo acidente, o líder já havia aberto alguma vantagem. Na volta 22
Márquez conseguiu uma diferença de 7,449 segundos sobre Johann Zarco, o segundo
colocado, e uma simples regra de três indica que com o tempo de volta de 1'40.14
para percorrer os 4.423m do circuito, este intervalo representa uma distância
de aproximadamente 330m na pista.
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