sexta-feira, 11 de maio de 2018

MotoGP - Espanhol Teimoso


"Save" de Mac Márquez



A teimosia dos espanhóis, principalmente dos catalães, é histórica.  Diz a lenda que só existe uma maneira de colocar vinte espanhóis dentro de um fusca, é só dizer que não cabem e eles dão um jeito. Marc Márquez é natural de Cervera, uma pequena cidade localizada a cento e poucos quilômetros de Barcelona por via rodoviária e, como todo o catalão, o atual campeão do mundo é um obstinado.

No final de 2015 foi lançado o documentário Hitting the Apex (A curva perfeita), contando a trajetória de seis dos pilotos da MotoGP mais rápidos do mundo, Valentino Rossi, Jorge Lorenzo, Dani Pedrosa, Marco Simoncelli, Casey Stoner e Marc Márquez. Com a narração de Brad Pitt na versão original, na parte inicial onde os princípios básicos do esporte são descritos há uma recomendação expressa aos candidatos a piloto: Fique na moto, evite a queda. Desde os seus prolegômenos em 1949 o motociclismo esportivo convive com a ocorrência de quedas durante as provas. É inerente ao esporte, uma possibilidade real em uma competição desenvolvida com velocidades que alcançam perto de 350 km/h em equipamentos equilibrados sobre duas rodas.

Alguns efeitos previsíveis acompanham o aumento da competitividade, entre eles a evolução dos ganhos dos pilotos. Os protótipos andam mais juntos, os condutores arriscam mais e a probabilidade de quedas e acidentes aumenta. Os números de 2017 indicam um total de 313 incidentes exclusivamente na MotoGP, um número 40% maior que o ano anterior (232).

O campeão de incidentes em 2017, Sam Lowes, contabilizou 31 quedas nas 18 etapas do campeonato. O segundo da relação foi o campeão Marc Márquez, com 27 ocorrências. Este número é mais notável porque apenas duas quedas ocorreram durante as críticas condições das provas, todas as outras foram nas seções de treinos que antecedem um GP. Este fato indica método, a sistemática de trabalho de Márquez é buscar o limite extremo para obter dados vitais para si e para seus engenheiros. Ninguém faz este trabalho melhor que ele.  Como explica em suas próprias palavras “Quando você acelera até o limite, consegue obter um conhecimento melhor do equipamento e fornecer informações melhores sobre a mecânica". Márquez complementa: “Se caí 27 vezes, significa que estive muito próximo de cair talvez 50 vezes. Tento aprender a controlar melhor a moto, entender onde errei, que falhas posso tentar salvar e assim por diante. ”

Marc Márquez é um recurso valioso para os engenheiros que trabalham no desenvolvimento da Honda.

Na etapa de Jerez Márquez caiu três vezes durante os treinos, venceu a prova administrando pelo menos um momento crítico quando a roda traseira derrapou no cascalho jogado na pista pela queda de Thomas Luthi.

O resultado desta metodologia pôde ser comprovado na última prova de 2017 em Valência, faltando 7 voltas para o final Márquez errou a entrada da curva 1, evitou a queda apoiando o joelho na pista e controlando a máquina quando esta invadiu a área de escape com brita. O piloto caiu da primeira para a quinta colocação, não foi um desastre total porque até a sétima colocação garantia seu título. Em uma ocorrência muito semelhante, duas voltas depois Dovizioso também invadiu a área de escape, não conseguiu manter o equilíbrio da sua Ducati e abandonou a prova.

Marc Márquez protagonizou o acidente com a maior velocidade já documentada na MotoGP. Em 2013, seu primeiro ano na categoria principal, durante os testes que antecederam o GP da Itália em Mugello ele caiu na maior reta do circuito enquanto desenvolvia 337,9 km/h. Os dados registrados pela telemetria são impressionantes, os acelerômetros indicaram que o piloto foi submetido a uma força de +25 G, o dado real pode exceder este número porque este é o maior valor possível de ser mensurado pelos equipamentos. Apesar da gravidade do ocorrido, o piloto sofreu apenas danos superficiais e foi autorizado a participar do GP. Abandonou a prova faltando três voltas para o final enquanto ocupava a segunda colocação.

Desde a sua edição inicial em 1949, o mundial de MotoGP foi decidido em três oportunidades em função de acidentes na etapa final. Em 1979 o italiano Virginio Ferrari liderava o campeonato com uma vantagem mínima sobre Kenny Rogers. Na última prova, o GP da França disputado em Le Mans, abandonou na primeira volta e a vitória do norte-americano garantiu o seu bicampeonato. No ano de 2006 Valentino Rossi, campeão das cinco temporadas anteriores, alinhou para a última prova em Valência com 8 pontos a mais que o desafiante Nicky Hayden. Rossi caiu na quarta volta e, embora tenha retornado à prova, obteve apenas a décima terceira colocação, o norte-americano com o terceiro lugar somou pontos suficientes para interromper a sequência de títulos do italiano. No ano passado Andrea Dovizioso largou em Valência com uma missão quase impossível, vencer a prova e contar com uma desistência improvável de Marc Márquez. O campeonato terminou na 25ª volta quando a Ducati do italiano abandonou a prova.



Carlos Alberto

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