"Save" de Mac Márquez |
A
teimosia dos espanhóis, principalmente dos catalães, é histórica. Diz a lenda que só existe uma maneira de
colocar vinte espanhóis dentro de um fusca, é só dizer que não cabem e eles dão
um jeito. Marc Márquez é natural de Cervera, uma pequena cidade localizada a
cento e poucos quilômetros de Barcelona por via rodoviária e, como todo o
catalão, o atual campeão do mundo é um obstinado.
No
final de 2015 foi lançado o documentário Hitting
the Apex (A curva perfeita), contando a trajetória de seis dos pilotos da
MotoGP mais rápidos do mundo, Valentino Rossi, Jorge Lorenzo, Dani Pedrosa, Marco
Simoncelli, Casey Stoner e Marc Márquez. Com a narração de Brad Pitt na versão
original, na parte inicial onde os princípios básicos do esporte são descritos
há uma recomendação expressa aos candidatos a piloto: Fique na moto, evite a
queda. Desde os seus prolegômenos em 1949 o motociclismo esportivo convive com
a ocorrência de quedas durante as provas. É inerente ao esporte, uma
possibilidade real em uma competição desenvolvida com velocidades que alcançam perto
de 350 km/h em equipamentos equilibrados sobre duas rodas.
Alguns
efeitos previsíveis acompanham o aumento da competitividade, entre eles a evolução
dos ganhos dos pilotos. Os protótipos andam mais juntos, os condutores arriscam
mais e a probabilidade de quedas e acidentes aumenta. Os números de 2017
indicam um total de 313 incidentes exclusivamente na MotoGP, um número 40%
maior que o ano anterior (232).
O
campeão de incidentes em 2017, Sam Lowes, contabilizou 31 quedas nas 18 etapas
do campeonato. O segundo da relação foi o campeão Marc Márquez, com 27
ocorrências. Este número é mais notável porque apenas duas quedas ocorreram
durante as críticas condições das provas, todas as outras foram nas seções de
treinos que antecedem um GP. Este fato indica método, a sistemática de trabalho
de Márquez é buscar o limite extremo para obter dados vitais para si e para seus
engenheiros. Ninguém faz este trabalho melhor que ele. Como explica em suas próprias palavras
“Quando você acelera até o limite, consegue obter um conhecimento melhor do
equipamento e fornecer informações melhores sobre a mecânica". Márquez
complementa: “Se caí 27 vezes, significa que estive muito próximo de cair
talvez 50 vezes. Tento aprender a controlar melhor a moto, entender onde errei,
que falhas posso tentar salvar e assim por diante. ”
Marc Márquez
é um recurso valioso para os engenheiros que trabalham no desenvolvimento da
Honda.
Na
etapa de Jerez Márquez caiu três vezes durante os treinos, venceu a prova
administrando pelo menos um momento crítico quando a roda traseira derrapou no
cascalho jogado na pista pela queda de Thomas Luthi.
O
resultado desta metodologia pôde ser comprovado na última prova de 2017 em
Valência, faltando 7 voltas para o final Márquez errou a entrada da curva 1,
evitou a queda apoiando o joelho na pista e controlando a máquina quando esta invadiu
a área de escape com brita. O piloto caiu da primeira para a quinta colocação,
não foi um desastre total porque até a sétima colocação garantia seu título. Em
uma ocorrência muito semelhante, duas voltas depois Dovizioso também invadiu a
área de escape, não conseguiu manter o equilíbrio da sua Ducati e abandonou a
prova.
Marc
Márquez protagonizou o acidente com a maior velocidade já documentada na
MotoGP. Em 2013, seu primeiro ano na categoria principal, durante os testes que
antecederam o GP da Itália em Mugello ele caiu na maior reta do circuito
enquanto desenvolvia 337,9 km/h. Os dados registrados pela telemetria são impressionantes,
os acelerômetros indicaram que o piloto foi submetido a uma força de +25 G, o
dado real pode exceder este número porque este é o maior valor possível de ser
mensurado pelos equipamentos. Apesar da gravidade do ocorrido, o piloto sofreu apenas
danos superficiais e foi autorizado a participar do GP. Abandonou a prova
faltando três voltas para o final enquanto ocupava a segunda colocação.
Desde
a sua edição inicial em 1949, o mundial de MotoGP foi decidido em três oportunidades
em função de acidentes na etapa final. Em 1979 o italiano Virginio Ferrari
liderava o campeonato com uma vantagem mínima sobre Kenny Rogers. Na última
prova, o GP da França disputado em Le Mans, abandonou na primeira volta e a
vitória do norte-americano garantiu o seu bicampeonato. No ano de 2006
Valentino Rossi, campeão das cinco temporadas anteriores, alinhou para a última
prova em Valência com 8 pontos a mais que o desafiante Nicky Hayden. Rossi caiu
na quarta volta e, embora tenha retornado à prova, obteve apenas a décima
terceira colocação, o norte-americano com o terceiro lugar somou pontos
suficientes para interromper a sequência de títulos do italiano. No ano passado
Andrea Dovizioso largou em Valência com uma missão quase impossível, vencer a prova
e contar com uma desistência improvável de Marc Márquez. O campeonato terminou
na 25ª volta quando a Ducati do italiano abandonou a prova.
Carlos
Alberto
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