Pneus Michelin |
Uma das premissas básicas quando existe um fornecedor exclusivo em um
campeonato competitivo é que todos recebam elementos com o mesmo desempenho,
sem privilegiar uma ou outra equipe. Não é esta a suspeita que ronda os pneus
da Michelin utilizados pelos pilotos que disputam o Mundial de MotoGP, os indícios
são componentes supostamente com as mesmas características apresentarem comportamentos
diferentes.
Consistência e coerência são dois
termos muito utilizados no universo da MotoGP para qualificar o comportamento
dos pneus fornecidos pela Michelin. As sessões de testes realizadas antes de um
GP são uma oportunidade para os pilotos configurar seu equipamento para a prova
e, principalmente, escolher o tipo de pneu mais adequado, o que apresenta o melhor
compromisso entre desempenho e durabilidade. As propriedades do equipamento e a
técnica do piloto influem decisivamente na seleção entre as opções disponíveis.
Na prova de abertura da temporada no Catar alguns pilotos indicaram que a
sensação entre um pneu e outro, em tese com as mesmas características, continua
a ser um problema.
Cal Crutchlow, quarto colocado, citou
um exemplo: “Os dados da telemetria estão disponíveis e podem ser consultados.
Durante a prova, aplicando 20% da aceleração e com menor rotação os pneus novos
deslizavam mais que utilizando 50% no warm
up. São pneus de um único lote e com as mesmas características”. Lembrando
que quando o pneu traseiro começa a deslizar os sensores identificam
velocidades angulares diferentes entre as rodas dianteira e traseira, o
controle de tração é acionado e a eletrônica corta a alimentação de um ou mais
pistões prejudicando o desempenho da moto.
Johann Zarco e Dani Pedrosa acreditam
que a falta de consistência tenha influenciado os seus resultados. Zarco liderou
durante 17 voltas e credita a degradação de sua performance a um pneu dianteiro
com defeito. Ele explicou que no terço final da prova a falta de grip o
prejudicou nas curvas. Dani Pedrosa indicou um problema semelhante, falta de
grip no pneu traseiro, que girava em falso com muita facilidade.
A Michelin está trabalhando intensamente
para identificar por que pneus que deveriam ser iguais se comportam de maneira diferente.
É complicado identificar a causa exata da inconsistência, são muitos os fatores
que podem ser responsáveis e isolar um específico é uma tarefa complexa. As
indicações de Crutchlow, por exemplo, só fazem sentido em comparações feitas
com o mesmo ajuste do equipamento, mesma temperatura ambiente e em condições do
piso idênticas. Analisando todas os registros disponíveis depois do GP do
Catar, a fabricante francesa contabilizou reclamações de oito ou nove pilotos e
depois de extensa análise só duas podem estar relacionadas exclusivamente com os
pneus.
A vida útil de cada pneu é acompanhada
desde a manufatura até o descarte. Cada unidade recebe um número de série na
linha de produção, é acompanhada no transporte, quando está na pista, quantas
vezes é aquecido ou reutilizado. Se houver algum indício de anomalia o pneu é
recolhido e enviado para o laboratório da fábrica para análise, é dissecado
para examinar a estrutura física e possíveis alterações na composição química. Informações importantes como a temperatura de
transporte e até o número de vezes que foi pré-aquecido são consideradas.
O transporte dos pneus é realizado entre
a fábrica e os circuitos em condições controladas, containers climatizados mantendo
a temperatura em torno de 20 a 22 graus. Os pneus não são empilhados ou colocados
em prateleiras, são pendurados em uma rede. Uma brincadeira comum na Michelin é
que as condições de transporte dos pneus são bem melhores que a dos técnicos.
Os componentes continuam a ser
monitorados depois que são entregues às equipes. A fabricante tem acesso aos
dados dos sensores de pressão e temperatura dos pneus que estão em uso nos protótipos
da MotoGP em tempo real.
A Michelin também acompanha os pneus
quando estão com os aquecedores, registrando quanto tempo e o número de vezes
que são submetidos a este processo. Estão trabalhando em um sistema que pode
ser obrigatório na próxima temporada, registrar para cada número de série
quanto tempo ele fica com o cobertor. Depois de um limite de horas ainda não
especificado, as características do componente podem sofrer modificações e ele
não é mais recomendado para uso em um GP. Equipes são aconselhadas a manter o
aquecimento ligado o tempo todo. A fábrica não pode garantir o desempenho de
componentes depois de cinco ou seis ciclos de elevação e redução de
temperatura. Os pneus também não devem ser aquecidos até a sua temperatura
máxima, eles trabalham a mais de 120ºC e a temperatura da manta não deve
exceder aos 90ºC.
Para garantir a total equidade entre
todas as equipes, o sistema de alocação dos pneus é aleatório e administrado
pela IRTA - International Racing Teams Association. Michelin
entrega para a IRTA os códigos de barras em grupos separados, classificados
pela conformidade com as especificações de produção de pneu e pelo número de
vezes que um pneu foi aquecido. Isso garante que cada piloto de MotoGP tenha na
prova pelo menos um pneu de cada especificação (Soft, Medium e Hard) da mais
alta qualidade possível. Estes pneus são atribuídos ao acaso pela IRTA, com os
códigos de barras, selecionados por um programa de computador.
Pneu traseiro de Marc Márquez depois da vitória na no GP dos EUA em 2017 |
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