domingo, 1 de abril de 2018

MotoGP – Pneus Michelin, Consistência e Coerência


Pneus Michelin

Uma das premissas básicas quando existe um fornecedor exclusivo em um campeonato competitivo é que todos recebam elementos com o mesmo desempenho, sem privilegiar uma ou outra equipe. Não é esta a suspeita que ronda os pneus da Michelin utilizados pelos pilotos que disputam o Mundial de MotoGP, os indícios são componentes supostamente com as mesmas características apresentarem comportamentos diferentes.


Consistência e coerência são dois termos muito utilizados no universo da MotoGP para qualificar o comportamento dos pneus fornecidos pela Michelin. As sessões de testes realizadas antes de um GP são uma oportunidade para os pilotos configurar seu equipamento para a prova e, principalmente, escolher o tipo de pneu mais adequado, o que apresenta o melhor compromisso entre desempenho e durabilidade. As propriedades do equipamento e a técnica do piloto influem decisivamente na seleção entre as opções disponíveis. Na prova de abertura da temporada no Catar alguns pilotos indicaram que a sensação entre um pneu e outro, em tese com as mesmas características, continua a ser um problema.
Cal Crutchlow, quarto colocado, citou um exemplo: “Os dados da telemetria estão disponíveis e podem ser consultados. Durante a prova, aplicando 20% da aceleração e com menor rotação os pneus novos deslizavam mais que utilizando 50% no warm up. São pneus de um único lote e com as mesmas características”. Lembrando que quando o pneu traseiro começa a deslizar os sensores identificam velocidades angulares diferentes entre as rodas dianteira e traseira, o controle de tração é acionado e a eletrônica corta a alimentação de um ou mais pistões prejudicando o desempenho da moto.

Johann Zarco e Dani Pedrosa acreditam que a falta de consistência tenha influenciado os seus resultados. Zarco liderou durante 17 voltas e credita a degradação de sua performance a um pneu dianteiro com defeito. Ele explicou que no terço final da prova a falta de grip o prejudicou nas curvas. Dani Pedrosa indicou um problema semelhante, falta de grip no pneu traseiro, que girava em falso com muita facilidade.

A Michelin está trabalhando intensamente para identificar por que pneus que deveriam ser iguais se comportam de maneira diferente. É complicado identificar a causa exata da inconsistência, são muitos os fatores que podem ser responsáveis e isolar um específico é uma tarefa complexa. As indicações de Crutchlow, por exemplo, só fazem sentido em comparações feitas com o mesmo ajuste do equipamento, mesma temperatura ambiente e em condições do piso idênticas. Analisando todas os registros disponíveis depois do GP do Catar, a fabricante francesa contabilizou reclamações de oito ou nove pilotos e depois de extensa análise só duas podem estar relacionadas exclusivamente com os pneus.

A vida útil de cada pneu é acompanhada desde a manufatura até o descarte. Cada unidade recebe um número de série na linha de produção, é acompanhada no transporte, quando está na pista, quantas vezes é aquecido ou reutilizado. Se houver algum indício de anomalia o pneu é recolhido e enviado para o laboratório da fábrica para análise, é dissecado para examinar a estrutura física e possíveis alterações na composição química.  Informações importantes como a temperatura de transporte e até o número de vezes que foi pré-aquecido são consideradas.

O transporte dos pneus é realizado entre a fábrica e os circuitos em condições controladas, containers climatizados mantendo a temperatura em torno de 20 a 22 graus. Os pneus não são empilhados ou colocados em prateleiras, são pendurados em uma rede. Uma brincadeira comum na Michelin é que as condições de transporte dos pneus são bem melhores que a dos técnicos.

Os componentes continuam a ser monitorados depois que são entregues às equipes. A fabricante tem acesso aos dados dos sensores de pressão e temperatura dos pneus que estão em uso nos protótipos da MotoGP em tempo real.

A Michelin também acompanha os pneus quando estão com os aquecedores, registrando quanto tempo e o número de vezes que são submetidos a este processo. Estão trabalhando em um sistema que pode ser obrigatório na próxima temporada, registrar para cada número de série quanto tempo ele fica com o cobertor. Depois de um limite de horas ainda não especificado, as características do componente podem sofrer modificações e ele não é mais recomendado para uso em um GP. Equipes são aconselhadas a manter o aquecimento ligado o tempo todo. A fábrica não pode garantir o desempenho de componentes depois de cinco ou seis ciclos de elevação e redução de temperatura. Os pneus também não devem ser aquecidos até a sua temperatura máxima, eles trabalham a mais de 120ºC e a temperatura da manta não deve exceder aos 90ºC.

Para garantir a total equidade entre todas as equipes, o sistema de alocação dos pneus é aleatório e administrado pela IRTA - International Racing Teams Association. Michelin entrega para a IRTA os códigos de barras em grupos separados, classificados pela conformidade com as especificações de produção de pneu e pelo número de vezes que um pneu foi aquecido. Isso garante que cada piloto de MotoGP tenha na prova pelo menos um pneu de cada especificação (Soft, Medium e Hard) da mais alta qualidade possível. Estes pneus são atribuídos ao acaso pela IRTA, com os códigos de barras, selecionados por um programa de computador.


Pneu traseiro de Marc Márquez depois da vitória na no GP dos EUA em 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário