Marc Márquez em Austin (CotA) 2018 |
A MotoGP tem um costume bizarro.
Sempre que visita um circuito na América do Norte, 23 dos melhores pilotos do
mundo cumprem o ritual estranho de disputar quem vai compartilhar o pódio com
Marc Márquez. Tem sido assim desde 2011, a primeira corrida do atual campeão do
mundo nas terras do Tio Sam disputando a Moto2. Desde então o espanhol venceu
todas as doze provas que disputou nos EUA, duas vezes na Moto2 (Indianápolis) e
dez na MotoGP (uma em Laguna Seca, três em Indianápolis e seis em Austin).
O Circuito das América em
Austin é esplêndido, o layout é altamente técnico e tem um pouco de tudo, exige
muito dos freios, recompensa máquinas com boa aceleração, tem curvas lentas e
rápidas criando combinações que recompensam os mais talentosos.
A maioria dos pilotos
adora correr no GP dos Estados Unidos. Valentino Rossi resume dizendo que é desafiador
pilotar com diversas curvas “emocionais”. Entretanto, embora o charme da
pista, o efeito Márquez produz corridas sem brilho. A margem média que separa o
vencedor de seu mais próximo competidor em todos os GPs disputados no circuito é
acima dos três segundos, uma eternidade na MotoGP, descontado ainda o fato do
campeão do mundo reduzir muito a velocidade na volta final porque a vitória
está garantida. No GP deste ano o piloto manteve em toda a prova uma média de
2,06 baixo e na última volta fez 2,09 alto, mais de 3 segundos mais lento. Nunca
houve uma disputa até a bandeirada final, a menor diferença entre os dois
primeiros foi de 1,5 segundos para Dani Pedrosa em 2013, a maior 6,7 segundos
sobre Jorge Lorenzo em 2016. De um modo geral, nos seis GPs realizados a
disputa pela vitória deixou de existir antes da metade da prova. O Circuito das
Américas é equipado para hospedar excelentes corridas, porém nunca produziu
bons espetáculos na MotoGP para os presentes nas arquibancadas e telespectadores.
O roteiro do GP dos EUA
é previsível. Os 24 pilotos se apresentam na pista na sexta-feira, assistem
Márquez a conquistar a pole no sábado e vencer por uma grande margem no
domingo. O GP de 2018 cumpriu o script à risca. A certeza de vitória do
espanhol era tão grande que as raras casas de Londres que aceitaram apostas no
número 93 da Honda praticamente devolveram o valor. Talvez o espetáculo mais
impressionante desta etapa do mundial tenha ocorrido no sábado, durante as
tomadas de tempo. Após ter conseguido a pole provisória, Marques caiu ao tentar
melhorar o seu tempo. Ao perder o equilíbrio em uma curva de baixa velocidade,
a moto chegou a girar 180 graus com o piloto apoiando o joelho na pista e tentando
readquirir o controle até as forças da física clássica prevalecerem. Márquez
pegou uma carona até o box, montou na segunda moto e voltou para a pista, para
confirmar que ninguém era mais veloz que ele na pista. Houve ainda um pequeno
percalço, ao tentar evitar uma esperteza de Andrea Iannone, que queria repetir
a estratégia utilizada na FP2 e ficar na sua esteira para melhorar seu tempo,
Márquez acabou prejudicando uma volta rápida de Vinales, foi penalizado com
três posições no grid. O efeito da punição foi zero, depois da largada e antes
de dois terços da primeira volta serem completados ele já liderava.
Embora a temporada esteja apenas no início, só
três das dezenove etapas foram realizadas, a disputa do mundial apresenta um tipo
de “déjà vu” de 2017, com Márquez e Dovizioso batalhando pela liderança do
mundial. A MotoGP entra agora na temporada europeia, onde nada é parecido com a
pista de Austin, o piso é diferente, as pistas são mais estreitas, menores. Todos
os equipamentos devem ser reconfigurados. A etapa dos EUA de certa forma apresentou
um resultado que confirma o acerto da Dorna em busca da competitividade, três
fabricantes diferentes nas primeiras posições, Honda, Yamaha e Suzuki.
A prova foi boa para
Maverick Vinales que, embora ainda não consiga acompanhar a Honda, está
readquirindo a confiança em sua Yamaha. Andrea Iannone voltou ao pódio e
conseguiu um grande resultado para a Suzuki. Queda de Cal Crutchlow não chega a
ser uma novidade e a liderança do britânico no mundial durou apenas duas
semanas. Valentino Rossi tinha a esperança de estar entre os três primeiros,
quase conseguiu (foi o quarto). Finalmente as duas Yamaha de fábrica
conseguiram uma classificação melhor que o modelo 2016 de Johann Zarco.
Andrea Dovizioso estava
vivendo um fim de semana catastrófico, obtendo apenas a oitava posição no grid
de largada. Para a prova, o vice de 2017 optou pela carenagem aerodinâmica, que
o ajudou a reduzir o wheelie, foi beneficiado pela queda de Crutchlow e
utilizou a potência da GP18 para ultrapassar Johann Zarco a três voltas do
final. Terminar em quinto a 13 segundos do vencedor não foi um resultado
brilhante, mas suficiente para liderar o mundial.
O décimo lugar de
Espargaró com uma Aprilia RS-GP colocou cinco fabricantes entre os top ten, um
sinal consistente que a fábrica está no bom caminho. A equipe ficou em Austin
para uma seção de testes na segunda-feira.
Tito Rabat com a Ducati
da equipe Avintia terminou em oitavo, à frente de Miller, Espargaró e de um
entristecido Jorge Lorenzo. O espanhol reclamou muito do pneu traseiro e ainda
acredita que possa ter bons resultados na equipe, mas o tempo está correndo.
Existe a certeza que, para renovar com a fábrica, vai ter de aceitar uma
redução sensível de salários e já existem boatos que estaria em negociações com
a Suzuki.
Um dos protagonistas da
prova foi Dani Pedrosa, uma semana depois de uma cirurgia para corrigir o pulso
fraturado. Uma lesão deste tipo normalmente exige cinco a seis semanas para a
recuperação. Entupido de analgésicos o pequeno espanhol foi para o sacrifício,
em uma pista que demanda muita força física. Nas condições em que foi obtida, a
sétima colocação foi um resultado excelente.
Na Moto2 um piloto
também se candidatou a herói do dia. Joan Mir atrapalhou-se na primeira curva e
viu seu quinto lugar no grid transformar-se em vigésimo no fim da primeira
volta. Dezoito voltas mais tarde, coroando uma condução impecável, recebeu a
bandeira quadriculada em quarto lugar, um enorme feito para um piloto novato na
categoria.
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