Existem múltiplos registros de competições com
motocicletas nos primeiros anos do século passado, o mais significativo indica
que, em uma época em que a velocidade máxima em estradas inglesas era apenas 35
Km/h e as disputas com veículos automotores expressamente proibidas, um grupo
de entusiastas com o objetivo de testar seus próprios limites de velocidade e
resistência sobre motos convergiu para a Ilha de
Man, uma dependência direta da Coroa Britânica com autonomia
administrativa, e em 1907 nasceu o Isle of Man TT (Tourist Trophy). A
primeira corrida organizada com um regulamento tosco foi realizada no dia 28 de
maio daquele ano, uma volta em um percurso de pouco mais de 15 milhas
utilizando rodovias públicas, com participação exclusiva para motos de estrada
normais, com todos os seus acessórios, silenciador, assento, pedais e guarda
lama.
O primeiro campeonato mundial promovido pela
Federação Internacional de Motociclismo foi realizado em 1949, constou de 6
Grandes Prêmios (Ilha de Man, Suiça, Alemanha, Bélgica, Irlanda e França), sete
marcas de equipamentos (AJS, Gilera, Norton, Moto Guzzi, Velocette, Triumph e
BMW) e a participação de 118 condutores. O primeiro piloto a conquistar o
título de campeão do mundo da principal classe (500cc) foi o britânico Leslie
Graham, com uma AJS, o regulamento vigente na época previa a pontuação dos
cinco primeiros classificados e um ponto extra pela volta mais rápida e
permitia a participação em mais de uma categoria. O sucesso foi imediato, no
ano seguinte o certame contou com as mesmas seis provas, mais cinco marcas de
equipamentos (MV Agusta, Bitza, BSA, Rudge-Whitworth e Vincent) participaram e
o número de pilotos inscritos cresceu para 129.
Os anos de 1951 a 1955 apresentaram o primeiro
multicampeão da motovelocidade, o britânico Geoff Duke, que pilotando motos
Norton venceu 4 mundiais da 500cc e dois da 350cc. Os 19 anos seguintes
consolidaram a hegemonia das motos MV Agusta, que acumularam 18 mundiais da
principal categoria com os pilotos John Surtees, Mike Hailwood
e Giacomo Agostini.
O britânico John Surtees, falecido recentemente, é
o único piloto que conseguiu títulos mundiais nos principais campeonatos de
duas (motos) e quatro (F1) rodas. Surtees venceu sete títulos com motos MV
Agusta (350cc de 1958 a 1960 e 500cc em 1956 e de 1958 a 1960). No
automobilismo venceu o mundial de F1 pela Ferrari em 1964 e a temporada da
Can-Am em 1966.
A
liderança das MV Agusta nas competições de 500cc promovidas pela FIM prosseguiu
nos anos seguintes com quatro títulos de Mike Hailwood entre 1962 e
1965. Até então os campeonatos vencidos pela marca italiana MV
Agusta contavam com pilotos britânicos (Surtees e Hailwood), situação alterada
em 1966 por Giacomo Agostini que, com a proteção do conde Giovanni Agusta,
iniciou uma sequência de títulos "puro sangue", com piloto e
equipamento italianos.
A
supremacia das motos MV Agusta entre 1958 e 1974 não pode ser contestada, neste
período os equipamentos da fábrica italiana venceram 15 mundiais seguidos na
principal classe, 500cc, feito improvável de ser repetido. O maior vencedor da
história do motociclismo, Giacomo Agostini, foi beneficiado por esta
superioridade e obteve números de desempenho impressionantes, não igualados até
os dias atuais. Entre 1968 e 1971 participou de 68 GPs promovidos pela FIM, 38 na
500cc e 30 na 350cc, venceu todos. O italiano conquistou quinze campeonatos
mundiais, 8 na classe 500cc e 7 na 350cc. Embora as estatísticas de Agostini
sejam impressionantes, é necessário ressaltar que durante um longo tempo não enfrentou
um rival com um equipamento equivalente ao seu. Mike Hailwood, que havia conquistado
o tetracampeonato pela equipe, migrou para a Honda alegando uma indisfarçável
preferência do Conde Agusta pelo conterrâneo italiano.
A
carreira lendária de Agostini foi desenvolvida em uma época onde os recursos
eram limitados, a moto era montada em um quadro rígido de aço tubular, com um
enorme tanque de gasolina e o centro de gravidade deslocado para próximo da
roda traseira. Os pneus eram convencionais, com as lonas compostas por fibras
têxteis e sobrepostas em diagonal, proporcionando um grip (aderência) limitado.
A técnica de pilotagem mais eficiente na época recomendava manter a moto na
vertical o maior tempo possível.
Depois de perder o título de 1973
para Phill Read, colega de equipe, Agostini surpreendeu o mundo
quando anunciou que estava trocando a MV Agusta pela Yamaha para a temporada
seguinte, alegando que as máquinas japonesas com motor de dois tempos estavam
mais competitivas. Em seu primeiro ano na nova equipe conseguiu o título de
350cc, lesões e problemas mecânicos o impediram de acompanhar os resultados de
Read com a MV Agusta na 500cc, o britânico conseguiu 4 vitórias contra apenas 2
do italiano nas 8 provas da temporada. O campeonato de 1975 proporcionou último
título mundial de Agostini, então com 33 anos, e marcou a primeira vez que uma
máquina japonesa com motor de dois tempos conseguiu vencer na principal categoria.
Esta temporada marcou também o primeiro
de uma longa série de campeonatos vencidos por máquinas japonesas, que se
estende até a temporada atual, com exceção de 2007, quando Casey Stoner foi
campeão com uma Ducati.
Em 1976 Agostini competiu com uma Suzuki e optou por
utilizar uma MV Agusta para disputar o GP de Nurburgring, sua última vitória em
campeonatos mundiais. O piloto encerrou sua carreira em 1977, depois de
classificar-se em 6° a bordo de uma Yamaha.
Giacomo Agostini venceu 10 vezes o
lendário Troféu Turismo da Ilha de Man e 7 vezes o GP da Irlanda (Ulster), considerados
os circuitos de estrada mais difíceis do mundo, rompendo uma tradição em que só
pilotos de língua inglesa tinham sucesso nestas pistas. Durante os treinos para
a corrida de Nurburgring em 1976 o piloto italiano surpreendeu o mundo
anunciando que nunca mais disputaria o GP da Ilha de Man, considerava que o
circuito de 37 milhas já não era compatível com a segurança necessária para uma
competição do campeonato mundial. Na época, o TT era a etapa de maior prestígio
no calendário de motociclismo. Outros pilotos anunciaram a sua adesão ao
boicote e o evento foi retirado do calendário no ano seguinte.