Felipe Massa - Williams-Mercedes |
A F1 é particularmente perversa com quem se despede
das pistas e decide voltar, não importa se é um nome consagrado ou um mero
coadjuvante. Os registros oficiais da competição listam diversos exemplos.
Nigel Mansell
Frank Williams nunca gostou de atribuir o sucesso
de seus carros na Fórmula 1 ao talento dos pilotos, por esta razão campeões
como Nelson Piquet, Nigel Mansell, Alain Prost e Damon Hill, não renovaram com
a equipe depois de conquistarem seus títulos. Mansell migrou para a CART Series
depois de vencer o mundial de F1 em 1992, e foi o primeiro "rookie"
da categoria a conquistar pole e vencer em sua primeira corrida. Campeão em sua
temporada inaugural no continente americano, é o único caso conhecido de um
piloto que durante algum tempo acumulou o título das duas categorias, a
temporada da CART já havia terminado e o mundial de Fórmula 1 ainda não estava
decidido.
Mansell retornou para a F1 em 1994 para cobrir a
ausência de Ayrton Senna, acidentado em Ímola. Disputou pela Williams quatro
corridas, não terminou duas, obteve um quarto e venceu a prova da Austrália, última
da temporada. O fato mais notável em seu retorno foi ter faturado 900 mil
libras por corrida, enquanto Damon Hill, colega de equipe, recebeu 300 mil
libras por toda a temporada. Em 1995 ensaiou um retorno pela McLaren, ficou
fora das duas primeiras provas por incompatibilidade de seu físico com o
tamanho do cockpit do carro, não terminou a temporada e nunca mais disputou
provas da F1.
Michael Schumacher
O detentor de quase todos os recordes da F1
anunciou o fim de sua carreira em 2006, depois de perder o campeonato para
Fernando Alonso. Em 2010 voltou contratado pela Mercedes, que retornava como
equipe às pistas, após ter comprado o acervo da equipe campeã do ano anterior,
a Brawn GP. Para muitos de nós, brasileiros, Schumacher lembra a pantomina
protagonizada em 2002 na Áustria imortalizada pela narração de Cléber Machado
(“Hoje não! Hoje não! Hoje sim”), e o “payback” de Rubens Barrichello na
Hungria em 2010, quando não se intimidou com a “espremida” do multicampeão
contra o muro e protagonizou uma das mais memoráveis ultrapassagens da sua
carreira na F1.
O retorno de Schumacher rendeu escasso sucesso, seu
maior feito em três temporadas foi ter conseguido um único pódio.
Jean-Louis Schlesser
O piloto entra nesta galeria pela porta dos fundos,
depois da estreia em 1983, quando não se classificou no GP da França,
reapareceu em 1988 no ápice do domínio das McLaren Honda na F1, quinze vitórias nas
dezesseis provas da temporada. No GP da Itália disputado em Monza, Schlesser, o
então piloto de testes da Williams, substituiu Nigel Mansell. Faltando duas
voltas para o final da corrida, estava tomando a segunda volta do líder quando
em uma manobra confusa na variante Ascari acabou tirando Ayrton Senna da prova.
A fanática torcida italiana presente ao autódromo vibrou com a manobra, que
proporcionou um improvável 1-2 da Ferrari duas semanas depois do falecimento do
Comendador Enzo Ferrari.
Foi a última aparição do francês na F1.
Luca Badoer
O nome de Luca Badoer evoca diversas lembranças,
(1) foi piloto de testes da Ferrari, contribuindo para o desenvolvimento do
carro que proporcionou cinco campeonatos consecutivos para Michael Schumacher,
(2) foi escolhido para substituir Felipe Massa depois do acidente do brasileiro
na Hungria em 2009 e (3) nunca conseguiu um ponto em quase 60 provas na F1.
Entre 1993 e 1999 Badoer administrou uma carreira errática no comando de carros
da Scuderia Italia, Minardi e Forti Corse, acomodando-se a partir de 2000 como
piloto de testes na Ferrari. Promovido para o lugar de Massa, embora familiarizado
com o cockpit do carro italiano e dispondo de um bom equipamento, seus
resultados nas pistas foram pífios e acabou disputando apenas duas provas sem
obter nenhum ponto.
Alan Jones
São poucos os casos em que um piloto decide pela
aposentadoria e despede-se vencendo a última prova da temporada, como aconteceu
com Alan Jones em 1981. O campeão de 1980 decidiu por sua aposentadoria no ano
seguinte, que encerrou com a sua vitória no GP de Las Vegas. Jones aceitou
participar do GP dos EUA em 1983 como substituto do brasileiro Chico Serra na
Arrows, não concluiu a prova. Em meio a temporada de 1985 foi convidado e
aceitou participar do projeto da equipe Haas, infelizmente não obteve bons
resultados no resto do ano e na temporada seguinte. O seu fim de carreira em
nada lembrou o piloto brilhante do início da década.
Alex Zanardi
Personagem singular, Alessandro Zanardi estreou na
F1 em 1991 pela equipe Jordan, disputando três provas sem marcar pontos. Entre
1992 e 1994 defendeu as cores da Minardi e Lotus com pouco sucesso e desistiu
(ou foi desistido) da F1. Encontrou espaço na CART, onde foi bicampeão
(1997 & 1998) pela equipe Chip Ganassi. O sucesso na categoria norte-americana
o credenciou para o retorno na F1 em 1999, ocupando o cockpit de um Williams,
onde participou da temporada completa sem marcar pontos. Para efeitos de
comparação, no mesmo ano com um carro igual ao seu, Ralf Schumacher conseguiu
três pódios e pontuou em onze das dezesseis provas.
Zanardi sofreu um grave acidente em setembro de
2001 em um circuito oval na Alemanha, seu carro rodou na pista e foi
violentamente atingido na lateral, o piloto teve os membros inferiores
severamente comprometidos e ambas as pernas amputadas pouco acima do joelho. O
italiano é um exemplo de superação, nos anos seguintes participou de diversas
competições com carros adaptados, com acelerador e freios manuais. Em 2007
adotou o paraciclismo como seu novo esporte, nos jogos de Londres em 2012
conquistou três medalhas e, quatro anos depois, nas Paralimpíadas do Rio de
Janeiro, repetiu o feito. Alessandro Zanardi é atualmente o maior medalhista de
paraciclismo dos Jogos Paralímpicos.
A lembrança que Zanardi deixou na F1, entretanto, é
a de um dos poucos pilotos que conduziram um Williams durante toda uma
temporada sem marcar pontos.
“De
gustibus et coloribus non est disputandum” ou, em tupiniquim, não há discussão possível
sobre gostos e cores. Opiniões pessoais tem esta característica, são pessoais,
e a decisão de Felipe Massa em rever a sua aposentadoria deve ser muito bem
analisada, alguns pontos devem obrigatoriamente serem considerados.
Inicialmente, se o roteiro tivesse sido escrito por
um profissional de Hollywood e ensaiado até a exaustão, provavelmente a
despedida de Massa da F1 em Interlagos não teria sido tão perfeita. A perda de
controle do carro próximo a entrada dos boxes e a prova paralisada pelas
condições da pista permitiram o seu retorno pelo pitlane sob o aplauso
(merecido) do pessoal técnico de todas as equipes. O encontro emotivo com a
família ainda na pista, sob a aclamação dos espectadores presentes no
autódromo, foi apoteótico. O adeus da torcida brasileira ao seu ídolo rivalizou
com a vitória de Hamilton em termos de cobertura na mídia mundial. Felipe Massa teve
uma despedida fantástica em 2016, não há como imaginar algo semelhante em um
futuro próximo.
Como diria o folclórico personagem de Dias Gomes, o
prefeito Odorico Paraguassú, os “antigamente” das tratativas evidenciam que os
dólares do canadense Lance Stroll são muito mais importantes para Claire
Williams, manager da equipe Williams, que o carisma, talento e experiência de Massa. O
retorno do piloto só é viável em razão de um arranjo não programado para
permitir a mudança de Valtteri Bottas para a Mercedes.
A técnica de administração de listar e valorizar os
prós e contras pode ser útil. Na coluna de prós podem ser relacionados ajudar a
manter o interesse dos brasileiros na F1, continuar fazendo o que gosta e um
possível ganho financeiro. A coluna dos contra é um pouco mais extensa, existe
a possibilidade de a temporada ser desastrosa para a Williams, em termos de
disputa com Mercedes, Red Bull e Ferrari, e ainda o risco real de perda de
espaço para a McLaren e Force Índia. Como principal provedor da equipe, é
lícito imaginar que Lance Stroll deva ser priorizado, e perder a disputa direta
com um novato seria desastroso para o currículo do piloto. Na brilhante
carreira de Felipe Massa constam duas ocorrências embaraçosas, o infame rádio
da Ferrari “Fernando is faster than you” no GP da Alemanha em 2010 e o dialogo
surreal com a equipe durante a prova da Malásia em 2014, onde a Williams
insistiu para que permitisse a ultrapassagem de Valtteri Bottas na disputa pelo
sétimo lugar, orientação que não foi obedecida. Em função da importância que
Claire Williams credita aos dólares de Lance Stroll, a reedição de um destes
diálogos não pode ser desconsiderada.
A decisão de retorno ou não é pessoal de Felipe, o
julgamento posterior da história não depende só dele.
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