quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

MotoGP 2016 – Incidentes na Temporada


Provas em circuitos com pouco mais de 4 km de extensão, 12 metros de largura, disputadas por por 21 dos pilotos mais competitivos do mundo, máquinas com 260 cavalos, inclinações próximas dos 60 graus, a MotoGP dificilmente é previsível e acidentes acontecem, alguns nem sempre acidentais.


Iannone & Dovizioso (Rio Hondo)
Existe uma regra não escrita, mas enunciada à exaustão pelos chefes de equipes: “Nunca force o companheiro para fora da pista”. Para os pilotos também existe uma regra não escrita, muito importante: “O colega de equipe é o primeiro e principal adversário”. Óbvio, estas orientações endereçam pontos de vista antagônicos e podem conduzir a incidentes durante uma prova.  Um leve contato ou uma disputa mais ríspida nas voltas iniciais de uma corrida pode ser tolerado, entretanto, provocar a saída de ambos com uma manobra sem a mínima chance de sucesso a poucos metros do final de uma prova, evitando um raro duplo pódio para uma equipe carente de bons resultados, é difícil de ser justificado. Infelizmente esta foi a situação que Andrea Iannone criou em Rio Hondo, na Argentina, no segundo GP da temporada de 2016. O incidente teve consequências, contribuiu para a Ducati abrir mão de seus serviços e optar por manter o moderado Andrea Dovizioso como futuro colega de Jorge Lorenzo em 2017.


Pedrosa & Dovizioso (Austin)
O início da temporada de 2016 não foi nada fácil para Andrea Dovizioso. Uma semana após ter o segundo lugar na Argentina comprometido pelo colega de equipe, o italiano da Ducati viu uma nova oportunidade de pódio desaparecer ao ser atingido pela moto desgovernada de Dani Pedrosa. No início da sétima volta do GP de Austin, terceira etapa da temporada, o piloto da Honda perdeu o controle e caiu. Seu equipamento deslizou pela pista sem controle e atingiu violentamente a Ducati de Dovizioso, que não teve a menor chance de evitar o acidente.


Valentino Rossi (Mugello)
.Uma comprovação da excelência técnica da MotoGP é a quase inexistência de falhas de motor, considerando que os materiais são submetidos a tensões altíssimas e que a manutenção e substituição de peças internas é proibida devido ao congelamento do desenvolvimento depois da primeira prova da temporada. A lei de Murphy é inflexível, “ Se alguma coisa tem chance de dar errado, com certeza dará no pior momento e de modo que cause o maior dano possível”. Para os mecânicos da Movistar Yamaha a pior condição para uma falha acontecer é no motor de Valentino Rossi, enquanto disputa a liderança de uma prova em sua casa, o circuito de Mugello. Foi o que aconteceu no GP da Itália em 2016, e o mundo acompanhou pela TV a moto do italiano arrastando-se pela pista deixando um rastro de fumaça. Para tornar a situação um pouco pior, o mesmo aconteceu com seu desafeto e companheiro de equipe, Jorge Lorenzo, nos treinos preparatórios para a prova, o espanhol trocou o motor e venceu a etapa.


Iannone & Lorenzo (Catalunha)
O princípio da impenetrabilidade é uma das leis básicas da mecânica de Newton, e enuncia que dois corpos não podem, a um mesmo tempo, ocupar o mesmo lugar no espaço. Física clássica, entretanto, nunca foi o forte de Andrea Iannone, depois de cair enquanto disputava as primeiras colocações nas seis etapas anteriores, Iannone tentou ignorar Jorge Lorenzo na Catalunha. O italiano perdeu a referência de freada ao tentar uma ultrapassagem e abalroou a traseira da moto do espanhol, tirando os dois da corrida. Na ocasião a Ducati vai havia divulgado a sua opção por Dovizioso e Iannone já havia assinado com a Suzuki para a próxima temporada.


Scott Redding (Rio Hondo)
O pior pesadelo para um fabricante de pneus é ter todo um lote posto em suspeição por uma falha, relacionada com a qualidade do material ou processo de manufatura. Esta foi a situação enfrentada pela Michelin em sua segunda corrida (GP da Argentina) como fornecedora exclusiva da MotoGP. Durante um dos testes livres o pneu traseiro da Ducati de Scott Redding rompeu e soltou toda a camada superior, o inglês foi atingido por um duro golpe nas costas e a carenagem da moto danificada. Felizmente o resto do pneu permaneceu intacto e o piloto conseguiu evitar uma queda em alta velocidade.  O acidente foi imediatamente relacionado com um semelhante ocorrido com Loris Baz nos testes pré-temporada e a fabricante decidiu que não poderia garantir a integridade dos componentes sem um exame mais apurado. Emergencialmente a prova foi dividida em duas, com troca de motos (e pneus) obrigatória. Como demonstração de comprometimento e competência, uma semana mais tarde a fornecedora francesa já tinha um produto confiável para o GP da Américas, em Austin.


Valentino Rossi (Motegi)
Jorge Lorenzo (Motegi)
Possível sim, mas muito improvável. Uma série de eventos era necessária para garantir o título antecipado do mundial de pilotos de 2016 para Marc Márquez, na décima quinta etapa da temporada em Motegi, a casa da Honda. (1) Márquez tinha de vencer a prova, em um circuito onde nunca havia vencido antes e (2) Rossi e Lorenzo não poderiam pontuar entre os primeiros. É muito rara a queda de dois pilotos de ponta em uma mesma prova, o GP foi disputado em condições ambientais próximas às ideais, temperatura de 25° C, pista seca e 37% de umidade relativa do ar. O termômetro indicava 36° C de temperatura na pista. Todos os cenários apontavam para postergar a definição do campeonato para as etapas seguintes, entretanto o inesperado aconteceu, Rossi caiu quando estava em segundo lugar faltando 18 voltas para o final. Lorenzo, a segunda alternativa, perdeu a frente da sua Yamaha #99 faltando cinco voltas para o encerramento, Marc Márquez garantiu o seu quinto mundial, terceiro na MotoGP, faltando ainda três provas para o encerramento da temporada.


Pedrosa & Márquez (Áustria)
Todo o piloto desenvolve o instinto de preservação em caso de quedas, que consiste em evitar a queda brusca da Força G para minimizar os possíveis danos. Um acidente que poderia mudar a história do Mundial de MotoGP aconteceu durante a preparação para a décima etapa, na Áustria, no terceiro treino livre (FP3) Marc Márquez sofreu uma queda depois de perder o ponto de frenagem e quase colidir com seu colega Dani Pedrosa.  Em função das outras ocorrências da temporada é provável que este incidente seja desconsiderado na história do campeonato, porém a manobra do piloto para evitar atropelar seu colega o impediu de posicionar o corpo de modo a dissipar o impacto da queda e resultou em uma forte luxação no ombro esquerdo. No dia seguinte Márquez aplaudiu da pista a primeira vitória da Ducati depois da era Stoner, com direito a dobradinha no pódio. Entupido de analgésicos, classificou-se em quarto no circuito da Red Bull.


Cal Crutchlow (Qatar)
Cal Crutchlow desenvolveu sua carreira nos campeonatos britânicos de SuperBike e está na MotoGP desde 2011. Dono de uma técnica eficiente, porém não muito refinada, é um piloto considerado agressivo. Compete pela LCR, uma equipe independente com equipamento Honda administrada por Lucio Cecchinello, um ex-piloto que contabiliza sete vitórias na MotoGP (mesmo número do Alex Barros). Cal conquistou em 2016 o título de campeão entre os pilotos independentes, um título oficial, embora não muito divulgado pela mídia. Cal também é um dos líderes de uma estatística desabonadora, é um dos pilotos com maior número de quedas na temporada. Os registros oficiais da MotoGP indicam que Cal, além dos quatro pódios e duas vitorias, contabiliza seis abandonos em acidentes durante as provas e dezoito quedas nos testes livres que antecedem os eventos. A temporada de 2016, em função de diversas modificações como um novo fornecedor de pneus e alterações substanciais no regulamento técnico, registrou um número exagerado de quedas, os três primeiros colocados na classificação final (Márquez, Rossi e Lorenzo) caíram três vezes cada durante a temporada. No quadro geral de acidentes, Cal Crutchlow dividiu a liderança com Jack Miller.

Carlos Alberto Goldani

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