Provas em circuitos com pouco mais de 4 km de extensão, 12
metros de largura, disputadas por por 21 dos pilotos mais competitivos do
mundo, máquinas com 260 cavalos, inclinações próximas dos 60 graus, a MotoGP
dificilmente é previsível e acidentes acontecem, alguns nem sempre acidentais.
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Iannone & Dovizioso (Rio Hondo) |
Existe uma regra não escrita, mas enunciada à exaustão pelos
chefes de equipes: “Nunca force o companheiro para fora da pista”. Para os
pilotos também existe uma regra não escrita, muito importante: “O colega de
equipe é o primeiro e principal adversário”. Óbvio, estas orientações endereçam
pontos de vista antagônicos e podem conduzir a incidentes durante uma prova. Um leve contato ou uma disputa mais ríspida
nas voltas iniciais de uma corrida pode ser tolerado, entretanto, provocar a
saída de ambos com uma manobra sem a mínima chance de sucesso a poucos metros
do final de uma prova, evitando um raro duplo pódio para uma equipe carente de
bons resultados, é difícil de ser justificado. Infelizmente esta foi a situação
que Andrea Iannone criou em Rio Hondo, na Argentina, no segundo GP da temporada
de 2016. O incidente teve consequências, contribuiu para a Ducati abrir mão de
seus serviços e optar por manter o moderado Andrea Dovizioso como futuro colega
de Jorge Lorenzo em 2017.
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Pedrosa & Dovizioso (Austin) |
O início da temporada de 2016 não foi nada fácil para
Andrea Dovizioso. Uma semana após ter o segundo lugar na Argentina comprometido
pelo colega de equipe, o italiano da Ducati viu uma nova oportunidade de pódio
desaparecer ao ser atingido pela moto desgovernada de Dani Pedrosa. No início
da sétima volta do GP de Austin, terceira etapa da temporada, o piloto da Honda
perdeu o controle e caiu. Seu equipamento deslizou pela pista sem controle e
atingiu violentamente a Ducati de Dovizioso, que não teve a menor chance de
evitar o acidente.
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Valentino Rossi (Mugello) |
.Uma comprovação da excelência técnica da MotoGP é a quase
inexistência de falhas de motor, considerando que os materiais são submetidos a
tensões altíssimas e que a manutenção e substituição de peças
internas é proibida devido ao congelamento do desenvolvimento depois da
primeira prova da temporada. A lei de Murphy é inflexível, “ Se alguma coisa tem chance de dar errado, com certeza dará
no pior momento e de modo que cause o maior dano possível”. Para os
mecânicos da Movistar Yamaha a pior condição para uma falha acontecer é no motor de Valentino Rossi, enquanto disputa a liderança
de uma prova em sua casa, o circuito de Mugello. Foi o que aconteceu no GP da
Itália em 2016, e o mundo acompanhou pela TV a moto do italiano arrastando-se
pela pista deixando um rastro de fumaça. Para tornar a situação um pouco pior,
o mesmo aconteceu com seu desafeto e companheiro de equipe, Jorge Lorenzo, nos
treinos preparatórios para a prova, o espanhol trocou o motor e venceu a etapa.
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Iannone & Lorenzo (Catalunha) |
O
princípio da impenetrabilidade é uma das leis básicas da
mecânica de Newton, e enuncia que dois corpos não podem, a um mesmo tempo,
ocupar o mesmo lugar no espaço. Física clássica, entretanto, nunca foi o forte
de Andrea Iannone, depois de cair enquanto disputava as primeiras colocações
nas seis etapas anteriores, Iannone tentou ignorar Jorge Lorenzo na Catalunha.
O italiano perdeu a referência de freada ao tentar uma ultrapassagem e abalroou
a traseira da moto do espanhol, tirando os dois da corrida. Na ocasião a Ducati
vai havia divulgado a sua opção por Dovizioso e Iannone já havia assinado com a
Suzuki para a próxima temporada.
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Scott Redding (Rio Hondo) |
O pior pesadelo para um fabricante de pneus é ter todo um
lote posto em suspeição por uma falha, relacionada com a qualidade do material
ou processo de manufatura. Esta foi a situação enfrentada pela Michelin em sua
segunda corrida (GP da Argentina) como fornecedora exclusiva da MotoGP. Durante
um dos testes livres o pneu traseiro da Ducati de Scott Redding rompeu e soltou
toda a camada superior, o inglês foi atingido por um duro golpe nas costas e a carenagem
da moto danificada. Felizmente o resto do pneu permaneceu intacto e o piloto
conseguiu evitar uma queda em alta velocidade. O acidente foi imediatamente relacionado com
um semelhante ocorrido com Loris Baz nos testes pré-temporada e a fabricante
decidiu que não poderia garantir a integridade dos componentes sem um exame
mais apurado. Emergencialmente a prova foi dividida em duas, com troca de motos
(e pneus) obrigatória. Como demonstração de comprometimento e competência, uma
semana mais tarde a fornecedora francesa já tinha um produto confiável para o GP
da Américas, em Austin.
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Valentino Rossi (Motegi) |
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Jorge Lorenzo (Motegi) |
Possível sim, mas muito improvável. Uma série de eventos
era necessária para garantir o título antecipado do mundial de pilotos de 2016 para
Marc Márquez, na décima quinta etapa da temporada em Motegi, a casa da Honda.
(1) Márquez tinha de vencer a prova, em um circuito onde nunca havia vencido
antes e (2) Rossi e Lorenzo não poderiam pontuar entre os primeiros. É muito rara
a queda de dois pilotos de ponta em uma mesma prova, o GP foi disputado em condições
ambientais próximas às ideais, temperatura de 25° C, pista seca e 37% de umidade
relativa do ar. O termômetro indicava 36° C de temperatura na pista. Todos os
cenários apontavam para postergar a definição do campeonato para as etapas
seguintes, entretanto o inesperado aconteceu, Rossi caiu quando estava em segundo
lugar faltando 18 voltas para o final. Lorenzo, a segunda alternativa, perdeu a
frente da sua Yamaha #99 faltando cinco voltas para o encerramento, Marc Márquez
garantiu o seu quinto mundial, terceiro na MotoGP, faltando ainda três provas
para o encerramento da temporada.
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Pedrosa & Márquez (Áustria) |
Todo o piloto desenvolve o instinto de preservação em
caso de quedas, que consiste em evitar a queda brusca da Força G para minimizar
os possíveis danos. Um acidente que poderia mudar a história do Mundial de
MotoGP aconteceu durante a preparação para a décima etapa, na Áustria, no
terceiro treino livre (FP3) Marc Márquez sofreu uma queda depois de perder o
ponto de frenagem e quase colidir com seu colega Dani Pedrosa. Em função das outras ocorrências da temporada
é provável que este incidente seja desconsiderado na história do campeonato,
porém a manobra do piloto para evitar atropelar seu colega o impediu de posicionar
o corpo de modo a dissipar o impacto da queda e resultou em uma forte luxação
no ombro esquerdo. No dia seguinte Márquez aplaudiu da pista a primeira vitória
da Ducati depois da era Stoner, com direito a dobradinha no pódio. Entupido de
analgésicos, classificou-se em quarto no circuito da Red Bull.
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Cal Crutchlow (Qatar) |
Cal Crutchlow desenvolveu sua carreira nos campeonatos
britânicos de SuperBike e está na MotoGP desde 2011. Dono de uma técnica eficiente,
porém não muito refinada, é um piloto considerado agressivo. Compete pela LCR,
uma equipe independente com equipamento Honda administrada por Lucio Cecchinello,
um ex-piloto que contabiliza sete vitórias na MotoGP (mesmo número do Alex
Barros). Cal conquistou em 2016 o título de campeão entre os pilotos
independentes, um título oficial, embora não muito divulgado pela mídia. Cal
também é um dos líderes de uma estatística desabonadora, é um dos pilotos com
maior número de quedas na temporada. Os registros oficiais da MotoGP indicam
que Cal, além dos quatro pódios e duas vitorias, contabiliza seis abandonos em acidentes
durante as provas e dezoito quedas nos testes livres que antecedem os eventos. A temporada de 2016, em função de diversas modificações
como um novo fornecedor de pneus e alterações substanciais no regulamento
técnico, registrou um número exagerado de quedas, os três primeiros colocados
na classificação final (Márquez, Rossi e Lorenzo) caíram três vezes cada
durante a temporada. No quadro geral de acidentes, Cal Crutchlow dividiu a
liderança com Jack Miller.
Carlos Alberto Goldani
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