Air Force Project MX981 |
A
origem das Leis de Murphy está relacionada com pesquisas realizadas na base
aérea de Edwards (EUA) em 1949, cujo objeto de estudo era analisar os efeitos
da desaceleração súbita (impacto da Força G) no corpo humano. Em uma época onde
os recursos de simulação computacional eram inexistentes, os ensaios eram
realizados fixando sensores em voluntários que eram acelerados sobre trilhos
até chocar-se com uma barreira fixa. Óbvio que, nestas circunstâncias, refazer
testes era uma tarefa complicada. O Cap. Edward Murphy, um engenheiro que
trabalhava no Air Force Project MX981 foi encarregado de um dos testes e,
depois de realizado, descobriu-se que os transdutores haviam sido conectados
invertidos e não registraram nenhum dado. Irritado com a desatenção do técnico
na montagem, xingou o responsável registrando em seu relatório: “Se existir
alguma maneira de fazer algo errado, ele vai fazer errado”.
A
complexidade de entender a Força G começa pela sua definição, sob a ótica da mecânica
newtoniana ela não pode ser classificada como uma força. Força é um dos
conceitos fundamentais da Física, uma grandeza capaz de modificar o movimento
de um corpo livre ou causar deformação em um corpo fixo. Em outras palavras,
uma grandeza que tem a capacidade de vencer a inércia, a tendência de um corpo
de permanecer parado ou em movimento retilíneo e uniforme.
Portando
estes conceitos para as pistas, quando um piloto acelera uma moto o seu corpo
tende a permanecer no movimento mais lento em que estava. Com o aumento de
velocidade, o piloto tem que realizar algum esforço para manter a sua posição
em relação ao veículo, por isso tem a sensação de ter sido empurrado para trás
quando, na verdade, não foi. Não houve nenhum agente externo empurrando o piloto,
mas ele sente como se tivesse sofrido tal força. Esta sensação é a Força G. O
piloto “sente” esta "força", mas é apenas uma ilusão mecânica, um
efeito colateral da inércia.
No
processo de frenagem, onde a moto tem uma aceleração negativa (ou desaceleração)
o corpo do piloto tende a permanecer com a velocidade mais alta e, neste caso,
continuar indo para frente. Também neste caso não houve força aplicada sobre o
piloto, mas ele se sente empurrado. É mais uma ilusão mecânica.
Em
uma curva, o corpo do piloto tende a continuar o seu movimento na direção
tangencial, a direção do vetor velocidade que tinha antes de entrar no trecho
curvilíneo da pista. A moto vira contornando o arco da curva, mas o piloto
tende a continuar em linha reta e tem a sensação de estar sendo jogado para
fora da curva. Esta é a Força G atuando na direção radial.
A
tolerância do corpo de uma pessoa a esta força depende de fatores como duração,
intensidade e o local onde é aplicada. O cálculo é simples, 1 G significa
aceleração de, aproximadamente, 9.8 m/s2, igual a força gravitacional.
A
força G produz efeitos colaterais de acordo com a sua intensidade. Uma pessoa
ser submetida a acelerações ou desacelerações bruscas pode até ser fatal.
Embora não seja muito difícil resistir a pressões de 2 G, valores muito
superiores podem tornar quase impossível a um indivíduo se manter consciente. 3
G é o primeiro nível onde uma pessoa comum começa a sofrer com a aceleração,
embora resulte em algum desconforto, raramente causa perda de consciência ou
qualquer outro efeito mais grave. Algumas montanhas russas radicais podem
atingir facilmente este nível. Entre 4 e 6 G um indivíduo sem um preparo físico
adequado costuma sofrer do efeito chamado G-LOC, perda de consciência induzida
pela força G, cujo nome é autoexplicativo. Mesmo que consiga não “apagar”, quem
é submetido a este nível de pressão costuma sofrer de vários outros problemas,
como perda temporária da capacidade de ver cores, efeito “Visão de Túnel” onde
a visão periférica é afetada ou em alguns casos perda temporária da visão.
O
tempo ao qual o corpo humano é submetido a uma alta pressão devido a
desacelerações súbitas é mais significativo que o valor máximo da força G. O
choque de Robert Kubica contra um muro de concreto a 300,13 km/h no GP do
Canadá de Fórmula 1 em 2007 registrou 70 G de desaceleração. Em 2004 Ralf
Schumacher se acidentou no GP Estados Unidos de Fórmula 1, perdeu o controle do
carro e bateu de frente em um muro de proteção, sua desaceleração foi medida a
78 G (765 m/s²), o piloto sofreu uma concussão e duas fraturas menores à sua
coluna vertebral. Quando submetidos este nível de esforço a pressão sobre os
pulmões são comprimidos com tanta força que é impossível respirar e em menos de
um minuto pode ser fatal, Kubica e Schumacher foram exigidos ao extremo, porém
durante milésimos de segundo, tempo insuficiente para causar um dano
permanente.
A
segurança da MotoGP está em constante evolução. As áreas de escape dos
circuitos estão sendo ampliadas e recebendo asfalto em lugar de brita, o
macacão dos pilotos é feito de material mais resistente, as articulações estão
mais bem protegidas e a última geração de botas, luvas e capacetes permitem
sobreviver nas quedas com um mínimo de dano. O airbag utilizado por baixo do
macacão, além de garantir a integridade física do piloto, ainda fornece
informações detalhadas da localização e intensidade dos impactos. Em 2013, nas
etapas preparatórias do GP de Mugello, na Itália, Marc Márquez perdeu o
controle de sua Honda e caiu no final da grande reta enquanto desenvolvia uma
velocidade de 282 km/h, os sensores do seu airbag indicaram impactos de 25 G em
ambos os ombros, separados por 0,70 seg. O piloto sofreu apenas algumas
escoriações no rosto e estava alinhado para a largada no dia seguinte. Em Sepang nos testes de inverno deste ano, o
pneu traseiro da Ducati de Loris Baz explodiu em plena reta, o piloto sofreu na
queda um impacto de 29.9 G no ombro esquerdo e todo o incidente resultou apenas
em uma luxação. Em ambos os casos a ação da força G por tempos extremamente
curtos (ordem de 0,075 seg) foi administrada pelo preparo físico dos pilotos.
Momento
Cultural
O
piloto britânico de Fórmula 1, David Purley, em 1977 colidiu de frente com um
muro de concreto reduzindo a velocidade de 173 km/h para 0 no espaço de 66 cm.
Acredita-se que esta desaceleração, calculada em 178 G, tenha sido a mais alta
sobrevivida por um ser humano. Outra fonte atribui a Kenny Brack, um piloto
sueco que venceu as 500 milhas de Indianópolis de 1999, ter sobrevivido a um acidente
no Texas em 2003, cuja desaceleração foi estimada em 214 G.
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