Valentino
Rossi é um empresário e um esportista de inegável sucesso. Calçado em sua
genialidade nas pistas, montou um poderoso império comercial de produtos e
serviços relacionados à motovelocidade. Seu currículo impressiona, considerando
só a categoria máxima do motociclismo, contabiliza a participação em 273
grandes prêmios, 7 campeonatos do mundo, 86 vitórias (incluindo as da era das
500cc), 51 poles e 73 voltas mais rápidas. Seu jeito alegre e extrovertido
conquistou uma legião de fãs, muitos ancorados em posições de formadores de
opinião como repórteres, comentaristas e narradores de emissoras que cobrem a
MotoGP. Em todos os circuitos onde são realizadas etapas do campeonato mundial
os organizadores separam um local para concentrar a sua torcida organizada. Uma
boa medida da sua popularidade foi amostrada no GP de Mugello em 2013, Lorenzo,
Pedrosa e Crutchlow ocuparam as três primeiras posições no final da prova,
mas a multidão que se formou em frente ao pódio exigiu a presença de Rossi, que
havia se acidentado com sua Ducati e não pontuou.
Valentino
cultivou em torno de si uma horda de seguidores, vive como uma estrela, tem um
entourage que o acompanha e lhe assegura um tratamento diferenciado. No recente
GP disputado no Circuito das Américas, o seu nicho no grid de largada foi
limitado por uma fita e protegido por seguranças, que impediam a proximidade de
uma multidão de fotógrafos e admiradores, todos com credencial de acesso à
pista. Os seus colegas de primeira fila, o campeão do mundo Jorge Lorenzo e o
pole Marc Márquez também foram requisitados, mas não com tanto glamour.
A
ausência de resultados mais significativos de Valentino Rossi, e o consequente
desapontamento de sua legião de fãs, contribui para deteriorar o clima saudável
de disputas esportivas na MotoGP. Desde Aragon em 2010, com a torcida local
indignada com Marco Simoncelli por uma manobra infeliz que vitimou Dani
Pedrosa, não se ouviam vaias a pilotos. Aconteceu na primeira prova do ano no
Qatar, o vencedor (Lorenzo) foi hostilizado ao estacionar no parque fechado e
ao receber o troféu no pódio (em ambos os casos reagiu com gestos
provocativos). O episódio se repetiu no Circuito das Américas, sempre que Marc
Márquez ou Jorge Lorenzo apareceram nos telões durante as entrevistas do parque
fechado e quando receberam a premiação foram vaiados. Randy Mamola, astro do
motociclismo esportivo entre 1979 e 1992, convidado para a cerimônia de entrega
dos prêmios, confessou estar envergonhado com o comportamento do público. Não
imaginava que isto poderia ocorrer em território norte americano,
principalmente endereçando um piloto que venceu todas as provas do mundial de
MotoGP (dez ao todo) que disputou lá desde 2011.
Valentino
Rossi tem equipamento, apoio da equipe e condições técnicas para alcançar sua
meta, igualar e se possível superar os recordes do compatriota Giacomo
Agostini, entretanto os resultados mostram que sua condição de melhor piloto da
atualidade está sendo contestada e seu comportamento fora da pista está
ofuscando sua biografia. Fazendo eco às reclamações de Bradley Smith e Pol
Espargaro, afirmou antes do GP dos EUA que a confusão dos pneus na Argentina
foi um problema exclusivo da Ducati (8 motos no grid) e todas as outras equipes
foram penalizadas pela Michelin. Voltar a ser a estrela mais brilhante da
MotoGP seguramente não passa por acusações de supostos complôs espanhóis,
sugestão de favorecimento de fornecedores a outros concorrentes ou provocações
gratuitas ao colega de equipe e campeão do mundo (Jorge Lorenzo não tem
“cojones” para migrar para a Ducati). Depende apenas de resultados de pista e,
neste quesito, Valentino está em débito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário