segunda-feira, 11 de abril de 2016

MotoGP – Esporte Ou Doutrina


 
Valentino Rossi é um empresário e um esportista de inegável sucesso. Calçado em sua genialidade nas pistas, montou um poderoso império comercial de produtos e serviços relacionados à motovelocidade. Seu currículo impressiona, considerando só a categoria máxima do motociclismo, contabiliza a participação em 273 grandes prêmios, 7 campeonatos do mundo, 86 vitórias (incluindo as da era das 500cc), 51 poles e 73 voltas mais rápidas. Seu jeito alegre e extrovertido conquistou uma legião de fãs, muitos ancorados em posições de formadores de opinião como repórteres, comentaristas e narradores de emissoras que cobrem a MotoGP. Em todos os circuitos onde são realizadas etapas do campeonato mundial os organizadores separam um local para concentrar a sua torcida organizada. Uma boa medida da sua popularidade foi amostrada no GP de Mugello em 2013, Lorenzo, Pedrosa e Crutchlow ocuparam as três primeiras posições no final da prova, mas a multidão que se formou em frente ao pódio exigiu a presença de Rossi, que havia se acidentado com sua Ducati e não pontuou.
 
Valentino cultivou em torno de si uma horda de seguidores, vive como uma estrela, tem um entourage que o acompanha e lhe assegura um tratamento diferenciado. No recente GP disputado no Circuito das Américas, o seu nicho no grid de largada foi limitado por uma fita e protegido por seguranças, que impediam a proximidade de uma multidão de fotógrafos e admiradores, todos com credencial de acesso à pista. Os seus colegas de primeira fila, o campeão do mundo Jorge Lorenzo e o pole Marc Márquez também foram requisitados, mas não com tanto glamour.

 Esta admiração pelas realizações e pela figura de Valentino não encontra eco entre seus colegas pilotos. Ele já participou na pista de disputas acirradas com Mellandri, Biaggi, Giberneau, Stoner e recentemente Márquez, em quase todas os seus oponentes acabaram na brita, ele nunca. Toda a simpatia e boa vontade que demonstra com seus torcedores deixa de existir quando as ocorrências não estão alinhadas com seus objetivos, recentemente endossou uma campanha via Internet que coleta assinaturas em uma petição para cassar o título de 2015 de Lorenzo, que ele e a mídia italiana repetem à exaustão que é ilegítimo. [Os espanhóis garantem que não vai ter golpe]

 Os gestores das equipes que participam do MotoGP normalmente utilizam a estratégia de utilizar um piloto mais novo (padawan) para aprender com o mais antigo (mestre). Lorenzo foi contratado pela Yamaha em 2007 para fazer exatamente o que fez, aprender com o experiente Valentino Rossi e estar preparado para o substituir no futuro. A ocasião surgiu em 2010 quando Valentino fraturou a perna em um acidente nos testes livres do GP da Itália (Mugello) e ficou afastado por quatro provas. O aprendiz aproveitou a oportunidade e realizou uma temporada perfeita, venceu o mundial com 9 vitórias e recorde de pontos, 383, mantendo o título com a Yamaha. Em desvantagem na disputa interna da equipe, Rossi migrou para a Ducati e amargou um exílio de dois anos. No seu retorno à Yamaha Rossi encontrou o mesmo parceiro já bicampeão do mundo, e a concorrência da estrela ascendente de Marc Márquez na Honda. No regresso para a equipe onde ganhou 5 dos seus 7 títulos, entre 2013 até os dias atuais, Valentino conseguiu apenas 7 vitórias, Lorenzo venceu 18 vezes e Márquez 26 (Pedrosa, com 6 primeiros lugares, completa o quarteto de monopoliza o lugar mais alto do pódio).

A ausência de resultados mais significativos de Valentino Rossi, e o consequente desapontamento de sua legião de fãs, contribui para deteriorar o clima saudável de disputas esportivas na MotoGP. Desde Aragon em 2010, com a torcida local indignada com Marco Simoncelli por uma manobra infeliz que vitimou Dani Pedrosa, não se ouviam vaias a pilotos. Aconteceu na primeira prova do ano no Qatar, o vencedor (Lorenzo) foi hostilizado ao estacionar no parque fechado e ao receber o troféu no pódio (em ambos os casos reagiu com gestos provocativos). O episódio se repetiu no Circuito das Américas, sempre que Marc Márquez ou Jorge Lorenzo apareceram nos telões durante as entrevistas do parque fechado e quando receberam a premiação foram vaiados. Randy Mamola, astro do motociclismo esportivo entre 1979 e 1992, convidado para a cerimônia de entrega dos prêmios, confessou estar envergonhado com o comportamento do público. Não imaginava que isto poderia ocorrer em território norte americano, principalmente endereçando um piloto que venceu todas as provas do mundial de MotoGP (dez ao todo) que disputou lá desde 2011.

Valentino Rossi tem equipamento, apoio da equipe e condições técnicas para alcançar sua meta, igualar e se possível superar os recordes do compatriota Giacomo Agostini, entretanto os resultados mostram que sua condição de melhor piloto da atualidade está sendo contestada e seu comportamento fora da pista está ofuscando sua biografia. Fazendo eco às reclamações de Bradley Smith e Pol Espargaro, afirmou antes do GP dos EUA que a confusão dos pneus na Argentina foi um problema exclusivo da Ducati (8 motos no grid) e todas as outras equipes foram penalizadas pela Michelin. Voltar a ser a estrela mais brilhante da MotoGP seguramente não passa por acusações de supostos complôs espanhóis, sugestão de favorecimento de fornecedores a outros concorrentes ou provocações gratuitas ao colega de equipe e campeão do mundo (Jorge Lorenzo não tem “cojones” para migrar para a Ducati). Depende apenas de resultados de pista e, neste quesito, Valentino está em débito.

 

 

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