A cena toda foi surreal, no início da sexta volta do GP
dos EUA a Ducati 04 de Andrea Dovizioso aproximava-se da curva em uma
trajetória aberta acompanhada de perto, em uma linha mais interna, pela Honda
26 de Dani Pedrosa. Sem uma razão aparente sua RC213V guinou para o lado, o
piloto recuperou momentaneamente o controle, entretanto a frente fugiu de novo
e derrubou a moto. Em sua queda, colheu a Ducati GP16 e tirou ambos os pilotos
da prova. Em tese um acidente de corrida, normal.
O que os presentes no Circuito das América assistiram e
as imagens das emissoras de TV distribuíram para o mundo todo é que não foi
usual, Pedrosa levantou-se rapidamente e correu até onde Dovizioso estava
caído, externando enorme preocupação com a integridade do colega. A cena
lembrou o que aconteceu em uma corrida de SuperBike em 2013, Marco Melandri
abalroou Carlos Checa e ambos caíram. A violência do acidente deixou o espanhol
inconsciente, o italiano foi o primeiro a atende-lo. Na prova de Valência da
Moto3 em 2015, um acidente envolveu Niccolo Antonelli (Honda), Efrén Vásquez
(Honda) e Romano Fenati (KTM), a imagem de Fenati prestando os primeiros
socorros a Vásquez correu o mundo. Estas ocorrências exemplificam que a
solidariedade humana sobrevive em meio a tanta adrenalina.
Dani Pedrosa e Andrea Dovizioso estavam muito próximos,
disputando um lugar no pódio, e é provável que a Honda tenha sido
desestabilizada pela turbulência criada pelas “winglets” da Ducati, sua roda
dianteira perdeu momentaneamente a aderência e a ficou desgovernada. O
incidente remeteu à prova de abertura da temporada no Qatar onde pela disputa
da liderança as duas Ducati andavam muito próximas, sem razão aparente Andrea
Iannone perdeu o controle e caiu.
Não foi a turbulência que preocupou Dani Pedrosa ao
correr para auxiliar Dovizioso, na prova anterior em Rio Hondo (Argentina) o
piloto da Honda 26 acompanhou de perto um toque entre uma das Ducati e a moto
de Marc Márquez, quando uma das “winglets” ceifou a haste da câmera de trás da
Honda. Márquez rodou até a troca obrigatória com o componente pendurado pela
fiação. Pedrosa queria a confirmação que o piloto da Ducati não havia
sido atingido pela peça aerodinâmica.
A aerodinâmica foi um dos poucos recursos que sobraram
para serem trabalhados no desenvolvimento dos protótipos devido à rigidez do
regulamento técnico. As “winglets” são utilizadas para permitir maior fluidez
do ar em torno do conjunto piloto/moto e, em alguns casos, criar pressão
aerodinâmica para compensar a baixa aderência dos pneus dianteiros da Michelin.
Sua utilidade não é consenso nem entre integrantes da mesma equipe, Jorge
Lorenzo nas tomadas de tempo nos EUA optou por um formato acintoso, um bigode
enorme a lá Nicolas Maduro, Valentino Rossi preferiu a moto com a cara mais
limpa, a Honda de Marc Márquez está equipada com pequenas aletas que não podem
ser consideradas “winglets”. Tudo depende da maneira como o piloto utiliza o
recurso, como se sente mais confortável com o comportamento da moto.
As “winglets” já foram banidas da Moto3 e serão toleradas
na Moto2 até o final desta temporada. Ainda são permitidas na MotoGP, mas uma
mudança de regulamento em meio a temporada indica que devem ter bordas
arredondadas.
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