quarta-feira, 31 de março de 2021

Nova temporada

 



Quando o gato sai, os ratos tomam conta. De certa maneira, esta foi a reação dos envolvidos na MotoGP logo que foi confirmada oficialmente a decisão de Marc Márquez não participar das duas provas iniciais da temporada 2021no Catar. O octacampeão aceitou às recomendações dos médicos que conduziram a terceira cirurgia em seu braço direito no Hospital Internacional Ruber em Madrid e, embora a consolidação da fratura esteja bem encaminhada, ele sofreu uma pseudoartrose, leia-se, houve uma separação das partes que deviam ficar juntas e foi necessário um enxerto ósseo. Nestas condições trepidação excessiva não é aconselhável.

A notícia da ausência de Márquez excitou os competidores e foi o gatilho para diversas especulações, a mais criativa foi que era um subterfugio da Honda para mascarar a ineficiência de seu protótipo para esta temporada, como teria sido comprovado nas únicas sessões de testes realizadas. Manter Márquez sem competir é uma forma da equipe nipônica proteger o seu investimento no piloto. 


 Alex Márquez nos testes pre-temporada no Catar

Os resultados de ensaios sempre devem ser avaliados com ressalvas, porque as fábricas não divulgam a agenda do que está sendo testado e qual o resultado obtido. Por uma simples questão mercadológica, alguns pilotos nos minutos finais de um período de testes equipam o seu protótipo com pouco combustível e pneus novos para uma volta rápida, com a única finalidade de figurar no topo da tabela de tempos. A tabela de tempos no final de um teste é pouco significativa, serve apenas para impressionar patrocinadores ou gerar inquietude entre os concorrentes.

Em toda a história da MotoGP, quase 3.200 GPs disputados em todas as categorias, a Honda registra mais de 800 vitórias, ou seja aproximadamente 25% do total. Nas 19 temporadas que se passaram desde 2002, o ano em que a MotoGP passou a usar motores quatro tempos, a Honda venceu 10 Campeonatos Mundiais de Pilotos e 12 de Construtores. Para a fábrica, este domínio é o resultado da união entre o talento de engenheiros e pilotos.

Corridas sempre tiveram uma grande importância na Honda porque são consideradas ensaios para a aplicação de tecnologias em motos de produção comercial. Uma evolução desenvolvida nas pistas foi a utilização da ordem de explosão assimétrica dos cilindros chamada de "big bang", legado da NSR500 2 tempos que dominou os anos derradeiros da categoria 500cc. Introduzido em 1992, o motor "big bang" proporciona aderência extraordinária ao pneu traseiro.

O protótipo atual, RC213V é o último de uma série de desenvolvimentos vitoriosos que participam do campeonato mundial desde a década de 1960, e incluem as fantásticas RC166 de 6 cilindros (250cc), RC149 de 5 cilindros (125cc) e a RC181 de quatro cilindros(500cc). A RC213V é uma moto incrível e que desperta temor em seus adversários a quase duas décadas.


 Alex Barros pilotando uma RC211C

Sua antecessora, RC211V foi um modelo de muito sucesso, com o motor em V de 5 cilindros com um desempenho excepcional, sob medida para as exigências dos pilotos, enquanto seu design compacto permitiu a construção de um chassi que despertava a confiança em curvas. Diversos pilotos competiram com a RC211V, incluindo o tupiniquim Alex Barros e o lendário Valentino Rossi, venceram no total 48 corridas entre 2002 a 2006, período no qual o limite de cilindrada dos motores era de 990cc. Na época, a moto também ganhou 3 títulos no Mundial de Pilotos e 4 no Mundial de Construtores.

Um aspecto importante do conceito da RC211V foi um projeto de tanque com um design "incomum" na época, um terço da capacidade do combustível ficava logo abaixo do assento do piloto, com objetivo de posicionar a massa (peso) mais próxima possível ao centro de gravidade da motocicleta. Para os pilotos esta escolha técnica representava uma vantagem nas fases iniciais da corrida, nas quais o tanque está completamente cheio e, portanto, pesado. Por alojar peso excessivo na parte superior a antecessora da RC211V, a NSR500, penava nas primeiras voltas das corridas. De acordo com o departamento de competições da Honda, a RC211V conseguia aproveitar de 80 a 90% de desempenho nas primeiras voltas.

Entre 2007 e 2011 aRC212V se aproveitou plenamente da experiência conseguida através da RC211V na pista, mas criou uma moto completamente nova com um motor V4 no luigar do V5 Logo no início da temporada de 2007 ficou óbvio que as novas motos com motores de 800cc eram diferentes, com motores menores geravam menos potência e torque, exigiam o uso de recursos eletrônicos incluindo anti-wheelie, controle de tração e controle de largada. A evolução da eletrônica foi um avanço importante da era da MotoGP com motores de 800cc.

Quando, em 2012 o regulamento foi alterado para  1000cc, os engenheiros da Honda projetaram uma moto totalmente nova, centrada no conhecimento adquirido nos modelos anteriores, Não foi apenas ampliar a capacidade cúbica, criou um V4 caracterizado por um ângulo de 90° com vantagens significativas, incluindo o equilíbrio perfeito que o torna mais suave, mais confiável e mais fácil de ajustar, especialmente quando os engenheiros precisam experimentar diferentes tempos de ordem de explosão - o sistema big bang - para buscar otimizar a potência e torque ao máximo.


 
Dani Pedrosa em Mugello (2012)

Na temporada de 2012 no GP da Itália (Mugello) Dani Pedrosa, pilotando uma RC213V, conseguiu um recorde por volta melhor que o anterior, registrado em 2002, com 4,9 segundos mais rápido e velocidade máxima na reta principal de 342,9 km/h. No ano seguinte Casey Stoner se aposentou e abriu uma vaga para Marc Márquez, o primeiro estreante a conquistar o título Mundial da era MotoGP, um feito que apenas Kenny Roberts conseguiu na categoria 500cc em 1978.

Após os testes no Catar, o RC 213V e seus pilotos não parecem ser capazes de competir pela vitória, em termos de desempenho não estão sequer entre as oito melhores motos incluídas na lista de tempo. Pol Espargaró, recém contratado, terminou em décimo lugar, com uma diferença do melhor tempo de Jack Miller, Ducati, de 716 milésimos. As outras Honda, Takaaki Nakagami em 12º, Stefan Bradl em 13º, e Alex Marquez em 18º. Um fato preocupante é o número de quedas dos pilotos Honda, 10 durante os dias de teste, incluindo com uma pequena fratura em Alex Márquez. 

A Honda definitivamente não parece pronta para a temporada 2021 e  sem Marc Márquez  para tirar um coelho da cartola, a fábrica tende a continuar o seu calvário.


 Jack Miller com a Desmosedici GP21

Os concorrentes estão excitados com a ausência do oito vezes campeão do mundo. Jack Muller imagina que a força do motor e os truques aerodinâmicos da Ducati sejam suficientes para garantir vitórias, sem o pesadelo der estar sendo seguido por  uma Honda laranja.

A Yamaha conta com a voluntariedade de Maverick Vinales e os pilotos que trocaram de equipes, Fábio Quartararo e Valentino Rossi. O quarto piloto, Franco Morbidelli, não espera por novidades da fábrica e se concentra em tirar do modelo A-Espec tudo o que for possível, enquanto os Factory-Espec querem que a fábrica produza equipamentos melhores que todos os demais. 

A KTM sabe que Pol Espargaró vai fazer falta, mas acredita em Miguel Oliveira e Brad Binder. Sua satélite Tech3 não tem muitas esperanças em repetir vitórias como as de 2020 com Danilo Petrucci e Iker Lecuona.

A equipe do atual campeão do mundo, Suzuki, sabe que tem uma dupla equilibrada com Joan Mir e Alex Rins, embora tudo acontece como se Rins tente rucuperar o protagonismo na equipe, que era seu no início da temporada 2020.

Resta a nova RS-GP da Aprilia com Alex Espargaró, que obteve resultados surpreendentes em Losail. A moto é radicalmente nova e e tem forte influência de conceitos desenvolvidos pela Fórmula 1, suas rodas dianteiras são carenadas para obter algum downforce quando está inclinada.  
 

Aprilia RS-GP surpreendeu nos testes do Catar

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