domingo, 21 de março de 2021

MotoGP - Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay

 

Sexta-feira próxima inicia a temporada 2021 da MotoGP, assim como a anterior cercada de muita incerteza. A organizadora divulgou uma programação de 21 etapas, que poucos acreditam ser possível, em função do dos estragos causados pelo Vírus Corona, suas múltiplas variantes e do inevitável desarranjo mundial da economia. As etapas do GP da Argentina (Rio Hondo) e GP das Américas (Cota) já foram formalmente adiadas e é improvável que sejam realizadas, até mesmo porque as instalações físicas do circuito de Rio Hondo ainda estão em processo de reconstrução depois de terem sido destruídas por um incêndio. Não seria lógico (nem economicamente viável) o MotoGP cruzar o Atlântico e visitar a América apenas para disputar uma única prova.

A mídia que acompanhou as duas sessões de testes no Catar, que devido as circunstâncias podem ser consideradas uma única sessão de 5 dias com um intervalo de 2. A análise dos resultados indicou entre 10 a 12 pilotos com potencial de candidatos ao título, porém todos recomendam atenção especial ao grid de largada do GP noturno em 28 de março em Losail. Se estiver alinhado um protótipo laranja com o número 93, a lista de favoritos se reduz a um único nome.

A pista do Catar tem pouca relevância para o resto do campeonato, Losail é um circuito incomum e as condições são únicas em termos de traçado e aderência, além da areia que pode invadir o piso. Não é o local ideal para ajustar um equipamento para o restante da temporada. Vencer no Catar não tem muita importância se for uma temporada longa. Historicamente, desde que o circuito passou a integrar o calendário da MotoGP em 2005, apenas em 5 oportunidades o vencedor da prova ficou com o título.

A pandemia mundial, que resiste aos esforços mundiais em ser erradicada, produz alguns fatos interessantes. Andrea Dovizioso deve participar de sessões de treino como piloto da Aprilia RS-GP em Jerez entre 12 a 14 de abril, mesmo que o italiano já houvesse recusado um assento tempo integral na equipe em 2021. Não é novidade que a menor fábrica que participa do mundial corteja os serviços de Dovi, ele aceitar é que faz o fato virar notícia. O próprio comunicado fábrica enuncia que “Não será uma prévia de um matrimônio, é uma oportunidade de virar algumas voltas juntos, sem qualquer compromisso vinculativo para o futuro”. 

O fato de Dovizioso aceitar a oferta sugere que o relacionamento pode evoluir. Quando o piloto anunciou que teria um ano sabático em 2021, deixou claro que não era uma aposentadoria, porém só aceita ofertas que permitem aspirar o título mundial. No fim de 2020 a RS-GP não parecia ser a oportunidade que ele estava procurando, além disso, a incerteza em torno do futuro de Marc Márquez significava que havia potencial para um lugar na fábrica da Repsol-Honda, que hoje é uma possibilidade descartada.


Valttery Bottas - Recordista em velocidade na Fórmula 1


No GP da Itália de Formula 1 em 2005 na pista de Monza o colombiano Juan Pablo Montoya registrou a velocidade máxima de 372 km/h, um recorde que durou 15 anos e foi batido por Valttery Bottas no Azerbaijão em 2020, 378 Km/h. Nos testes de do Catar Johann Zarco com uma Desmosedici GP21 acelerou até 357,6 km/h, mais que o recorde oficial da MotoGP, que pertence a Andrea Dovizioso, de 356,7 km/h no GP da Itália de 2019 em Mugello. Para vencer na MotoGP é necessário um conjunto de características do piloto e equipamento, velocidade final é apenas uma delas.


Uma síntese da MotoGP

Uma prova que expõe as nuances da MotoGP e justifica porque o esporte recebe cada vez mais adeptos é o encerramento da temporada de 2017 da MotoGP, realizada em novembro no circuito Ricardo Tormo em Valência. Contextualizando, o campeonato ainda não estava decidido, havia uma chance mínima para Andrea Dovizioso, tinha de vencer a prova e seu concorrente Marc Márquez não podia se classificar entre os 10 primeiros. A Ducati havia investido um valor expressivo na contratação de Jorge Lorenzo, mas quem estava apresentava resultados e mantinha a disputa em aberto era o AD04. Na prova anterior, na Malásia, Lorenzo estava na liderança e atendeu um pedido dos boxes para permitir a ultrapassagem de Dovi, para manter um tênue fio de esperança no campeonato.
 

Johann Zarco em 2017 com a Yamaha independente
 

Outro que acumulava bons resultados na temporada era o francês Johann Zarco, pilotando uma Yamaha modelo antigo (2016) para uma equipe independente. Todo o paddock sabia que uma das estratégias utilizadas por Márquez era guardar equipamento para um ataque ao líder nas últimas voltas e, para evitar pressões Zarco solicitou ao seu pessoal de apoio que não queria ser notificado sobre as colocações durante a prova.

Depois da largada, quando as posições se acomodaram, Zarco liderava, seguido da dupla da equipe Honda (Márquez e Pedrosa) e dos dois pilotos da Ducati (Lorenzo e Dovi). Em futebol o termo utilizado seria extra-campo, na MotoGP em tese não havia a ingerência da equipe depois da largada, no entanto a equipe italiana só teria alguma chance se Dovi vencesse a corrida, então no transcorrer da prova “sugeriu”, inicialmente de forma sutil depois acintosamente, para Lorenzo trocar de posição com o companheiro.


Valência 2017 – Disputa entre Lorenzo e Dovizioso


Faltando apenas 7 voltas Márquez decidiu tomar a liderança e em seguida perdeu a frente da sua moto, fez um passeio pelo cascalho, voltou em 5º, atrás das duas Ducati. A cobertura da TV foi muito feliz ao mostrar o desalento de Gigi Dall’Igna e do box da equipe italiana ao ver que o espanhol conseguiu evitar o abandono e voltar para a prova, lembrando que qualquer colocação entre os 11 primeiros já lhe garantia o título. Duas voltas mais tarde as duas Ducati abandonaram, Lorenzo por uma queda e Dovi não conseguiu manter o equilíbrio e perdeu a moto ao sair pelo cascalho.
 
As surpresas do dia ainda não haviam terminado, na última volta Johannn Zarco viu seu pesadelo virar realidade, foi ultrapassado por uma Honda. Posteriormente confessou que já não tinha pneus e que não resistiria à agressividade de um ataque de Marc Márquez, só no espaço reservado depois da prova viu que era a moto do Pedrosa.

Um gesto de elegância marcou o final do evento, Gigi Dall’Igna, o principal dirigente da Ducati foi até os boxes da Honda cumprimentar seus pares pelo sucesso na temporada.  
 

Valência 2017 – Gigi Dall’Igna abraça Santi Hernandez

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