quinta-feira, 1 de outubro de 2020

MotoGP – O mundial sem Marc Márquez

 

 

William Randolph Hearst foi um empresário norte-americano que criou uma enorme rede de jornais no início do século XX e acumulou uma fortuna estimada em 30,6 bilhões de dólares. Seus ensinamentos influenciaram toda a indústria da mídia impressa. São atribuídas a Hearst algumas premissas básicas para os jornalistas, por exemplo, “más notícias são as boas notícias, as que mais vendem jornais” e que “importante em uma boa matéria não é quem, o que ou quando, o real trabalho do jornalista é descobrir por que”.  

A temporada de 2020, com todos os percalços criados pela pandemia, está eletrizante. Depois de 7 etapas 4 pilotos estão separados por apenas 4 pontos na disputa do título, Dovizioso (Ducati) com 84, Quartararo e Vinales (Yamaha) com 83 e Joan Mir (Suzuki) com 80 pontos. Mir é o único que ainda não venceu. Em 7 etapas realizadas, 6 pilotos já ocuparam o lugar mais alto do pódio, 1 em sua primeira temporada na classe principal (Brad Binder). A Yamaha venceu 4 vezes, 3 com a equipe satélite (2 de Quartararo e 1 de Morbidelli) e uma única da equipe oficial (Vinales). A KTM registrou suas duas primeiras vitórias em mundiais da categoria, uma com o novato da equipe oficial (Binder) e outra da satélite TECH3 (Miguel Oliveira).

 

Miguel Oliveira – Vencedor do GP Styria


O mundial, disputado este ano exclusivamente na Europa por restrições políticas e sanitárias (fechamento de fronteiras), está sendo reconhecido como o mais disputado de todo o sempre. Os repórteres da mídia especializada na motovelocidade buscam uma justificativa para  o momento atual da temporada. Gil Grisson, personagem de uma série que fez sucesso na TV (Crime Scene Investigation - CSI), ensinava aos seus subordinados uma lição que é adequada para explicar a situação atual da MotoGP, “A ausência de indícios na cena do crime é, por si só, uma pista”. Se no atual grid não existem razões suficientes para explicar o que está acontecendo, o que está ausente pode ser uma justificativa plausível.

Em 2019 nas primeiras 7 etapas Marc Márquez contabilizou 140 pontos, incluindo a desistência no Circuito das Américas. O campeonato tinha vitórias de 4 pilotos (Márquez, Dovizioso, Rins e Petrucci) e 3 fabricantes diferentes (Honda, Ducati e Suzuki). Em 2019 só o GP da Catalunha não registrou 15 equipamentos na zona de pontuação, este ano já aconteceu em duas etapas, Andaluzia e Emilia Romagna. 


 

Representação Honda - Alex Márquez & Taka Nakagami

 

A Honda, pela primeira vez nos últimos anos não colocou pelo menos um piloto no pódio em sete provas consecutivas. Neste último GP participou com só duas motos, a oficial de Alex Márquez (7º) e a satélite de Takaaki Nakagami (6º), ficaram fora por motivos físicos os pilotos Marc Márquez que se recupera de uma fratura no úmero, Cal Crutchlow sofreu uma cirurgia no braço (arm pump) e Stefan Bradl se acidentou nos treinos e foi vetado pelos médicos. Se Márquez voltar na Catalunha, o que é muito improvável, vale lembrar que da 8ª até a 14ª etapas de 2019 ele acumulou 160 pontos, o suficiente para ser candidato ao título deste ano. Óbvio, é uma avaliação muito otimista para o desempenho do atual campeão, mas considerando a amostra que ele apresentou na primeira etapa de Jerez é uma hipótese que não pode ser descartada. A equipe nipônica está atravessando seu pior inferno astral nas 18 temporadas que se passaram desde 2002, o ano em que a MotoGP passou a usar motores quatro tempos. Neste período a Honda venceu um total de 10 Campeonatos Mundiais de Pilotos e 12 de Construtores. Nesta temporada a equipe ainda não colocou um só piloto no pódio e a melhor colocação de um de seus protótipos foi o 4º lugar de Takaaki Nakagami (satélite LCR) na prova da Andaluzia com a moto que Márquez utilizou em 2019. O último GP em Misano foi a primeira apresentação convincente do irmão de Marc Márquez, uma prova que talento não é um fator genético



KTM de Pol Espargaro



É extremamente injusto não considerar todo o esforço dos pilotos de testes e projetistas na pré-temporada, antes de surgir a pandemia. A KTM desenvolveu um novo quadro, a Michelin apresentou uma nova concepção de pneu traseiro, inovando na composição da borracha e na construção, que resultou em maior grip. Talvez as mudanças nos pneus expliquem porque os novatos estão obtendo resultados neste início de temporada, a experiência dos pilotos calejados desvaneceu-se com o comportamento diferente dos equipamentos, todos que compõem o grid partem de uma base comum, onde a cultura prévia dos veteranos não influencia muito. Os pilotos precisam aprender um modo diferente de conduzir as motos, o equilíbrio dos freios (dianteiro vs traseiro) foi alterado e o modo ideal de fazer o contorno das curvas mudou. Este fato pode ser comprovado na Yamaha onde o veterano Valentino Rossi, uma lenda do motociclismo esportivo, está atrás dos outros 3 pilotos que utilizam o mesmo equipamento (Quartararo, Morbidelli & Vinales). Aumentou consideravelmente a importância de gerenciar pneus e adequar os protótipos às condições de clima, asfalto e layout das pistas. Em Jerez as Yamaha, com seus motores de cilindros em linha e velocidade nas curvas, comandou as ações conseguindo inclusive um pódio triplo, que não é comum na atual MotoGP. Em Brno e no Red Bull Ring a potência dos V4 das Ducati e KTM foram importantes e em Misano as Yamaha voltaram a ser protagonistas. 

Yamaha de Franco Morbidelli 


A prova deste fim de semana, a segunda na rodada dupla de Misano, foi muito acidentada. Vitória da Yamaha de Maverick Vinales, que conseguiu manter um bom ritmo durante toda a prova e herdou a liderança a 6 voltas do final com a queda de Peco Bagnaia com uma Ducati da Pramac. O piloto italiano estava mantendo uma vantagem segura sobre Vinales quando perdeu a frente na Curva 6 e caiu. Não foi a primeira grande decepção que Bagnaia sofreu nesta temporada, perdeu um pódio em Jerez devido a problemas no motor, depois fraturou a perna nos treinos em Brno. Bagnaia concluiu apenas duas das sete provas realizadas, mas o seu desempenho nas pistas o credencia a ser o companheiro de Jack Miller na representação oficial da Ducati em 2021. No início deste ano, ao aceitar o contrato com a Avintia para pilotar uma Ducati GP19, o francês Johann Zarco obteve a promessa que, dependendo de seus resultados, poderia trocar pela GP20 de Bagnaia em 2021. Isto aconteceu antes de Dovizioso recusar a renovação de contrato e abrir uma vaga na equipe da fábrica. Zarco ocupa a 13ª colocação no mundial com 36 pontos acumulados, tendo abandonado uma só prova, Bagnaia está em 15º com 29 pontos conquistados em duas provas.

Autódromo de Barcelona - Catalunha


No próximo fim de semana o circo da MotoGP se apresenta na Catalunha, no circuito de Barcelona.
Nada indica que não vão haver surpresas nos resultados.

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