A temporada 2020, em tempos de pandemia, tem apresentado um quadro que, embora não alinhado com a história, está próximo ao ideal proposto pelos administradores da MotoGP. A ideia dos gestores atuais é permitir, via regulamentos, a todos os participantes uma equidade de condições de disputa. Não é o que a história ensina, o Mundial de Motovelocidade contempla, desde a sua primeira edição em 1949, exclusivamente na classe principal (500cc & MotoGP) 902 provas, 60% vencidas por duas fábricas, 309 pela Honda e 231 pela Yamaha. Restringindo a vigência da MotoGP (motores de 4 tempos), de 2002 até os dias atuais, houve 319 GPs, 153 vitórias da Honda e 111 da Yamaha, totalizando 83% dos GPs disputados.
Em 2020 a diversidade de
pilotos vencedores, quatro em cinco etapas, três fabricantes diferentes, expõem
uma realidade de que a categoria está em um nível de competitividade inédito,
existem disputas em todas as posições, não apenas pela vitória.
As duas grandes fábricas que dominaram a categoria
estão enfrentando problemas, seus resultados estão aquém do esperado. Uma
Yamaha pilotada por Fabio Quartararo, de uma equipe independente, venceu as
duas etapas de Jerez. Valentino Rossi observou que este feito se deve mais a
adequação do piloto às condições do clima e do circuito que às virtudes do
equipamento. O fracasso da fabricante nas etapas de Brno e na Áustria comprovam
esta afirmação.
A Yamaha tem dificuldades de adequação das
válvulas, que os obrigou a reduzir o limite de rotação do motor, comprometendo
a geração de potência. Todos os equipamentos da fábrica estão com problemas nos
freios, que causaram o incidente em que Maverick Vinales saltou da moto em Red
Bull Ring para evitar um mal maior. Na
primeira corrida da Áustria, Fábio Quartararo e Valentino Rossi também
administraram falhas nos freios. Como todos os protótipos, não só as Yamaha, envolvidos
nas disputas da MotoGP utilizam variantes (opção das equipes) de sistemas
produzidas pela Brembo, restam duas hipóteses, ou os pilotos utilizam mal o componente
ou a falha é resultado de uma inadequação do projeto da moto.
Esquadra da Yamaha em Jerez
Depois da exuberante exibição de Marc Márquez durante
a corrida de recuperação antes do acidente em Jerez, na abertura da temporada, a falta de
resultados da Honda é difícil de ser explicada. A versão 2020 da RC213V foi
desenvolvida para ser adequada para a técnica de condução do campeão, a moto
tem a reputação de não ser amigável, portanto inadequada para um piloto egresso
da Moto2 (Alex Márquez). O veterano Cal Crutchlow tem dificuldades com um pulso
fraturado e ainda não descobriu a melhor maneira de andar com o novo pneu
traseiro da Michelin. Apenas o protótipo de 2019, conduzido por Takaaki Nakagami
está tendo desempenhos razoáveis, mas não o suficiente para alcançar um pódio.
Por oportuno, a Honda nunca havia passado 5 provas seguidas sem estar no pódio
nos últimos anos.
GP da Styria -2020
A hegemonia que Márquez tem
mostrado nas últimas temporadas e sua habilidade de estar sempre na frente
ofuscou o que está sendo explorado com mais insistência nas últimas provas:
análise de detalhes como contatos, traços incorretos e comportamentos não
confiáveis, entre outras coisas.
Este ano uma regra foi imposta
para evitar os incidentes ocorridos nas temporadas passadas, e se aplica a
todas as categorias: quem exceder os limites da pista, ato caracterizado com as
duas rodas na área verde, deve perder a volta (se for na qualificação) ou uma
posição. Com a aplicação da regra cresceu a importância do Painel de
Comissários que decide se o piloto obteve vantagem ou não, ou seja, nem sempre
a sansão é automática. Na última prova da Moto2 do GP de Styria em Red Bull
Ring a penalidade foi aplicada para o líder, Jorge Martín, mas não ao vencedor
Marco Bezzecchi, ambos saíram no mesmo ponto na última volta
Marco Bezzecchi & Jorge Martin
Na categoria principal, durante
a prova houve um incidente com Joan Mir por exceder os limites da pista na
Curva 1, o piloto teve que devolver uma posição, o mesmo não foi feito com Pol
Espargaro na última curva em meio a uma disputa pela vitória. A explicação dos
comissários foi que no caso a manobra foi necessária para evitar uma batida com
Jack Miller e que Pol não obteve vantagem competitiva. A equipe de Mir alega
que Pol deveria ter reduzido a velocidade e se mantido na pista, correndo o
risco de perder o pódio para a Suzuki.
Última curva do GP da Styria 2020 (Oliveira, Miller & Espargaro)
Sempre que decisões são tomadas
fora da pista, perde o espetáculo, não só pelo teor, mas por causa de seus
prazos e discrepância nas suas avaliações. Pilotos e equipes reclamam que não
sabem como devem se comportar porque não há uma definição clara.
No último grande prêmio, Styria,
todas as equipes e pilotos das três categorias foram avisados que haveria maior
rigor com padrões e comportamentos, para evitar incidentes como o que aconteceu
entre Zarco e Morbidelli no fim de semana anterior. A pilotagem irresponsável seria penalizada.
O que caracteriza pilotagem
irresponsável. De acordo com o Regulamento Geral da Competição, versão 2020, “Os pilotos devem conduzir a
moto de forma responsável, que não coloque em risco outros competidores e
participantes, tanto na pista quanto no Pitlane. Qualquer violação desta regra
pode ser punida pelos Comissários da FIM MotoGP”.
De acordo com esta regra, rodar
da volta 4 até a volta 16 com problemas identificados nos freios pode ser
considerado como colocar outros competidores em risco. Seria o caso de
penalizar Maverick Vinales por sua conduta no último GP, que o obrigou a saltar
da moto na aproximação da Curva 3 de Red Bull Ring.
Maverick Vinales brigando com os freios em Red Bull Ring
A competição exige um
regulamento claro para sanções e sua aplicação, no mesmo nível de qualidade do
regulamento técnico que resultou na maior igualdade mecânica da história,
valorizando o talento dos pilotos, estratégias e técnicas de pilotagem.
Já há uma quase unanimidade de
opiniões, inclusive entre os pilotos, que um campeonato sem Marc Márquez é mais
interessante. Porém, mesmo com o retorno do campeão, a temporada de 2021 pode
trazer surpresas. Devido a pandemia a associação de construtores (MSMA) decidiu,
para contribuir para a redução de custos, manter os motores atuais congelados
para a próxima temporada, com exceção da KTM. Com as vitórias de Brad Binder e
Miguel Oliveira, a fábrica austríaca perdeu o regime de concessões, o número de
motores para a próxima temporada será limitado a 7 por piloto (supondo que o
calendario seja completo) e testes com os principais pilotos da equipe passam a
ser proibidos. Antes do GP da Áustria a
MSMA concordou que a KTM pudesse alterar seus motores, porque há o risco que os
atuais não suportem o aumento de quilometragem necessário por perderem o número
de unidades de alocação (as equipes em regime de concessões podem usar até 9
unidades na temporada, para a KTM este número reduz para 7 em 2021). Esta
exclusão da regra permite que a KTM possa, não só melhorar a especificação
atual, como criar um motor totalmente novo, enquanto todos os outros estão
congelados. Pode ser um fator a mais para complicar os prognósticos da próxima
temporada.
As regras publicadas no fim de
agosto especificam:
O fabricante que está abrigado
no regime de concessões em 2020 e perder esta característica em 2021 estará
sujeito ao regulamento de homologação do motor desde a primeira prova da
temporada. A especificação deve ser apresentada ao diretor técnico da MotoGP e
os motores lacrados antes da primeira prova.
Equipes que utilizam equipamentos KTM – A oficial de fábrica e a independente Tech3
Nenhum comentário:
Postar um comentário