Déjà vu é
um galicismo que
descreve a reação psicológica da ideia de que já esteve em determinada
situação, o evento que está sendo vivenciando já aconteceu antes. O termo é uma
expressão da língua francesa que
significa: "Já visto”.
O
início desta temporada atípica é um déjà vu do campeonato mundial de 2017. Contextualizando,
2 anos antes em 2015, a equipe oficial da Yamaha conseguiu seu último mundial
com uma disputa feroz entre os pilotos oficiais da fábrica nipônica. Jorge
Lorenzo, que conquistou o campeonato, foi acusado por Valentino Rossi de ter
formado um complô com Marc Márquez para evitar o seu 9º título. Este fato deteriorou
a harmonia nos boxes da equipe e gerou um clima belicoso nos boxes em 2016 e,
no final da temporada, o espanhol de Mallorca mudou para a Ducati. Agindo com
rapidez direção da Yamaha contratou o então piloto líder da Suzuki, Maverick
Vinales, para compor com Rossi a representação oficial de fábrica no binômio 2917/2018.
Vinales, que já havia obtido sua primeira vitória em 2016 com a Suzuki,
conseguiu um início de temporada perfeito na Yamaha, dominou os testes
pré-temporada e venceu com autoridade as duas primeiras etapas (Catar e Rio
Hondo). Os mais afoitos previram o fim da superioridade da Honda na MotoGP, um
novo campeão pilotando uma Yamaha havia surgido. O resto da temporada contou
outra história. No final das 18 provas Marc Márquez da Honda venceu o
campeonato e só foi desafiado pela Ducati de Andrea Dovizioso. Maverick Vinales
ficou com a terceira colocação a 68 pontos do líder. Detalhe, 2017 foi a
temporada que marcou a última vitória (Assen) de Valentino Rossi na categoria.
Este
ano a história se repete. O francês Fabio Quartararo dominou sem oponentes as
primeiras etapas do mundial deste ano (ambas as corridas em Jerez). Depois de
duas vitórias convincentes e com o acidente que tirou Marc Márquez da
competição, a via parecia aberta para coroar um novo campeão, com uma Yamaha em
uma equipe satélite. Até a pouca idade do francês foi lembrada para citar uma possível
reedição do fenômeno Márquez. O próprio Quartararo em conversas informais dizia
que estava tomando cuidados redobrados porque o seu maior adversário este ano
seria a Covid-19.
As
provas em circuitos não tão favoráveis à extraordinária velocidade de curva da
Yamaha contam uma história diferente. O primeiro acidente de percurso para o
piloto da Petronas aconteceu em Brno (República Checa), onde sua moto fracassou
e ele obteve apenas a 7ª colocação, enquanto seu colega de equipe chegou em 2º
lugar. A maionese desandou em Red Bull Ring, onde seu desempenho caiu para 8º
no primeiro GP e 13º na segunda prova. A reação de Quartararo foi o padrão destas
ocasiões, culpou o equipamento. A liderança folgada que se desenhava nas duas
provas iniciais foi drasticamente reduzida, agora apenas 4 pontos o separam das
Ducati de Dovizioso e Miller.
A boa
notícia para os pilotos que ambicionam o título deste ano é que Marc Márquez
deve perder as 2 ou 3 próximas provas, resultado de sua insistência em voltar a
competir sem ter a fratura consolidada. As más notícias são mais numerosas, a
KTM está em uma crescente evolução, não só com os pilotos da equipe oficial, um
da satélite Tech3, Miguel Oliveira, conseguiu uma vitória na última etapa. Pol
Espargaro tem apresentado um ritmo consistente de prova e obter bons resultados
é só uma questão de detalhes, lembrando que foi envolvido em dois incidentes em
Brno e na primeira prova da Áustria. A Suzuki, embora sem contar com Alex Rins
em plena forma, disputou em condições de igualdade com os motores V4 em Red
Bull Ring, Joan Mir pilotou um equipamento com condições de desafiar os líderes
na segunda prova e foi prejudicado com a paralização da prova pela bandeira
vermelha. A Ducati já venceu nesta temporada e as satélites Pramac (Miller) e Avintia (Zarco) são assíduos na disputas
pelas primeiras colocações.
Oliveira, Miller & Espargaro na última curva – Styria 2020
Depois de 5 etapas neste estranho campeonato, uma constatação é evidente,
a dinâmica da MotoGP está diferente. Quando Marc Márquez está no grid, as
chances de pódio dos outros pilotos reduzem em 1 terço. No ano passado a
campeão esteve presente no pódio 17 vezes em 18 GPs e abriu uma diferença de
mais de 150 pontos sobre o segundo colocado, lembrando que todos os que
acompanham a MotoGP são unânimes em dizer que a sua Honda não era a melhor moto
do grid. O histórico do piloto espanhol justifica a fama de ser um ponto fora
da curva. A sabedoria popular ensina que que quando o gato não está presente os
ratos tomam conta. As disputas nesta temporada estão muito equilibradas, metade
do grid tem legítimas aspirações de vitória Quatro vencedores em cinco provas
mostram que é grande a disputa. O último
pódio na Áustria, com duas KTM e uma Ducati, foi a primeira vez em 47 ano em
que não tinha um representante de uma fábrica japonesa (o GP da Suécia em 1973
foi de duas MV Agusta italianas e uma
Konig alemã).
Em
1999 quando Mick Doohan sofreu o acidente, por coincidência em Jerez, que
encerrou sua carreira um fenômeno semelhante aconteceu. Houve seis vencedores
diferentes em 16 GPs. Sem a presença de Doohan, o pódio mais próximo de todos
os tempos aconteceu na Austrália em 1999, apenas 0,124 segundos separaram o
vencedor do 3º colocado. Em 2020 já houve 4 vencedores em 5 provas, resultado
que comprova que os pilotos de pelo menos 5 fabricantes diferentes (a Aprilia
ainda não está no nível das outras) tem condições de vencer.
Um
outro indicativo que os equipamentos estão andando mais próximos é o número de toques,
acidentes e incidentes que aconteceram na MotoGP nos últimos três fins de
semana (Brno e Red Bull
Ring).
A tendência é que esta situação seja mantida até a última semana de novembro.
Bandeiras vermelhas decidiram a prova
As
bandeiras vermelhas foram decisivas nas duas etapas de Red Bull Ring. Na
primeira prova deu fôlego para Andrea Dovizioso que estava apagado e de certa
forma estava prejudicou Pol Espargaro, que estava em ritmo excelente abrindo na
liderança. Neste último fim de semana possibilitou a correção de um erro de
escolha de Miguel Oliveira, que largou com o pneu dianteiro médio e nas
primeiras voltas sentiu que não era adequado. Durante a bandeira vermelha
trocou para o composto hard que melhorou em muito o desempenho da sua KTM. O
desfecho da prova também foi influenciado por um erro de sinalização dos boxes,
que induziu Pol Espargaro a uma alteração no modo de conduzir a moto. O box
sinalizou na última volta que ele estava +0 na frente de Miller. O cronometro
na verdade indicava que havia alguma distância entre eles. Baseado na
informação recebida o piloto adotou uma linha defensiva, utilizando um percurso
diferente do que estava fazendo e freando onde havia menos borracha na pista. Pela
frenagem não ser tão eficiente acabou abrindo demais uma curva e foi
ultrapassado. Conseguiu recuperar a liderança, mas voltou a abrir demais na última
curva, desta vez induzindo Jack Miller a cometer o mesmo erro e ambos
entregaram a vitória para Miguel Oliveira.
Maverick Vinales – Nervos de aço
Lupcínio
Rodrigues, cantor e compositor brasileiro conhecido por ter inventado a dor de
cotovelo, descreveu em uma das suas composições o tipo ideal de piloto para a
MotoGP: “Pessoas com nervos de aço”. O acidente que causou a bandeira vermelha
na última etapa aconteceu com o piloto da Yamaha Maverick Vinales. O Red Bull
Ring pode ser definido como 3 km de arrancada com um miolo, as retas do
autódromo permitem velocidades de mais de 300 km/h. Quando se aproximou do
final da reta mais veloz, o piloto descobriu que estava totalmente sem freios e
um choque frontal com a proteção de ar que antecede a defensa metálica era
inevitável. Vinales não hesitou, apesar da velocidade, (segundo a telemetria a
230 km/h) pulou da moto em movimento e
deslizou pelo asfalto e brita, enquanto sua Yamaha se chocava violentamente com
a proteção. O equipamento ficou
destruído, o piloto íntegro. A Brembo, fornecedora da Yamaha havia recomendado
que todos os protótipos deveriam usar o novo sistema de freios desenvolvido
para 2020, com pinças maiores e melhor desempenho. A moto de Vinales era a
única da fábrica que não estava utilizando este novo mecanismo.
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