terça-feira, 10 de março de 2020

MotoGP – Reversão das expectativas





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Otavio Gouveia de. Bulhões foi ministro da fazenda no governo transitório de Ranieri Mazzilli depois que o congresso nacional declarou a vacância da presidência em 1964, e foi confirmado pelo presidente Castelo Branco, que dirigiu o Brasil entre 1964 e 1969 no primeiro período dos presidentes militares. Foi criador do Banco Central e das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTNs), o indexador da economia que ajudou a acabar com hiperinflação que causava erosão da moeda nacional. Uma contribuição marcante de Gouveia de Bulhões foi pregar a Reversão das Expectativas, um trabalho de convencimento aos empresários e ao público em geral de que as coisas neste país podem dar certo. Temos que erradicar este tipo de Complexo de Vira-latas que imagina que todas as iniciativas que demandem muitos recursos sejam obrigatoriamente uma fonte interminável de trapaças.



Em maio do ano passado foi anunciada, com a presença do presidente da república, a assinatura de um contrato com a Dorna, entidade com sede na Espanha e detém os direitos de comercialização da MotoGP, para o Rio de Janeiro hospedar uma etapa do mundial de motociclismo a partir de 2021, em um Autódromo a ser construído em General Deodoro. Foi uma descrença geral. Com exceção de uns poucos, a maioria dos tupiniquins leu nas entrelinhas da reportagem que estava em curso mais uma oportunidade de assalto aos cofres públicos com uma obra faraônica. Ainda está na lembrança dos brasileiros a farra dos estádios da Copa de 2014, com a construção de elefantes brancos por todo o país. A rigor, as duas únicas construções que não fizeram a alegria dos empreiteiros neste evento foram os dois estádios particulares, o Beira Rio do Internacional de Porto Alegre e Arena da Baixada do Athlético Paranaense em Curitiba.



Contra a construção do circuito do Rio de Janeiro houve até uma frase lapidar do hexa campeão de F1, Lewis Hamilton: “Se uma única árvore tiver que ser derrubada o empreendimento não se justifica, até porque o Brasil já existe o Autódromo de Interlagos”. Hamilton não se importa com nenhum tipo de evento esportivo motorizado que não seja a Fórmula 1, o fato de interlagos em dois anos registrar quatro óbitos em provas de motovelocidade em modo algum o incomoda.



No início deste ano os aficionados do esporte de duas rodas foram surpreendidos (alguns nem tanto) com a notícia que a emissora que transmitiu o mundial de motos nos últimos anos não renovou o contrato para 2020, acabando com a área que cuidava do esporte, inclusive demitindo seus profissionais especializados. Na ocasião foi noticiado que as transmissões não trariam retorno financeiro e que, portanto, não tinham viabilidade econômica. Esta semana surgiu a notícia que Consórcio Rio Motorsports, que venceu a concorrência para construção de autódromo em Deodoro, teria contribuído para viabilizar a transmissão desta temporada por um canal de TV fechada. Com certeza é uma maneira de manter o interesse pelo esporte até o novo autódromo ficar pronto. Importante, ao que se saiba nenhum centavo público foi utilizado nesta empreitada. Cinquenta e seis anos depois da pregação de Gouveia de Bulhões, as expectativas estão sendo revertidas, um investimento substancial para gerar lucros para grupos privados pode prescindir da necessidade de dinheiro público.



Um dos fatos que que fazem da MotoGP um espetáculo diferenciado é o fato de protótipos concebidos e construídos com projetos distintos, com seis fabricantes distribuídos em três nacionalidades, conduzidos por 24 pilotos diferentes, percorrem um circuito perto de cinco quilômetros com diferença de milésimos de segundo. Os equipamentos são construídos no estado da arte da tecnologia, os propulsores embora obedeçam uma limitação de número de cilindros e capacidade cúbica, são conceitualmente diferentes. Alguns utilizam cilindros montados em V, outros em linha, muitos preferem o comando pneumático de retorno das válvulas (as molas não são suficientemente rápidas), outros utilizam meios mecânicos (desmodrômicos). A Yamaha utiliza uma configuração Crossplane, que em tese é inviável para os 4 cilindros devido à alta vibração gerada. A empresa patenteou uma tecnologia com materiais especiais na concepção de bielas, virabrequim e o uso de contrabalanços que reduziram drasticamente essa vibração, fazendo seu motor o mais moderno da categoria.



A Federação Internacional de Motociclismo é uma entidade que promove e administra competições motorizadas sobre duas rodas, representa mais de 111 federações nacionais distribuídas em seis regiões continentais. A FIM sempre esteve envolvida em muitas atividades relacionadas com a segurança e políticas públicas relevantes. A federação foi a primeira entidade desportiva internacional a publicar, em 1994, um Código Ambiental e, em 2007, criou uma comissão específica para apoiar o uso de veículos motorizados de duas rodas em práticas esportivas entre mulheres.



É óbvio que algumas entidades vão tentar impedir a construção do novo autódromo utilizando todas as chicanas jurídicas que tem direito. Pode acontecer até que uma entidade ambientalista identifique uma raríssima espécie de formigas com risco de ser extinta e resolva exigir que a área seja declarada de proteção ambiental.  As ONGs de preservação do meio ambiente ainda não identificaram a óbvio, a questão que mais degrada o planeta onde vivemos é a pobreza. Sociedades pobres não conseguem limpar a água que sujam, nem replantar as árvores que cortam. Não existe nenhuma passeata programada ou movimento previsto para apoiar a erradicação da pobreza do planeta.


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