segunda-feira, 19 de agosto de 2019

MotoGP 2019 - Red Bull Ring, esta terra tem dono


Red Bull Ring

O Tratado de Madrid foi assinado em 1750, entre os reis João V de Portugal e Fernando VI de Espanha, com o objetivo de substituir o Tratado de Tordesilhas e pôr fim às disputas sobre limites entre as respectivas colônias sul-americanas. O documento definiu que os territórios seriam de propriedade dos ocupantes e foi o motivo de conflitos entre espanhóis e portugueses na região indígena dos povos guaranis, localizados na nos Sete Povos das Missões, que ocupavam uma enorme área do sul do Brasil e norte da Argentina. Neste contexto surgiu a figura de Sepé Tiaraju, um líder indígena que lutou contra os espanhóis e é conhecido por ser autor da frase: “Esta terra tem dono”.
A euforia que tomou conta dos boxes da Ducati no fim do GP da Áustria depois da vitória fantástica de Andrea Dovizioso foi surpreendente. Houve uma emoção incontida de todos os integrantes da equipe, com exceção talvez de Danilo Petrucci, pela confirmação do mantra de Sepé Tiaraju, “O circuito de Red Bull Ring tem dono”. Todo o sentimento contido pelo massacrante desempenho de Marc Márquez no fim de semana até então foi extravasado, vitórias no circuito de propriedade marca de energéticos são uma exclusividade da Ducati.

Red Bull Ring tem características peculiares, é o circuito mais curto do calendario (4.318 km) e o formato de sua pista foi definido por um jornalista especializado em esportes motorizados como “um quadrado com um dente em um dos lados”. A volta de um protótipo da MotoGP pela pista implica em que por quase um minuto o equipamento fica assentado sobre a banda lateral direita dos pneus, causando uma distribuição assimétrica de calor e desgaste no componente. A topologia e a o desenho das curvas privilegiam a potência do motor e o equilíbrio da Desmosedici GP19, exigem uma técnica de condução mais suave que talvez explique a presença três Yamaha entre os cinco primeiros colocados. Pilotos com estilo mais agressivo, Cal Crutchlow e Jack Miller, caíram ao tentar acompanhar o ritmo dos líderes.

A prova, à exceção da disputa entre Dovizioso e Márquez que já está se tornando um hábito na MotoGP, teve poucos atrativos. O valor do ingresso pago foi compensado por mais um episódio da série de finais eletrizantes protagonizados entre os dois líderes da atual temporada.  A árdua disputa entre eles começou na largada e quando Márquez, que liderou na primeira curva, precipitou-se e abriu demais a curva 3, Dovizioso que vinha grudado na rabeta da moto do espanhol foi induzido ao mesmo erro e ambos foram ultrapassados, oportunizando uma liderança efêmera para Fábio Quartararo. Depois de 5 voltas a situação ficou estabilizada com #04 e #93 se alternando na primeira colocação. Com a queda de Jack Miller na volta 7, as posições de 3º a 7º adquiriram contornos definitivos, respectivamente Quartararo, Rossi, Vinales, Rins e Bagnaia. Cal Crutchlow e Pol Espargaro se tocaram na 1ª volta e abandonaram. O português Miguel Oliveira conduziu sua KTM para a 8ª colocação, seu melhor resultado na MotoGP, à frente da máquina de Johann Zarco (12º) da equipe oficial.

Assim como aconteceu no Red Bull Ring e Motegi em 2017, em Losail e Buriram em 2018 e no início da temporada em Losail este ano, Dovizioso e Márquez contornaram a última curva praticamente juntos, o pneu traseiro do espanhol entrou em wheelspin, perdeu tração e a Ducati do italiano recebeu a bandeira quadriculada em primeiro lugar, liberando uma onda de euforia nos boxes da equipe. A esquadra de Borgo Panigale estava sob pressão, a cordialidade entre o diretor Gigi Dall’Igna e do piloto Andrea Dovizioso sinaliza desgaste, uma vitória no circuito considerado caseiro pode colaborar para reduzir a tensão. Na área reservada para a representação italiana, à exceção de Danilo Petrucci, 9º colocado na prova, todos externavam uma felicidade extrema.

Embora a vitória tenha sido de Dovizioso, o resultado da Áustria acentua a tendência de mais um título mundial para Marc Márquez. Ele obteve 230 dos 275 pontos possíveis nas 11 etapas realizadas, venceu 6 e marcou 4 segundos lugares. Dovi, o postulante ao título mais próximo precisa obter uma média de 8 pontos mais que ele em cada um dos 8 GPs que restam, o que é muito improvável (não impossível). O foco dos jornalistas que cobrem a MotoGP está centrado em possíveis mudanças para a próxima temporada. A única alteração confirmada (depois da prova) é a saída amigável de Johann Zarco da KTM no final deste ano.

Um dos princípios fundamentais da Física, a Lei da Atração Universal, foi expressa por Isaac Newton da seguinte forma: “Tudo acontece como se a matéria atraísse a matéria na razão direta de suas massas e na razão inversa do quadrado das distâncias”. Transpondo este enunciado para a MotoGP, tudo acontece como se este mundial tenha uma definição prematura, o que cria um ambiente propício para a difusão de notícias fantasiosas sobre pilotos e equipes. A maioria dos boatos inclui o espanhol Jorge Lorenzo, que é cotado tanto para a equipe oficial da Ducati como para a satélite da Yamaha, embora piloto e equipe tenham reiterado em diversas oportunidades que ele cumpre seu contrato com a Honda até o fim de 2020. Lin Jarvis, diretor da Yamaha, contribuiu para a onda de desinformação ao declarar que “A Yamaha perdeu o rumo depois da saída de Lorenzo em 2016”. Todos lembram das atuações de Johann Zarco em 2017 e 2018 na Tech3 com a moto que pertenceu ao espanhol na temporada anterior.

A aposentadoria de Valentino Rossi, Fábio Quartararo na Yamaha oficial, Jack Miller fora da Pramac e até uma possível promoção de Alex Márquez para a MotoGP já renderam manchetes, todas com escassas chances de confirmação. Existem especulações que Gigi Dall’Igna está de mudança para a KTM, a equipe austríaca também estaria preparando uma proposta irrecusável para tirar Marc Márquez da Honda no final de seu contrato atual.

A única certeza depois da última etapa é que, assim como a hegemonia em Sachsenring é de Marc Márquez, Red Bull Ring tem dono, é uma pista Ducati.

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