Alex Rins & Marc
Márquez na linha de chegada – Silverstone 2019
Um
erro comum quando se analisa provas da MotoGP é imaginar que a rigidez do
regulamento, orientado para aumentar a competitividade, determine que todos os
protótipos estejam baseados na mesma concepção. Cada fabricante opta por uma
linha de desenvolvimento centrada em princípios e conceitos próprios. A escolha
dos motores, por exemplo, define se o fabricante busca produzir uma moto com
excelente resposta em baixas e medias rotações (V4), ou uma com maior
estabilidade em curvas (4 cilindros em linha). Na temporada atual Ducati,
Honda, Aprilia e KTM optaram pelo V4, Yamaha e Suzuki escolheram o 4 em linha.
As diferenças entre os dois conceitos explicam os motivos das constantes
reclamações de Andrea Dovizioso (Ducati, V4) por mais velocidade em curvas e de
Valentino Rossi (Yamaha, 4 em linha) por melhor aceleração e velocidade final.
Algumas
características são importantes enquanto um protótipo está sendo
desenvolvido. A RC213V foi concebida em 2012 seguindo a linha de explorar
o bom desempenho do motor (potência e torque) em baixas rotações, ideal para
características de para/arranca, que permite que os pilotos Honda ganhem tempo
freando mais tarde e retomando a velocidade mais rápido. A vantagem de Marc
Márquez sobre seus colegas de equipe é que ele consegue alguma velocidade
adicional nas curvas combinando o wheelspin (derrapagem) da roda traseira com
um maior ângulo de inclinação. A RC213V é um protótipo adequado para a maioria
dos layouts dos circuitos que hospedam a MotoGP.
O
projeto da GXS-RR da Suzuki é mais recente, ficou pronto em 2014 e é centrado
nas propriedades do motor de 4 cilindros em linha, mais compacto, que facilita
o setup para distribuição de peso e deixa a moto mais ágil em curvas.
Motores com cilindros em linha obrigatoriamente utilizam eixo de manivela mais
longo, cuja inércia produzida contribui para manter a moto em seu arco quando
está realizando um contorno.
Durante
a semana que antecedeu o GP da Grã-Bretanha, Marc Márquez disse que seu
objetivo era terminar a prova na frente de Dovizioso e em mais de uma ocasião
declarou que temia o desempenho das Yamaha. Não estava errado, sua Honda foi a
única V4 nos Top Five, lembrando que outra moto com cilindros em linha e
chances de bom desempenho, de Fabio Quartararo, abandonou a prova prematuramente.
A
vitória de Alex Rins em Silverstone foi merecida, o piloto da Suzuki assumiu a
perseguição a Márquez desde a primeira volta, nunca permitindo ao líder do
campeonato abrir uma diferença confortável. Enquanto a sua moto fluía através
das curvas do circuito conservando os pneus, o protótipo da Honda parecia estar
sofrendo crises de Alzheimer na saída de curvas, chacoalhava muito exigindo do campeão um esforço brutal e
muita perícia para manter o controle. Márquez, ao receber a sinalização em seu
painel, confirmada pelo aviso da placa na primeira volta, “DOVI OUT”, poderia
optar por uma corrida mais conservadora, afinal qualquer pontuação significaria
um acréscimo em sua vantagem no campeonato. O DNA do campeão, entretanto, falou
mais alto, ele manteve em toda a prova o objetivo da vitória, que só foi
frustrado nos últimos metros.
Embora com um desfecho igual, a
vitória de Rins em Silverstone não guarda semelhança com a obtida por Dovizioso
em Red Bull Ring. Na Áustria Márquez havia escolhido mal os pneus e ficou sem
aderência na última curva. Em Silverstone um dos aspectos mais importantes foi
a largura da pista, na penúltima curva o atual campeão do mundo optou por uma
linha defensiva para não permitir que a Suzuki utilizasse sua maior velocidade no
contorno, Rins manteve a linha eterna e aproveitou o melhor estado de seus
pneus para preparar o ataque final. Foi a segunda vitória da Suzuki no circuito
inglês, sua primeira depois de retornar para a MotoGP foi obtida por Maverick
Vinales em 2016.
A disputa entre os líderes eclipsou a
prova dos demais concorrentes, que foi bastante disputada até consolidar as
colocações finais. As Yamaha de Vinales (3º), Rossi (4º) e Morbidelli (5º)
comprovaram a adequação dos motores com cilindros em linha ao circuito. Cal
Crutchlow, o piloto de casa, levou a segunda Honda para a 6ª posição, à frente
das Ducati de Petrucci (7º) e Miller (8º). Pol Espargaro classificou a KTM na
9ª posição e Andrea Iannone com a Aprilia foi o décimo. Os 6 fabricantes
ficaram representados no Top
Ten. Também merecem
citações a 14ª colocação de Jorge Lorenzo, depois de uma longa ausência e ainda
não totalmente recuperado. Cinco pilotos não terminarem a prova.
Diversas mídias noticiaram uma
possível esperteza de Márquez para obter a sua 60ª pole, aproveitando o vácuo
de Valentino Rossi nos últimos minutos do Q2. O próprio Marc reconheceu que
usou a estratégia andar atrás do italiano, mas lembrou que seu tempo foi quase
meio segundo mais rápido, que é equivalente na pista a uma
distância percorrida de quase 25 metros.
Carlos Alberto
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