sexta-feira, 23 de março de 2018

MotoGP - Atores Coadjuvantes


Todos os filmes têm seus personagens principais, os atores em torno dos quais a principal trama do roteiro é desenvolvida. Entretanto, para a história ficar menos árida e mais verossímil, o diretor dilui as atenções com histórias paralelas montando cenários com vários atores coadjuvantes, que contribuem para o desenrolar da história principal.
Uma prova da MotoGP é semelhante, as atenções naturalmente ficam concentradas nas principais equipes, as que dispõem de maior orçamento, e nos pilotos que disputam a liderança. Entretanto, um GP não despertaria interesse se fosse disputado apenas por quatro ou cinco participantes. Em anos recentes a organizadora do mundial utilizou subterfúgios como as classes Open e CRT, com custos reduzidos, para incluir mais equipamentos no grid. A obrigatoriedade do uso da eletrônica padronizada e outras medidas endereçaram custos menores e maior competitividade, criando um produto mais emocionante para espectadores e mais atrativo para a TV.
A competição hoje inclui 6 marcas, quatro com grandes orçamentos e possibilidades reais de vitórias e duas, por enquanto, coadjuvantes. O início da temporada do Catar foi promissor, as três primeiras colocações foram obtidas por três equipamentos diferentes, Ducati Honda & Yamaha, separados por menos de 1 segundo. A Suzuki estava apresentando um bom desempenho e foi penalizada por uma queda de Alex Rins.
Dois fabricantes ficaram aquém das expectativas, KTM e Aprilia.
O novo motor da RS-GP da Aprilia mostrou um bom desenvolvimento na geração de potência, mas apresentou um defeito grave, em uma pista que não é muito exigente em relação ao consumo de combustível, Aleix Espargaró acabou parando com uma pane seca. O piloto italiano ficou surpreso porque sua estratégia era economizar nas primeiras voltas para ter reservas para poder gastar no final da prova, entretanto o seu alarme de consumo excessivo sinalizou já na terceira volta. Espargaró e Scott Redding compartilharam o sentimento de que a aderência traseira é deficiente. Espargaró penou nas primeiras voltas, Redding só identificou alguma melhora nas voltas finais, quando já não tinha mais o que fazer.
A etapa do Catar foi ainda pior para a KTM. O início da fábrica austríaca em 2017 foi claudicante, mas a partir da etapa da Holanda a equipe brigou por uma classificação entre os “top ten”, sugerindo a possibilidade de almejar nesta temporada uma colocação entre os cinco primeiros. Em Losail a RC16 esteva em dificuldades para marcar pontos. Pol Espargaró, o melhor dos dois pilotos KTM, apesar de descontado por lesão nas costas resultado de um acidente nos testes em Sepang, ele estava envolvido em uma disputa pela 15ª colocação quando foi abatido por um problema de eletrônica. Seu companheiro de equipe Bradley Smith terminou na 20ª colocação, 37,64 segundos atrás do vencedor.
O grande problema é que obter bons resultados é vital para a KTM, especialmente em uma época onde está os pilotos estão considerando suas opções para o próximo ano. Em tese a KTM devia estar no topo da lista para os que buscam um lugar ao sol no ultra disputado mercado de pilotos. Maus resultados como este bem podem dissuadir exatamente o tipo de piloto que eles precisam atrair.
A rádio paddock está fervilhando nesta época. Johann Zarco já explicitou que quer ser um piloto de fábrica e é considerado um forte candidato para a KTM, mas esbarra em uma exigência do francês que quer uma equipe de fábrica onde possa ser competitivo e lutar pelo título. Comenta-se que a Repsol Honda teria mostrado interesse em Zarco e, se isso for verdade, a KTM tem que ser muito melhor para atrair o francês.
O nome de Johann Zarco não é o único que está sendo comentado à boca pequena. Comenta-se que Andrea Dovizioso analisa propostas da Repsol Honda, fato que muitos interpretam como um fake criado por seus negociadores para melhorar a sua posição de na mesa de negociações com a Ducati. O até então fracasso de Jorge Lorenzo também é explorado com diversas possibilidades. Alguns vão mais longe, imaginam que a carreira de Dani Pedrosa na Honda esteja nos estertores, não faltam candidatos para a sua vaga.
Em termos de negociação entre equipes, a única certeza é que a Tech3 abandona a Yamaha para adotar a KTM. Até poucas semanas atrás era considerado seguro que a Marc VDS, desgostosa com a decisão da HRC em privilegiar a satélite LCRL, estaria fechando com a Yamaha, agora já se comenta que há negociações também com a Suzuki.
A tabela abaixo descreve a posição atual dos contratos entre pilotos e equipes. O piloto Francesco Bagnaia embora já com contrato assinado com a Pramac Ducati para o biênio 2019/2020 disputa a Moto2 nesta temporada:

Equipe Piloto Contrato até Temporada
Repsol Honda Marc Márquez 2020
  Dani Pedrosa 2018
Movistar Yamaha Maverick Vinales 2020
  Valentino Rossi 2020
Ducati Corse Jorge Lorenzo 2018
  Andrea Dovizioso 2018
Suzuki Andrea Iannone 2018
  Alex Rins 2018
KTM Bradley Smith 2018
  Pol Espargaró 2018
Aprilia Gresini Aleix Espargaro 2018
  Scott Redding 2018
Yamaha Tech3 Johann Zarco 2018
  Hafizh Syahrin 2018
LCR Honda Cal Crutchlow 2019 (Contrato HRC)
  Takaaki Nakagami 2018 (Contrato HRC)
Marc VDS Honda Franco Morbidelli 2018 [Opção 2020]
  Thomas Luthi 2018
Pramac Ducati Danilo Petrucci 2018 (Contrato Ducati)
  Jack Miller 2018 (Contrato Ducati)
  Francesco Bagnaia 2019/2020 (Contrato Ducati)
Avintia Ducati Xavier Simeon 2019
  Tito Rabat 2018
Aspar Ducati Alvaro Bautista 2018
  Karel Abraham 2018

quarta-feira, 21 de março de 2018

MotoGP – Hermanos, Início de Temporada e Rio Hondo







Brasileiros & Argentinos


Como bom tupiniquim detesto admitir, mas em se tratando do mundial de motovelocidade da Federação Internacional de Motociclismo, os “hermanos” argentinos estão em vantagem. A primeira prova válida pelo mundial realizada fora da Europa aconteceu no circuito Juan & Oscar Gálvez, próximo a Buenos Aires, em 1961. O Brasil hospedou a sua primeira disputa 26 anos depois, no autódromo de Goiânia. Três pilotos argentinos estão listados na relação dos vencedores dos 3.045 GPs oficiais realizados desde 1949, somando 9 vitórias nas categorias 500cc e 250cc. Só dois brasileiros figuram nesta lista, totalizando 8 primeiras posições, 1 com Adu Celso (350cc) e 7 com Alex Barros (500cc & MotoGP). Nos anos de 1961 e 1962 o GP da Argentina coroou na principal categoria, 500cc, Jorge Kissling e Benedicto Caldarella respectivamente, dois pilotos argentinos. Nos GPs disputados em território nacional – Goiânia, São Paulo e Rio - nunca houve a possibilidade de comemorar a vitória de um piloto brasileiro. Este ano um argentino e um brasileiro disputam as categorias de acesso à MotoGP, o argentino Gabriel Rodrigo disputa a Moto3 (5° lugar no Catar) e o brasileiro Eric Granado está inscrito na moto2 (30° em Losail).



Início de Temporada


Uma análise mais abrangente da primeira prova da temporada em Losail indica que os resultados estiveram de certa forma alinhados com os obtidos nos testes de pré-temporada. Os protótipos da Ducati e Honda estão em um nível técnico muito semelhante, portanto o traçado e topologia dos circuitos deve desempenhar um papel relevante na atual temporada. Na próxima etapa em Rio Hondo o desempenho das motos deve ser equivalente, as Honda em tese terão mais facilidades em Austin (Circuito da Américas) e a primeira prova da temporada europeia em Jerez.

A divulgação dos tempos por volta de todos os pilotos na prova de Losail evidencia que Johann Zarco, da Yamaha Tech3, liderou as 17 primeiras voltas e não reduziu o seu ritmo, os demais pilotos que se mantinham próximos aceleraram mais no último terço da prova. Enquanto Zarco manteve seus tempos consistentes por volta de 1,56s, Dovizioso, Márquez e Rossi andaram 6 a 7 décimos mais rápidos.





Rio Hondo

O próximo GP está programado para 08 de abril no circuito Termas do Rio Hondo, um balneário termal situado na província de Santiago del Estero, Argentina. A MotoGP repete pelo quinto ano consecutivo a sua visita anual à America do Sul, depois de ficar ausente por dez anos, desde o último GP Brasil no Autódromo Nélson Piquet em 2004. A história da associação da MotoGP com Rio Hondo está em processo de construção.

Em 2014, quando o circuito foi integrado ao calendário da MotoGP, a Honda iniciou a temporada com um equipamento muito superior aos demais, Marc Márquez venceu os 10 primeiros GPs da temporada, no resumo final do ano as motos Honda venceram 14 etapas, Rossi e Lorenzo com Yamaha dividiram as outras 4.

O GP de 2015 ficou marcado pelo conflito na pista entre Valentino Rossi e Marc Márquez. Em uma disputa pela liderança houve um toque entre a roda traseira do italiano com a roda dianteira do espanhol. Como sempre acontece nestas ocasiões, houve análises controversas. Os oficiais da prova e muitos comentaristas consideraram um incidente normal de corrida, simpatizantes de Rossi culpam a impetuosidade e imprudência de Márquez, alguns críticos principalmente da Espanha entenderam que houve má fé do italiano e citam, como apoio a esta conclusão, um episódio muito semelhante que aconteceu em Laguna Seca em 2008 entre Rossi e Stoner.

Em sua segunda prova como fornecedora exclusiva de pneus para a MotoGP, a Michelin foi traída pelo piso abrasivo da pista de Rio Hondo em 2016. Os pneus originalmente disponibilizados para a prova desgastaram muito rápido nos testes que antecedem ao GP. Como solução emergencial foi necessário a empresa francesa embarcar da fábrica, com urgência, um lote de construção mais robusta e ainda não suficientemente testado. Para o GP não ser cancelado, os organizadores decidiram programar uma seção extra para os pilotos testarem os novos pneus, encurtar o percurso para 20 voltas e exigir uma troca compulsória de equipamentos (flag-to-flag) entre as voltas 9 e 11. Na primeira metade da prova Márquez e Rossi disputaram a liderança em cada metro da pista. Depois da troca de motos, o equipamento de Rossi não apresentou o mesmo rendimento e Márquez venceu com facilidade.

Maverick Vinales foi o nome em evidência no GP de 2017. Depois de liderar com facilidade os testes pré-temporada e vencer o GP de abertura no Catar, Vinales se apresentou como forte candidato ao título ao dominar sem contestação a prova da Argentina. O restante da temporada, entretanto foi uma sequência de horrores para o espanhol.

segunda-feira, 19 de março de 2018

MotoGP - Contratos dos Pilotos (em 19/03/2018)




Equipe Piloto Contrato até Temporada
Repsol Honda Marc Márquez 2020
Dani Pedrosa 2018
Movistar Yamaha Maverick Vinales 2020
Valentino Rossi 2020
Ducati Corse Jorge Lorenzo 2018
Andrea Dovizioso 2018
Suzuki Andrea Iannone 2018
Alex Rins 2018
KTM Bradley Smith 2018
Pol Espargaró 2018
Aprilia Gresini Aleix Espargaro 2018
Scott Redding 2018
Yamaha Tech3 Johann Zarco 2018
Hafizh Syahrin 2018
LCR Honda Cal Crutchlow 2019 (Contrato HRC)
Takaaki Nakagami 2018 (Contrato HRC)
Marc VDS Honda Franco Morbidelli 2018 [Opção 2020]
Thomas Luthi 2018
Pramac Ducati Danilo Petrucci 2018 (Contrato Ducati)
Jack Miller 2018 (Contrato Ducati)
Francesco Bagnaia 2019/2020 (Contrato Ducati)
Avintia Ducati Xavier Simeon 2019
Tito Rabat 2018
Aspar Ducati Alvaro Bautista 2018
Karel Abraham 2018



domingo, 18 de março de 2018

MotoGP – Catar 2018


Andrea Dovizioso & Marc Márquez

Sui generis, único, original, singular, peculiar.

São diversos os adjetivos que podem caracterizar o circuito de Losail em Doha, Catar, cenário a primeira das dezenove etapas do Mundial de MotoGP de 2018. O Circuito Internacional de Losail é uma das melhores pistas do Oriente Médio, a único da região homologada pela FIA e FIM. Pode ser utilizada 24hs por dia, com iluminação planejada para evitar reflexos inclusive com a pista molhada. O circuito não foi construído para fazer bilheteria, é um dos GPs com menor afluência de público em todas as temporadas, até porque está localizado no meio de um deserto e tem uma única arquibancada para espectadores. Foi construído para divulgar o emirado e privilegiar o espetáculo pela TV.

Losail é um circuito curioso para começar a temporada da MotoGP, além de ser a única prova realizada de noite, a Dorna ainda encontrou uma maneira para tornar o evento ainda mais bizarro. Para evitar as gotas de orvalho que se formam após as 21 horas e deixam a pista traiçoeira, redistribuiu o horário das provas. A MotoGP foi a única classe que correu na noite, FP2 e qualificação e prova foram realizadas com iluminação artificial. Moto2 e Moto3 realizaram práticas e disputaram qualificação e corrida durante o dia.

O efeito colateral foi que o novo horário obrigou dois conjuntos de testes em condições radicalmente diferentes. FP1, FP3 e “Warm Up” foram realizadas a durante o dia, com sol, FP2, FP4, qualificação e corrida aconteceram depois de escurecer, com temperaturas significativamente diferentes.

Se o GP de Losail servir como amostra, a temporada de 2018 nos reserva grandes emoções. Os analistas exclusivos de resultados dirão que quase nada mudou. Johann Zarco repetiu a sua tática suicida de configurar o equipamento, uma satélite Yamaha com chassi 2016, para o máximo rendimento nas primeiras voltas e manteve a liderança enquanto teve pneus. A Ducati confirmou que, se fosse um campeonato de pista reta, a temporada já tinha um campeão. As Honda além de apresentaram um progresso enorme sobre a máquina da temporada passada ainda contam com um recurso extra, Marc Márquez. Valentino Rossi, de contrato renovado, mostrou que continua extremamente motivado e competitivo. 

Concentração de Valentino Rossi

As últimas voltas do GP foram frenéticas. Andréa Dovizioso defendendo a liderança só tinha sossego na grande reta onde fazia valer a potência de seu motor. Na parte sinuosa do circuito Marc Márquez grudava na sua rabeta e, fiel ao seu estilo, procurava desestabilizar o italiano tentando ultrapassagens onde era impossível. Na última volta o espanhol atacou pelo lado interno da pista e ultrapassou na freada da última curva, mas foi obrigado a alargar o contorno e sofreu o Xis na aceleração para a entrada da reta.

A vitória de Dovizioso sobre Márquez por 0,027seg comprovou quase que integralmente as observações realizadas nos teste pré-temporada, o progresso da Honda é evidente e a disputa pela liderança até a bandeira final em uma pista complicada para a arquitetura de sua moto não foi gratuita. A Ducati ainda é soberana na aceleração. O resultado das Suzuki foi comprometido pela queda prematura de Alex Rins, que fazia boa prova e chegou a ocupar a 6ª colocação. O terceiro lugar de Rossi a 8 centésimos do líder e a recuperação de Vinales durante a prova foram um alento para a Yamaha, que aparentemente reencontrou o seu caminho.

Os dez primeiros contemplaram três Ducati (1°, 5° e 10°), três Honda (2°, 4° e 7°), três Yamaha (3°, 6° e 8°) e uma Suzuki (9°), mostrando equilíbrio na disputa entre os fabricantes. A Honda de Cal Crutchlow (4°) foi a equipe independente mais bem colocada.

Tito Rabat começou bem 2018, 11ª colocação com a Avintia, à frente do rookie Franco Morbidelli da Marc VDS Honda. As decepções da prova ficaram por conta da KTM que estreou a temporada sem marcar pontos e Jorge Lorenzo, que sofreu uma queda e continua a não justificar o salário que recebe.

A próxima etapa é em Rio Hondo, na Argentina, onde as Ducati e Honda oficiais não se classificaram na temporada passada. O traçado do circuito não penaliza o projeto das Honda e não tem grandes retas para a Ducati fazer a diferença. Um detalhe, no Catar este ano as Ducati falaram mais alto na reta, porém o resultado só era evidente quase no final, ao contrário do ano passado onde a diferença de motor era visível antes da primeira metade.

A MotoGP deste ano vai complicar a vida dos videntes e adivinhos.

 

quinta-feira, 15 de março de 2018

MotoGP – Temporada 2018





Por cinco temporadas seguidas, entre 2011 e 2015, todas as provas da MotoGP foram vencidas por pilotos das equipes oficias da Honda e Yamaha, com uma única exceção em 2011 (Ben Spies em Assen). Em 2016 a utilização compulsória do pacote eletrônico padronizado e a mudança do fornecedor exclusivo de pneus criaram uma temporada estranha, a proibição do software proprietário dos fabricantes fez toda a diferença. A Yamaha, no início da temporada, afirmou com todas as letras, que o pacote da Magneti-Marelli representava um retrocesso de dez anos. Por paradoxal que pareça, afinal Marc Márquez venceu a temporada com três etapas de antecedência, a competitividade entre as equipes aumentou exponencialmente, com nove pilotos diferentes em motos de quatro fábricas ocupando o degrau mais alto do pódio. As surpresas continuaram em 2017, Andrea Dovizioso, um italiano de 31 anos que disputa o mundial desde 2001 e estreou na principal categoria em 2008 até então só tinha vencido duas vezes, em acumulou 6 vitórias na temporada. O título só foi decidido na última prova do ano. Johann Zarco, um “rookie na MotoGP pilotando uma Yamaha versão 2016 por uma equipe satélite (Tech3) conseguiu em diversas provas andar na frente da equipe de fábrica.

Tudo acontece como se essa tendência continue em 2018. Os testes conjuntos pré-temporada mostraram quatro ou cinco fabricas e pelo menos 10 pilotos com efetivo potencial para alcançar vitórias.

O que esperar da próxima temporada?

O conjunto de testes oficiais indica que a RC213V tem o pacote mais completo. A moto tem potência para rivalizar com a velocidade máxima das Ducati e a curva de aceleração melhorou sensivelmente. Bons resultados não dependem mais da brutal capacidade de frenagem e dos milagres protagonizados por Marc Márquez. A Honda focou os testes quase exclusivamente no motor e aerodinâmica, duas áreas cujo desenvolvimento é congelado no início do ano.

O equipamento da Ducati continua imbatível em linha reta e tem progressos expressivos em seu comportamento quando a moto muda de direção. A fábrica trabalhou especialmente na carenagem, uma nova aerodinâmica que forneça maior “downforce” nas curvas.

Se os testes têm algum significado, a Suzuki está à frente da Yamaha para se tornar a terceira melhor moto no grid, com desempenho não muito distante da Honda e Ducati. A Suzuki perdeu as concessões em 2017 em função da vitória de Vinales em 2016 e, por ter trocado os dois pilotos, perdeu também a referência para a escolha do motor de 2017. Tiveram um ano para corrigir o problema e estão iniciando 2018 bem melhor equipados.

A Yamaha está administrando uma Escolha de Sofia, indecisa sobre orientar o desenvolvimento da M1 para agradar a Valentino Rossi ou atender Maverick Vinales. Os dois conseguem estar sempre em desacordo, se alguma alteração dá maior confiança de Valentino Rossi no controle da roda dianteira, Vinales reclama da aderência traseira. A M1 ainda se ressente do desgaste dos pneus, a Yamaha é muito boa com pneus novos, mas do meio para o fim da s provas a máquina fica complicada para administrar. A engenharia tem investido muito na eletrônica.

Ironicamente, o único piloto da Yamaha que não está reclamando o tempo todo é Johann Zarco. O francês testou o chassi 2016 e 2017, imediatamente decidiu ficar com o mesmo que usou o ano passado. Para surpresa dos engenheiros seu desempenho foi consistente em todos os testes. Seu segredo, copiar o estilo de pilotagem de Lorenzo inclinando a moto o tanto quanto possível.

Aprilia e KTM são os chamados “Outsiders”.

O motor da Aprilia continua sendo o grande problema, a entrega de potência é muito violenta, de certa maneira semelhante aos antigos dois tempos. Por sorte a fábrica tem as concessões disponíveis para as equipes sem pódio no último ano e podem trabalhar tentar domesticar o motor durante da temporada.

A KTM está evoluindo rapidamente, principalmente porque estão ainda atrás. Recuperam rápido o atraso, estavam três segundos por volta mais lentos por volta no Catar em 2017, baixaram para décimos de segundo na prova de Valência. A KTM precisa principalmente de refinamento, melhorar a eletrônica para domar o poder da RC16, ajustar o chassi para ajudar a moto a contornar curvas e trabalhar com a suspensão um pouco mais suave para o pneu traseiro. Resumindo, a moto precisa mais de tempo de pista.



Marc Márquez está em um período excepcional de sua carreira. Entendeu que a busca pela volta mais rápida nos testes implica em muito tempo nos boxes e passou a se concentrar mais em desenvolver o equipamento para corridas. Ninguém fez mais “long runs” que ele nos testes oficiais. Os tempos onde sua maior preocupação era exclusivamente ver seu nome no topo da tabela de tempos em cada sessão ficaram no passado. O atual campeão sacrifica a glória do curto prazo para melhorar sensivelmente suas chances no longo prazo. A saída de Livio Suppo e ascensão de Alberto Puig no controle da equipe Repsol Honda abriu um canal de comunicação do piloto direto com os engenheiros de desenvolvimento, eliminando intermediários e ruído na comunicação. Márquez é considerado por muitos como o piloto mais talentoso do grid, com mais maturidade e uma moto significativamente melhor, vai ser o adversário de ser vencido.

Andrea Dovizioso apostou em 2017 na consistência e sabe que perdeu o campeonato quando sua regularidade foi interrompida, O italiano acumulou vitórias e pódios na maioria das pistas, entretanto quando as coisas deram errado, ele foi muito mal, ficando abaixo da 10ª colocação. O objetivo deste ano é ser coerente e estar sempre entre os cinco primeiros.

Normalmente pilotos de equipes satélite não são candidatos ao título, mas em 2018 há uma chance realista que isto possa acontecer. Na temporada passada Johann Zarco chegou ao pódio três vezes, em duas perdendo a vitória nas últimas voltas. O francês foi consistente em todos os testes e confessou que perdeu a última prova em Valência por um detalhe. Zarco conta que de todos os pilotos que disputam as primeiras posições Marc Márquez é o que oferece menor resistência para ser ultrapassado. Ele tem plena consciência que pode recuperar a posição mais tarde. Em Valência ao percorrer pela última vez a reta abrindo a última volta, o francês percebeu uma moto laranja grudada em seu equipamento e decidiu não arriscar, sabia que Márquez tentaria passar de qualquer jeito. Quando percebeu que era Pedrosa e não o campeão do mundo, saiu alucinado atrás e não conseguiu recuperar a liderança.

Se bater Dovizioso já é complicado, bater Márquez parece quase impossível, vencer ambos em uma satélite Yamaha necessita algo perto de um milagre. Para acontecer um milagre precisa de boa vontade do santo, neste caso a Yamaha, que não parece estar muito satisfeita.  A Tech3, equipe de Zarco, já anunciou a troca de fornecedor de equipamento para KTM em 2019, não é razoável esperar muita ajuda da fábrica, a menos que ele mostre o potencial para criar problemas para Honda e Ducati. Afinal para a Yamaha, ser batida por uma satélite é melhor que ver os concorrentes vencendo.

Valentino Rossi e Maverick Vinales não entram na temporada só para competir, o objetivo é vencer. Rossi provavelmente assine por mais uma ou duas temporadas, buscando ser o piloto mais vitorioso da história do motociclismo esportivo (faltam sete vitórias), embora muitos considerem que já é hora dele abrir caminho para jovens talentos. Na prática Rossi ainda é muito rápido, competitivo e muito motivado, venceu em Assen na última temporada e não há razão para acreditar que se sairá pior em 2018.

Seu colega de equipe, Maverick Vinales, aparenta estar atordoado e confuso. Durante os períodos de testes esteve perdido o tempo todo, alternando voltas mais rápidas um dia e fora do “top 10” no dia seguinte. Ele e Rossi decididamente não falam o mesmo idioma, ele culpa o italiano pela moto perder a competitividade na temporada passada, quando teve um início arrasador.

Se um piloto satélite com chance pelo título parece improvável, dois é quase uma insanidade total, entretanto é isto que acontece com Zarco e Crutchlow. O piloto da LCR Honda tem equipamento e participa ativamente do desenvolvimento da RC213V.  Nos períodos de testes seu desempenho foi semelhante, por vezes até superior ao de Marquez e Pedrosa, não há porque crer que no campeonato seja diferente. Para os observadores mais atentos ao que acontece nos boxes da Honda, impressiona a sintonia do britânico com os pilotos da fábrica. Nos testes Crutchlow sempre esteve perto do topo das tabelas de tempos, mas mais importante, com o ritmo consistente. As melhorias da RC213V devem ajudar o inglês a abordar seu pecado original, a tendência de queda. Com menos pressão para obter o máximo da zona de frenagem, Cal pode trabalhar mais com a aceleração e reduzir sensivelmente o seu número de 24 quedas na última temporada para uma cifra mais razoável. A sintonia de Cal Crutchlow com a equipe Repsol-Honda é replicada por Danilo Petrucci com a Ducati Corse.  

A perspectiva mais interessante de 2018 é, sem dúvida, Alex Rins. O espanhol teve um pesadelo ao começar a carreira de MotoGP, acidente no primeiro teste em Valência e outro em uma prova de motocross o tiraram de várias provas do início da temporada. Rins impressionou nos testes superando seu companheiro de equipe, o talentoso e instável Andrea Iannone.

As intenções de Jorge Lorenzo quando migrou para a Ducati eram vencer onde Rossi não conseguiu, ganhar corridas e lutar pelo campeonato. O primeiro semestre com a marca italiana foi decepcionante, com o espanhol lutando com a falta de sensibilidade da frente da moto.  Quando a Ducati mudou a carenagem em Brno, com um grande upgrade aerodinâmico com mais “downforce”, ele ficou mais confortável e o seu desempenho melhorou consideravelmente. Quase com certeza as vitórias virão este ano.

Aleix Espargaro está conformado com as dificuldades da Aprilia e seu novo motor. Se apresentar o torque necessário ele tem alguma chance, caso contrário só resta esperar. Seu companheiro de equipe, Scott Redding está ainda se ajustando para o papel de um piloto de fábrica. O inglês está sofrendo com seu estilo inapropriado para o equipamento, que exige uma capacidade insana de acionamento do freio na aproximação de curvas, combinada com a falta de aceleração causada pela combinação imprópria de falta de torque e sua compleição física.

Pol Espargaro vai ter mais um ano desenvolvendo a KTM, em parceria com o contestado Bradley Smith, que enfrenta uma temporada decisiva. Se falhar, perde o seu lugar entre os melhores pilotos do mundo.

Takaaki Nakagami foi o melhor rookie dos testes, favorecido com dispor de uma RC213V com a especificação mais recente. É um equipamento melhor que o utilizado por Franco Morbidelli na Marc VDS.

A MotoGP vive o seu melhor momento, nunca houve tantos candidatos ao título antes do início da temporada. A quantidade de talento no grid é da grelha é simplesmente absurda, treze campeões do mundo em várias classes. Motos de três, talvez quatro fábricas com plenas condições de vencer. A única desvantagem para tudo isso é que é quase impossível antecipar o resultado de cada corrida. É o preço que a mídia paga para cobrir uma temporada tão competitiva.