Todo o alto escalão da Honda esteve presente na última
prova da MotoGP em Valência, para assistir “in loco” o final da temporada de
2016. O mundial de pilotos já estava definido desde a prova de Motegi,
entretanto os campeonatos de construtores e de equipes ainda permaneciam em
aberto. A Honda liderava o de construtores, onde apenas a moto melhor
classificada conta pontos, com uma vantagem tranquila de vinte e um pontos (349
a 328), e tinha esperanças no campeonato por equipes (pontuam as duas motos da
equipe) onde estava com uma desvantagem de dez pontos (444 a 434).
A presença da direção da fábrica nipônica em Valência
atendia dois objetivos, prestigiar o último evento da MotoGP sob a direção de
Shuhei Nakamoto (que se aposenta) e lembrar aos condutores que a temporada
ainda não havia acabado. O mundial de pilotos, que tem grande apelo na mídia, é
considerado uma vitória pessoal, tanto assim é que as estatísticas individuais
não discriminam os veículos utilizados, as 114 vitórias de Valentino Rossi em
todas as classes no mundial de motos são distribuídas entre Aprilia (26), Honda
(33) e Yamaha (55).
O marketing das fábricas e dos patrocinadores explora os
resultados dos seus respectivos campeonatos. O regulamento do mundial de
fabricantes contempla as todas motos em disputa na pista e, neste caso, a
ousadia de Márquez na Austrália, que decidiu experimentar os limites da RC213V
e acabou caindo quando mantinha uma liderança folgada, foi compensada pela
vitória obtida por Cal Crutchlow (LCR). Para a equipe Repsol Honda o resultado
de Phillip Island foi desastroso, não contabilizou um único ponto (o substituto
de Dani Pedrosa, Nicky Hayden, foi o 17°) enquanto na mesma prova a Movistar
Yamaha somou 30 pontos. A história quase se repetiu na Malásia com nova queda
de Márquez, que recuperou a moto e ainda conseguiu a 11a colocação,
enquanto Hiroshi Aoyama não pontuou. Em Sepang a Movistar Yamaha conseguiu mais
36 pontos e a Repsol Honda apenas 5.
Esta sequência de maus resultados conjuntos acendeu um
sinal de alerta para a direção da Repsol Honda, que pretende dispor de um Plano
B para a temporada de 2017. A equipe entende a importância e o talento de
Hiroshi Aoyama como intérprete do comportamento e orientador de soluções para a
RC213V, e aceita suas limitações para ser piloto em uma prova. Livio Suppo,
gestor da HRC, gostaria de ter sempre Nicky Hayden disponível quando um dos
pilotos principais estiver impossibilitado, porém algumas datas de provas são
conflitantes com o calendário da WorldSBK, que é prioridade para o piloto. Ter
na reserva um talento com capacidade de substituir uma estrela é um problema
complicado, bons pilotos preferem competir sempre.
A desventura da Repsol Honda funcionou como um alerta
para todas as outras equipes de ponta, a Movistar Yamaha não utilizou nenhum
substituto em 2016, mas já teve problemas em anos anteriores. O manager da
equipe, Lin Jarvis, reconhece que é heresia pensar em um substituto que possa
competir em um nível semelhante ao dos pilotos da equipe oficial. A Movistar Yamaha
tem 12 profissionais com contratos de trabalho assinado para 2017, e pode
utilizar o recurso de um de uma equipe satélite se houver acordo
prévio. Não há como planejar estrategicamente um cenário futuro onde seja
possível ter um piloto super-rápido sem competir regularmente. O acordo de
cessão de equipamentos para a satélite Tech3 inclui a opção de requisitar, se
necessário, um de seus pilotos, porém a equipe tem inscritos provisoriamente os
novatos (na principal categoria) Johann Zarco e Jonas Folger. A Ducati, fábrica
com o maior número de motos inscritas para 2017, tem mais opções de escolha,
mas nenhuma delas com condições mínimas para substituir eventualmente Lorenzo
ou Dovizioso.
Os resultados obtidos por pilotos substitutos em 2016
foram preocupantes, Michele Pirro, que atuou em sete oportunidades, nas equipes
Ducati, Avintia e Pramac, sempre com motos da fábrica italiana, conseguiu como
melhores resultados um sétimo e um oitavo lugares, Hiroshi Aoyama comandou uma
Repsol Honda em duas oportunidades e conseguiu apenas um décimo quinto lugar, o
mesmo resultado obtido por Nicky Hayden conduzindo a RC213V uma vez para a
equipe oficial e outra para a satélite Marc VDS. Os outros que atuaram como
substitutos, Hector Barberá na Ducati, Mike Jones e Javier Fores na Avintia e
Alex Lowes na Tech3 estiveram sempre entre os últimos classificados.
Motovelocidade é um esporte de risco, acidentes
acontecem. A MotoGP é um campeonato que mobiliza fortunas, a escalada de custos
está ascendente, as tarifas de hospedagem de GPs envolvem altas cifras e o
crescimento salarial dos principais pilotos é uma realidade. Os números
divulgados do contrato que a Ducati assinou com Jorge Lorenzo são astronômicos,
as negociações de Marc Márquez com a Repsol Honda duraram uma eternidade mesmo
depois de fecharem todas as opções do piloto em outra equipe de ponta, muito
provavelmente por questões financeiras, quando assinado nenhuma das partes
vazou qualquer número. Substituir uma destas estrelas é um desafio formidável.
Carlos Alberto
Carlos Alberto
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