sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

WEC - Le Mans


Porsche 919 Hibrid
 
 
Competições internacionais de resistência existem desde a década de 50. O primeiro World Sportscar Championship foi disputado em 1953 e até os dias atuais sucederam-se diversas disputas com abrangência mundial, que alteravam nome e regulamentação para adequar-se às novas tecnologias e condições de mercado. A última grande mudança para campeonatos de resistência ocorreu em 2012 quando a FIA criou o World Endurance Championship (WEC), que estabelece um novo referencial para as corridas de longa duração. O WEC recebe o apoio de fabricantes tradicionais, incluindo Aston Martin, Audi, Corvette, Ferrari, Nissan, Porsche e Toyota, e tem etapas programadas na Itália (Monza), UK (Silverstone), Bélgica (Spa-Francorchamps), França (Le Mans), Alemanha (Nurburgring), México (Hermanos Rodriguez), USA (Circuito das Américas), Japão (Fuji), China (Shanghai) e Bahrain. Todas as provas, à exceção das 24 Horas de Le Mans, serão realizadas com 6 horas de duração.

Os protótipos que disputam o WEC são carros de cockpit aberto ou fechado, sem exigência de um número mínimo de produção, desenvolvidos especialmente para as 24 Horas de Le Mans e utilizados em provas da ELMS (European Le Mans Series) e IMSA (International Motor Sports Association, principal organização de competições de carros esportivos na América do Norte).

Os equipamentos são preparados para competições em pista, divididos em quatro categorias: LMP1 (Le Mans Prototype 1), LMP2, GTE PRO (Grand Touring Endurance) e GTE-AM.A categoria LMP1 é reservada exclusivamente para equipes privadas, independentes, que não utilizam qualquer apoio do fabricante além do fornecimento do motor e serviços relacionados, a LMP2 é exclusiva para equipes sem relações com fabricantes e/ou fornecedores de motores. A classe GTE especifica carros de duas portas, dois ou quatro lugares, em condições de serem utilizados legalmente no tráfego em estradas e disponíveis para venda em redes de concessionários de uma fábrica credenciada pelo Comitê de Endurance. Esta categoria inclui dois grupos, um destinado para pilotos profissionais (LMGTE-PRO) e outro para diletantes (LMGTE-AM).

A principal prova do calendário da WEC são as 24 Horas de Le Mans, disputada desde 1923 com exceção do ano de 1936, em função de uma greve, e entre 1940 e 1948 devido à guerra e seus desdobramentos. É a mais tradicional prova automobilística de resistência disputada no mundo. A corrida é realizada no circuito de Sarthe, traçado semipermanente composto de parte do circuito Bugatti (onde são disputadas as provas de MotoGP) e estradas locais, bloqueadas para o trânsito durante a realização do evento.

O traçado tem uma extensão de 13650 metros e inclui uma reta de 5 km onde os protótipos mantém velocidades acima de 300 km/h durante um longo tempo. Esta porção do circuito foi dividida em três trechos pela instalação de duas chicanes em 1990, medida necessária porque alguns protótipos, com carga aerodinâmica reduzida para alcançar velocidades maiores, apresentavam tendência de levantar voo nesse trecho, situação agravada pelas pressões muito intensas dos pneus nestas condições e pela presença dos carros de GTE, que rodam entre 100 a 150 km/h mais lentos. A prova é realizada com o acelerador a pleno em 85% do tempo, as exigências sobre os componentes do motor e transmissão são brutais.

Em 1955 Le Mans foi palco de um acidente que resultou em mais de 77 fatalidades (até hoje não há consenso sobre um número exato). Na época as condições de segurança eram outras, os pilotos não utilizavam cintos de segurança por medo de ficarem presos a carros em chamas e os boxes eram separados da pista por uma faixa pintada no asfalto. Havia naquele ano muita expectativa para o desempenho dos carros Jaguar, Ferrari e Mercedes. Um dos inscritos na prova era Pierre Levegh, um francês de 50 anos que em 1952 havia conduzido um Talbot por 22 horas seguidas, e estava em primeiro na classificação geral quando o motor do carro quebrou.

Por volta da terceira hora da prova o Jaguar então líder da prova, pilotado por Mike Hawthorn, era seguido por duas Mercedes, de Levegh e Juan Manuel Fangio. Ao ser chamado para reabastecimento, Hawthorn ultrapassou um Austin-Healey retardatário perto da entrada do pitlane e reduziu a velocidade rapidamente para entrar nos boxes, os carros da Jaguar eram os únicos da pista equipados com freio a disco, muito mais eficientes que todos os outros. Para evitar uma colisão, o Austin-Healey desviou freando para o centro da pista e foi atingido por Levegh. O francês não conseguiu evitar o choque, a roda dianteira esquerda bateu na traseira do Austin-Healey, a Mercedes alçou voo e capotou várias vezes sobre fardos de feno que delimitavam a pista, desintegrando-se no processo. Partes da carroceria e o motor atingiram os espectadores, muitos foram decapitados pelo capô que se desprendeu e voou contra a multidão. Fragmentos da carroceria, moldados em magnésio, entraram em combustão, o metal é altamente inflamável e suas chamas não se extingue com água.

Apesar da gravidade do acidente e do caos estabelecido no local, a direção não interrompeu a prova, alegando que o movimento de saída do público poderia prejudicar o deslocamento dos carros de socorro. A equipe Mercedes retirou-se da prova em respeito aos mortos, cedendo a vitória para a Jaguar. A Mercedes posteriormente abandonou o automobilismo esportivo, só retornando como fornecedora de motores em 1989.  Como consequência deste acidente provas de velocidade foram proibidas na Suíça. França, Espanha e Alemanha ensaiaram decisões semelhantes, que foram posteriormente revogadas.

Le Mans também reservou uma tragédia para os brasileiros, em 1963 o piloto Christian Heins faleceu disputando as 24 horas. Heins pilotava um Alpine, um carro cujo projeto clonado era produzido no Brasil com o nome de Willys Interlagos. Na sexta hora da competição, Christian liderava em sua categoria e era terceiro na geral quando o motor do carro de Bruce McLaren estourou e derramou muito óleo na pista. O neozelandês tentou sinalizar aos demais competidores do perigo no local, onde os carros passavam a mais de 200 Km/h. Três competidores rodaram no óleo e saíram da pista, o quarto, Jean Pierre Manzon, não conseguiu evitar e bateu forte, foi projetado para fora do carro e seu corpo ficou estirado na pista. O Alpine conduzido pelo brasileiro que vinha a seguir desviou do corpo no asfalto, mas perdeu o controle e chocou-se com um poste, seu carro explodiu em chamas. Christian Heins, aos 28 anos de idade, morreu instantaneamente.

A edição deste ano das 24 Horas de Le Mans apresentou um final eletrizante, a 11 minutos do final o Porsche número 2, que liderava a prova, foi obrigado a realizar uma parada não programada nos boxes para a troca dos quatro pneus e foi ultrapassado pelo Toyota número 5. Eram os únicos carros que estavam na mesma volta. Faltando pouco mais de 6 minutos o Toyota reportou uma perda severa de potência e a 4 minutos para esgotar as 24 horas a diferença entre os carros estava reduzida a 38 segundos e caindo rápidamente. A Toyota tinha de decidir se mantinha o carro na pista para chegar em segundo ou recolhia aos boxes, optou por continuar na prova e o piloto estacionou logo depois da linha de chegada, para tentar completar o circuito depois do relógio marcar o encerramento da prova. Entretanto as condições do carro estavam muito deterioradas e o Toyota cruzou a linha de chegada 11 minutos e cinquenta e três segundos depois da bandeirada final. Este gap excede o tempo máximo permitido pelo regulamento, que limita a classificação aos equipamentos que passarem pela linha final até 6 minutos depois da bandeirada para o líder, o carro número 5 foi desclassificado e o segundo lugar foi atribuído ao seu companheiro de equipe, que estava com três voltas de atraso.

Na prova deste ano o Brasil foi representado na classe LMP1 pelos pilotos Lucas de Grassi (terceiro na classificação geral) e Nelson Piquet Jr., na LMP2 por Oswaldo Negri Jr., Bruno Senna e Pipo Derani e por Fernando Rees na LMGTE.

Carlos Alberto

 

 

 

 

 

 

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