Com sete etapas realizadas, a “Temporada Maluca” anunciada por Lin Jarvis, Diretor Geral da Yamaha Racing Team, está se transformando em uma “Temporada Estranha”. As contratações dos pilotos das principais equipes para o próximo biênio já aconteceram, a cizânia estabelecida nos boxes da Yamaha ajuda a justificar a opção do campeão do mundo pela Ducati. Ainda sobram assentos para 2017, mas o quarteto fantástico (Rossi, Lorenzo, Márquez & Pedrosa) e o garoto de ouro (Vinales) já foram confirmados, portanto novas especulações já não agitam tanto o mercado. O ambiente pesado do pit lane criado pelas acusações de Rossi nos últimos GPs de 2015 aparenta estar controlada e, entendendo como comum o comportamento sisudo de Lorenzo, aos poucos a normalidade está sendo reestabelecida.
As profundas alterações nas motos, resultantes da massiva troca de especificações nos Regulamentos para 2016 e os anos que seguem estão sendo assimiladas. Desde o GP da Itália (5a etapa) a Michelin não é citada como protagonista, ou seja, os atuais compostos estão adequados (ou quase) para a MotoGP e a agitação que ocorreu antes, durante e depois dos GPs da Argentina e EUA foi aceita como um inevitável período de transição. O software unificado está sendo digerido pelas equipes, algumas com mais dificuldades porque não podem ajustar os motores para complementar/compensar o controle eletrônico.
Se as abóboras estão se acomodando no andar da carroça, por que Temporada Estranha? Afinal, os resultados das primeiras sete etapas não apresentaram nenhuma grande surpresa, as Ducati ameaçarem nas primeiras provas já tinha ocorrido na temporada passada, o monopólio de vitórias ficar restrito aos pilotos das equipes oficiais da Yamaha e Honda também, afinal o que está fora do padrão?
Problemas mecânicos e quedas.
Parodiando um político tupiniquim, nunca antes na história da MotoGP houve um número tão grande de abandonos por pilotos de elite como nesta temporada. Nas sete primeiras etapas de 2016 o atual líder do campeonato, Marc Márquez, caiu uma vez (recuperou a moto, voltou para a prova e conseguiu a décima terceira colocação na França), o segundo colocado Jorge Lorenzo não completou as provas da Argentina e Catalunha, e o terceiro, Valentino Rossi, caiu nos EUA e sofreu um problema mecânico na Itália. Dani Pedrosa, o quarto na classificação geral caiu nos EUA e Maverick Vinales, o quinto, acidentou-se na Argentina. O expressivo número de abandonos de Marc Márquez em 2015, seis ao todo, tem tudo para ser ultrapassado por Andrea Iannone, que já sofreu quatro quedas em sete provas.
Os protótipos da MotoGP estão no estado da arte da tecnologia e tem um custo astronômico. A equipe de apoio da Yamaha em cada GP mobiliza 22 pessoas da corporação, 17 na administração da equipe em campo, 9 exclusivamente para a moto de Lorenzo e igual número para a de Valentino (www.yamahamotogp.com). Estes números não contemplam o pessoal que lida especificamente com pneus, que são gerenciados pela Michelin. Com todo este aparato de apoio é desconcertante que um equipamento apresente problemas mecânicos, entretanto a Yamaha perdeu dois motores no GP da Itália, um da moto do campeão do mundo durante o último treino livre e outro no transcorrer da prova, tirando Rossi da disputa. Na corrida da Catalunha Lorenzo apresentou uma intrigante perda de rendimento, caindo da liderança para a quinta colocação, antes de se envolver em um acidente.
Se na Yamaha as coisas estão complicadas, o que acontece na Honda é inexplicável considerando a ancestral disciplina e sabedoria japonesa. A fábrica, seguramente a que mais dispõe de recursos físicos, pessoais e financeiros, não previu as dificuldades de adequação com o pacote eletrônico e, com os motores lacrados, nesta temporada não sobrou muito para ser trabalhado. Argumentar que Marc Márquez lidera o campeonato não é suficiente, as dificuldades encontradas por Dani Pedrosa (equipe oficial) e Cal Crutchlow (satélite LCR) espelham melhor as atuais condições da RC213V, Miller e Rabat (satélite Estrella Galicia), as duas outras Honda, estão sempre muito atrás.
Yamaha e Honda utilizavam muito o software na temporada para compensar limitações mecânicas, com recursos infinitas vezes mais sofisticados que o pacote eletrônico da Magneti Marelli. A utilização compulsória da ECU padrão para estas fábricas foi basicamente uma involução. Aprilia, Suzuki e Ducati não eram tão dependentes e mostraram uma transição mais tranquila, porém ainda não comprovaram competência para disputar o topo da tabela com Yamaha e Honda
No último GP (Catalunha), uma reunião de rotina entre pilotos e organizadores que ocorreu depois do trágico acidente com um piloto da Moto2 decidiu pela alteração do traçado da pista. Jorge Lorenzo e Valentino Rossi, que não compareceram, questionaram as razões da mudança argumentando que, por estarem no topo da tabela e pilotarem para uma equipe de fábrica deveriam ter sido consultados. Foram solenemente ignorados pela organização da prova e pelos outros pilotos. Exposição na mídia, equipe de ponta, salário e pontos no campeonato não resultam mais em ascendência sobre os outros participantes do grid.