quarta-feira, 1 de junho de 2016

IoM – Isle of Man TT (2016)


 
Guy Martin & Jenny Tinmouth
 
A Ilha de Man é formalmente uma dependência direta da Coroa Britânica, situa-se no mar da Irlanda, tem autonomia administrativa e parlamento próprio. Com 572 km2 e topologia razoavelmente plana, seu ponto mais elevado é o monte Snaefell, localizado ao norte, com 621 metros de altura. A ilha tem uma população de pouco mais de 80 mil habitantes e não é considerada um país soberano, não participa da Comunidade Britânica e não tem representação própria na União Europeia. Uma de suas características únicas é que não existe, na legislação local, limite para velocidade nos 1.107 km de rodovias públicas, que são totalmente pavimentadas.
Durante duas incríveis semanas no início do verão no hemisfério norte gerações de homens e mulheres fazem uma peregrinação até a ilha de Man para competir contra si próprios e contra uma pista que há mais de um século é respeitada internacionalmente como sinônimo de velocidade e glória. Nos primeiros anos do século anterior, quando a velocidade máxima e estradas inglesas era apenas 35 Km/h e corridas estritamente proibidas, um grupo de entusiastas com o objetivo de testar seus próprios limites de velocidade e resistência sobre motos convergiu para a Ilha de Man e, em 1907, nasceu o Isle of Man TT (Tourist Trophy). A primeira corrida foi realizada no dia 28 de maio daquele ano, uma volta em um traçado chamado de St John’s, 15 milhas e 1.470 jardas de rodovias públicas, exclusivo para motos “touring” normais com todos os seus acessórios, silenciadores, assentos, pedais e guarda lama.
O traçado atual utilizado pela prova é o Circuito da Montanha (Snaefell), 37,73 milhas ou 60,72 km incluindo rodovias fechadas para o público e trechos urbanos. Não existe nenhuma outra prova de motos realizada em uma pista tão desafiadora, que mescla trechos de montanha com uma série de curvas e vias urbanas com desníveis e tampas de esgoto, ladeados por muros de pedra e postes de distribuição de eletricidade e telegrafia.
Este ano a programação do Isle of Man TT iniciou no último sábado, dia 28 de maio e o evento final está programado para 10 de junho, são duas semanas de testes, qualificações e provas. Nenhum outro evento esportivo tem uma duração tão longa. As corridas são realizadas no formato “contra o relógio” e divididas em categorias de acordo com as especificações da moto. Cada prova consiste em um determinado número de voltas no circuito, as mais potentes percorrem distâncias maiores, as classes Senior TT e SuperBike TT perto de 360 km (seis voltas),  SuperSport TT, SuperStock TT  e Lightweight TT 242 km (quatro voltas), SideCar TT 180 km (três voltas) e TT Zero 60 km (uma volta). Apenas para efeitos de comparação, uma prova da MotoGP percorre entre 95 km e 130 km.
Um indicativo da insanidade do Isle of Man TT pode ser obtido comparando as velocidades médias alcançadas com outras competições. Andrea Iannone, com uma Ducati GP15, registrou a melhor volta no moderno e seguro circuito de Mugello na última prova da MotoGP com a velocidade média de 175,3 km/h, o recorde do Traçado da Montanha pertence a John McGuinness que, em 2015 com uma Honda CBR1000RR, percorreu as 37,73 milhas em 17 minutos e 03.567 segundos, com uma média alucinante de 213,54 km/h. Óbvio que as condições dos traçados são diferentes, a concepção das rodovias e trechos urbanos utilizados pelo Circuito da Montanha contempla longas retas e considerou condições de tráfego seguro para automóveis, sem trechos muito sinuosos como os existentes nas pistas da MotoGP, ainda assim os números impressionam. 
Um circuito tão longo é um pesadelo para os responsáveis pela segurança dos pilotos e do público. Embora algum recurso como barreiras de contenção e fardos de feno sejam utilizados em partes críticas, a regra é não existir áreas de escape e em alguns trechos há muros de pedra ou construções muito próximas a pista. Não há como manter os espectadores afastados e o atendimento a um piloto acidentado pode demorar. A Isle of Man TT é uma disputa esportiva com alto grau de risco, estatísticas atualizadas até 2015 indicam mais de 270 fatalidades ocorridas nos 104 anos de competições (não houve corridas durante a guerra), contabilizando pilotos, pessoal de apoio e espectadores.
 

 

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